Crianças da zona sul correm riscos para chegar à escola

Além da distância, os estudantes têm de passar por uma trilha abandonada e cercada de mato

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Por Agencia Estado
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Caminhar até dois quilômetros para chegar à escola faz parte do dia-a-dia de centenas de estudantes que vivem no Balneário São José, zona sul. Eles acordam cedo e passam por uma maratona antes de chegar à sala de aula, porque não existe uma unidade de ensino médio ou fundamental na região. O esforço também é grande para os pais que acompanham os filhos pelo trajeto. Além da distância, os estudantes têm de passar por uma trilha abandonada e cercada de mato. Os pais se preocupam com a travessia da movimentada Avenida Teotônio Vilela. Perto do Balneário, não existem passarelas de pedestres, o que obriga os alunos a se arriscarem entre veículos em alta velocidade. Para não deixar sozinha a filha Beatriz Santana do Carmo, de oito anos, a dona de casa Maria Vaneide Batista Santana, de 39, leva e busca a menina todos os dias. "É um sacrifício porque, além de cansativo, preciso parar de cozinhar e cuidar da casa para pegá-la na escola", reclama Maria sobre o trajeto até a Escola Estadual Jorge Saraiva, onde a filha cursa a 2ª série. Mesmo depois de concluir a 4ª série do 1º grau, a dificuldade de Beatriz e dos outros alunos não diminuirá. Ao contrário, aumentará mais um quilômetro. É o caso de Nilson, de 12 anos, que está na 6ª série da Escola Estadual Paulino Nunes Esposo. Ele anda diariamente seis quilômetros para ir à escola e voltar. "Gostaria de estudar perto de casa porque já chego na aula cansado", conta Nilson. A mãe do menino, Leni Pereira Leite, de 45 anos, concorda. Além da distância, ela teme pela vida do filho durante a caminhada. "Fico com o coração na mão. Além de medo da violência, ele corre o risco de ser atropelado. Só fico tranqüila quando ele chega em casa." Secretaria nega pedido de transporte A indignação é ainda maior porque, há pouco mais de dez anos, havia planos para a construção de uma escola no bairro. No terreno, ainda sem ocupação, está fincada uma placa do Governo do Estado. Mas, em vez de salas de aula, o espaço foi ocupado por plantações, mato e até caminhões de uma distribuidora de refrigerantes. O morador José Manoel de Lima, de 39 anos, sonha em ver uma instituição de ensino perto de sua casa. "É um pecado fazer as crianças acordarem cedo para andar tanto. E quem estuda à noite, fica com medo de ir para a escola", observa. A dirigente regional de ensino Sul-3, Vera Ilse Siqueira Alves Pedroso, de 51 anos, explica que o terreno é particular e ainda está em processo de negociação de compra entre o Estado e o proprietário. Ela garante que há intenção de fazer uma escola no local, mas diz que a Secretaria Estadual de Educação ainda não recebeu nenhum pedido dos moradores para implantar o transporte escolar no bairro. "Ainda não levantaram esse problema."

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