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Coquetel molotov foi 'armação' da PM, afirma estudante

Alunos detidos na USP acusam Tropa de Choque de agressão; grupo enfrenta policiais em DP

Por Carlos Lordelo
Atualização:

   O estudante de Letras Rafael Alves, de 26 anos, um dos 72 detidos esta manhã na operação da PM que retirou invasores da reitoria da USP, negou que os alunos tivessem preparado sete bombas incendiárias, como denunciou a polícia. “Isso foi plantado”, reagiu, rindo, enquanto aguardava liberação no 91.º Distrito Policial, no Jaguaré, zona oeste.“Ninguém é louco de jogar coquetel molotov dentro do prédio”, disse Rafael, que afirmou ter tido o ombro deslocado por homens da Tropa de Choque na desocupação. “Isso não faz nenhum sentido.”A polícia afirmou ainda ter encontrado um galão com 5 litros de gasolina. “O que tinha lá dentro era diesel”, garantiu Rafael, que esperava liberação com um grupo de 30 alunos – todos os detidos tiveram as fianças pagas. Segundo ele, o combustível seria usado para alimentar o gerador do prédio durante os cortes de fornecimento determinados pela reitoria.

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O estudante confirmou, porém, que havia morteiros no prédio, como denunciou a PM. Disse que os fogos seriam usados como alerta quando a PM chegasse. “A culpa de tudo o que aconteceu é do reitor, que pediu a reintegração de posse”, criticou. “É mais um capítulo da política brutal e repressiva na USP.”

Com um curativo grosseiro no supercílio esquerdo, Michel de Castro, de 25 anos, também aluno de Letras, acusou a PM de truculência. Disse que fazia uma manifestação fora da reitoria, foi arrastado por policiais para dentro do prédio e empurrado: com isso, bateu a cabeça no escudo de um PM.

Michel disse que pediu na delegacia para ser atendido e receber um curativo “decente”, mas não foi atendido. Ele afirmou ter ouvido de uma escrivã: “O mais próximo de um hospital que tem por aqui é o IML. E você não está morto ainda.” Investigadores do DP negaram a acusação.

Diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) Diana Assunção, que estava na reitoria, disse que a PM separou as mulheres no prédio numa sala. No local, homens sem farda nem identificação colocaram câmeras ostensivamente no rosto delas para filmá-las, de forma agressiva. “Caiu a máscara do convênio entre USP e PM. A ditadura ainda vive na universidade.”

Uma aluna disse que a PM quebrou sua máquina digital para tirar o cartão de memória. E outro estudante disse que, enquanto esperavam no saguão principal, ele e colegas ouviram barulhos de portas arrebentadas e vidros quebrados, dando a entender que a PM montou um cenário de destruição para incriminar os universitários. O Estadão.edu não localizou porta-vozes da PM para comentar as denúncias.

Enquanto os detidos davam entrevistas, do lado de fora do 91.º DP o clima ficou tenso pouco antes das 22 horas. Policiais empurraram um advogado e o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) Magno de Carvalho para fora da área segregada por um cordão de isolamento. Alunos que desde o início da tarde se concentravam diante do DP para cobrar a libertação dos colegas enfrentaram os policiais, que usaram seus escudos. Uma garota se feriu, enquanto os demais gritavam “Abaixo a Repressão” e “Greve Geral”.

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