Brasil foi o país que fechou escolas por mais tempo na pandemia, aponta levantamento

Em 2020, suspensão de atividades presenciais no País durou 178 dias; interrupção na aprendizagem pode ter impacto a longo prazo

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Por Julia Marques
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O Brasil foi o país que mais tempo manteve fechados os colégios para as crianças mais novas durante a pandemia em 2020. É o que mostra um relatório da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta quinta-feira, 16. Foram 178 dias sem aulas presenciais na pré-escola e anos iniciais do ensino fundamental no ano passado, o triplo de tempo na comparação com a média dos países mais ricos.

O estudo da OCDE aponta que entre janeiro de 2020 e maio de 2021, escolas foram fechadas para pelo menos uma parte dos alunos em todos os países que participaram da pesquisa. O fechamento dos colégios foi uma das medidas para tentar evitar a propagação da covid-19. No entanto, conforme mostra o relatório, os países que mantiveram colégios fechados em 2020 tenderam a reabrir as escolas para as crianças mais novas no ano seguinte.

Professora explica aos alunos os perigos da pandemia e os cuidados necessários para evitar infecções pelo novo coronavírus. Foto: Werther Santana

“Em 2021, as pré-escolas eram muito menos propensas a fechar em quase todos os países da OCDE e países parceiros”, apontou o estudo. “Em cerca de metade dos países com dados, as pré-escolas foram fechadas por dez dias ou menos entre janeiro e maio de 2021, incluindo países como Costa Rica ou Irlanda, onde a taxa de fechamento de escolas ficou entre as mais altas em 2020.”

O relatório não traz dados sobre fechamento das escolas no Brasil em 2021, mas levantamentos já realizados com Estados brasileiros mostraram que, durante a segunda onda da covid-19, em abril deste ano, boa parte das escolas públicas voltou a suspender atividades presenciais e só retomou as aulas no segundo semestre de 2021.

Em 2020, na média dos países da OCDE, as escolas pré-primárias (pré-escola) ficaram completamente fechadas por 44 dias; já as de nível primário (anos inicias do fundamental), foram fechadas durante 58 dias. Segundo a OCDE, no relatório Education at a Glance 2021, as interrupções do aprendizado podem significar riscos para "o bem-estar econômico e social de pessoas de todas as idades”.

O relatório destaca que os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, principalmente as mais vulneráveis e que criar estratégias eficazes de aprendizagem remota é especialmente difícil para crianças pequenas. "Sempre que possível, as escolas devem permanecer abertas, com medidas de saúde adequadas que minimizam os riscos para alunos, funcionários e o restante da população", aponta o estudo.

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O levantamento também mostra que os países com os piores desempenhos no Pisa, avaliação internacional realizada em 2018, foram justamente os que mantiveram as escolas por mais tempo fechadas, a exemplo do Brasil. Ou seja, sistemas educacionais com baixa performance perderam mais oportunidades de aulas presenciais em 2020 do que os que já tinham alto desempenho. Tal situação deve aprofundar ainda mais o abismo educacional entre os estudantes. 

O relatório destaca ainda que os países tiveram de tomar decisões difíceis sobre a melhor forma de gerenciar seus recursos para garantir a aprendizagem. Antes da pandemia, em 2018, o gasto público total em escolas no Brasil atingiu 4% do Produto Interno Bruto (PIB), superior à média da OCDE, de 3,2%.

Segundo o estudo, cerca de dois terços dos países da OCDE e nações parceiras relataram aumento no financiamento das escolas para ajudar a enfrentar a crise sanitária em 2020. “Em comparação com o ano anterior, o Brasil não relatou nenhuma mudança no orçamento de educação para o ensino fundamental em 2020 e 2021”, destacou o relatório. O País investiu em 2018 um total de 3.256 dólares por estudante - na média da OCDE, o investimento é de 10 mil dólares.

“Igualdade de oportunidades é um ingrediente chave para uma sociedade democrática forte e coesa. Diferentemente de políticas que podem combater as consequências, a educação pode atacar as raízes da desigualdade de oportunidades", disse nesta quinta-feira, 16, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann. "Reforçar investimentos em uma educação melhor e mais relevante será fundamental para ajudar os países a oferecer prosperidade social e econômica de longo prazo", completou ele, durante o lançamento do relatório em Paris.

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