Concurseiros devem manter foco e estudo à espera do próximo edital

Quem seguir se dedicando leva vantagem quando provas voltarem: pelo preparo e pelos concorrentes que desistem

PUBLICIDADE

Por Ocimara Balmant
Atualização:

Nem é preciso muito para que o concurseiro profissional perceba que o tempo da bonança de editais acabou. Aquela olhadinha rápida nos sites de concursos mostra que a lista está, por enquanto, cada vez mais curta. E não é porque os cargos estejam todos preenchidos, mas resultado da crise econômica que o País enfrenta.

PUBLICIDADE

Tanto que o projeto de renegociação das dívidas dos Estados (PLP 257), encaminhado pelo executivo federal em março, previa que nem a União nem os Estados deveriam contratar servidores pelos próximos dois anos. Depois de muita negociação com governadores, o texto foi alterado e não consta mais o veto à contratação. No entanto, manteve-se o teto para o aumento de gastos dos Estados: as despesas só poderão subir de acordo com a inflação do ano anterior. Na prática, portanto, mesmo liberados os concursos devem rarear. Contratar mais gente, afinal, faz crescer os gastos.

Nesse cenário, afirmam os especialistas, é preciso que os concurseiros mantenham o foco e o planejamento a médio e longo prazo. “A máquina não funciona se não contratar, e, no Brasil, a única forma de contratar é concursar. Então, mesmo que seja em ritmo lento, as vagas serão abertas”, afirma Marco Antonio Araujo Junior, diretor do curso Damásio. 

Parar até que volte a fartura de editais pode pôr em risco anos de estudo. Até por estratégia, a hora é de perseverar: quanto mais tempo sem concursos, mais gente abandona as apostilas, e só os insistentes estarão preparados para quando abrir o edital. “A máquina pública não pode parar, até porque há metas que precisam ser alcançadas. Quem estiver atento vai surfar a onda da bonança”, diz Nestor Távora, coordenador da LFG. Além disso, algumas provas continuarão a surgir. Segundo Távora, nas carreiras em que a dotação orçamentária é própria, como as da área jurídica, os editais não desaparecerão por completo. 

O professor lembra, ainda, que o tempo médio de estudo para as áreas jurídicas é de seis meses a seis anos, de acordo com a complexidade da prova. Logo, estudar sem ter um edital aberto precisa ser rotina na vida do concurseiro. “Quando o edital é aberto, são dois meses até a prova, tempo apenas para a revisão das matérias. O grosso do conteúdo tem de ser estudado antes, a partir do edital do concurso anterior.” 

Caroline Goto, de 24 anos, quer aproveitar a “seca de concursos” para mergulhar em editais anteriores, enquanto não tem os três anos de prática exigidos para tentar Magistratura. “Se ficar muito tempo sem concurso, precisam de mais gente. Podem surgir mais vagas quando eu estiver apta.” 

Persistência. Carina Satin estuda e faz concursos públicos há dois anos Foto: Rafael Arbex/Estadão

‘Concurso trampolim’. O problema, muitas vezes, é manter o foco quando o dinheiro começa a acabar e a dedicação total ao estudo fica inviável. “Vida de concurseiro é cara. Só no ano passado, foram cerca de R$ 10 mil de curso e R$ 5 mil de livros”, conta Carina Satin, de 32 anos, que há dois anos deixou o trabalho como advogada para se dedicar aos concursos, principalmente os da Procuradoria. “Não teve jeito: no mês passado voltei ao escritório porque o bolso não aguentou.” Nesse caso, a dica é conciliar um trabalho em meio período.

Publicidade

Outro caminho é flexibilizar a busca. Vale apostar também no conhecido “concurso trampolim”, aquele um pouco mais fácil de conseguir a aprovação. Foi o que fez Elton Fernando Rossini Machado, de 34 anos. Desde 2005, ele começou a estudar para concursos da Magistratura e Ministério Público. Após quatro anos grudado nas apostilas, abriu o leque. Acabou aprovado como analista de promotoria, mas segue estudando. “Mantenho meu ritmo. O sumiço dos editais dá um baque, mas não tem muito que fazer: ou estuda ou estuda.” 

O fato é que, na crise, emprego no setor privado está difícil, mas cargo público é cada vez mais um projeto para quem acredita que estabilidade, bom salário e progressão de carreira valem toda a resistência.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.