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Comissão da Câmara denuncia irregularidades em contratos do MEC

Ao menos cinco contratos firmados no âmbito do Ministério da Educação, relacionados ao enfrentamento à pandemia de covid-19, estão sendo investigados

Por Breno Pires
Atualização:

BRASÍLIA - Um grupo de deputados federais protocolou no  Tribunal de Contas da União (TCU), nesta sexta-feira, pedido de investigação sobre indícios de irregularidades em ao menos cinco contratos firmados no âmbito do Ministério da Educação, relacionados ao enfrentamento à pandemia de covid-19. A denúncia foi feita pela Comissão Externa de Acompanhamento do MEC após um pente-fino em 101 contratos deste ano. As contratações suspeitas, somadas, têm valores de R$ 7,3 milhões.

Assinado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) por R$ 1,336 milhão, um dos contratos foi para a aquisição de luvas, máscaras, álcool e outros itens, em caráter emergencial. Um fornecedor contratado é investigado em ação popular por suspeita de superfaturamento na venda de máscaras cirúrgicas para a prefeitura de Guarulhos, em São Paulo, e também é alvo de denúncias de valor cobrado a mais no fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual a um hospital do Rio de Janeiro.

Tribunal de Contas da União (TCU) Foto: Dida Sampaio/ Estadão

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Ligada diretamente ao MEC, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares é presidida pelo general da reserva Oswaldo de Jesus Ferreira. O general foi uma espécie de consultor do presidente Jair Bolsonaro para a área de infraestrutura, na campanha de 2018, e quase acabou nomeado ministro da pasta.

Outra contratação suspeita, de acordo com o relatório da comissão externa da Câmara, foi feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no valor de R$ 5,1 milhões. Após fazer um cruzamento entre informações de compras da administração pública federal, a comissão apontou que a universidade pagou valores até quatro vezes acima da média pelo fornecimento de 4 milhões de luvas de látex.

Além disso, outras duas contratações em análise foram feitas pelo Hospital Universitário do Pará, nos valores de R$ 340 mil e R$ 420 mil, e pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR), no montante de R$ 114.151,15. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, esteve no domingo na nova sede do IFPR, em Londrina.

Segundo o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), ogrupo de parlamentares ainda deve enviar as informações pedindo investigação ao Ministério Público. “A gente fez uma série de verificações sobre contratos e realmente tem indícios de fraudes. Percebemos em todos os contratos uma disparidade grande nos preços e isso assustou, inclusive, com possíveis irregularidades de fornecedores. Isso é perfeitamente evitável com controle interno, mas me parece que esse controle interno não foi feito pelo ministério”, afirmou Rigoni.

Também assinam a denúncia os deputados federais Aliel Machado (PSB-PR), Eduardo Bismarck (PDT-CE), Israel Batista (PV-DF), João Campos (PSB-PE), Tiago Mitraud (Novo-MG) e Tabata Amaral (PDT-SP). “É inadmissível que recursos sejam desviados ou superfaturados e isso é ainda mais desumano diante de uma crise de saúde sem precedentes. Vamos cobrar celeridade nessa investigação”, disse Tabata.

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RESPOSTAS

O MEC informou ao Estadão que acompanha o andamento da apuração das denúncias, mas ressalvou que as entidades mencionadas têm autonomia para gerenciar licitações e contratos. “Os processos e tomada de decisão dos gestores são de responsabilidade de cada instituição”, destacou o ministério.

A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares disse que a contratação de R$ 1,336 milhão foi feita por uma unidade hospitalar vinculada, o Hospital Universitário Gafrée e Guinle (HUGG), e que tanto esse contrato como os outros dois, assinados pelo Hospital Universitário do Pará, estão sendo analisados. “No caso do HUGG, a Ebserh já atuou para renegociar o valor pendente de pagamento, que foi reduzido. Os contratos do Pará ainda estão em fase preliminar de análise”.

A empresa observou que se trata de compras locais, realizadas pelas unidades hospitalares, e não pela administração central. De acordo com a Ebserh, cada uma dessas unidades possui um colegiado executivo responsável pela aprovação das contratações destinadas ao suprimento logístico do hospital.

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“É importante destacar que cada caso precisa ser avaliado de forma específica, dentro de uma variação de preços que ocorreu, em alguns momentos de forma diária, durante a pandemia, a depender da disponibilidade dos produtos no mercado. A comparação não deve ser somente baseada em preços pré-pandemia ou com unidades privadas que têm outros processos de compra ou mesmo em datas em que o mercado esteve melhor abastecido. Cada localidade sofreu um impacto da pandemia de forma distinta e em tempos diversos”, argumentou a empresa, em nota.

A UFRJ afirmou, por sua vez, que a contratação não foi concretizada. "A compra referida de luvas na Dispensa de Licitação (DL) nº 39/2020 foi anulada em abril diante da constatação pela UFRJ da prática de sobrepreço e a empresa foi comunicada em 21/4/2020. A irregularidade foi detectada ainda na fase de instrução processual e anulados os empenhos. Ou seja, a compra não foi consumada e não foram realizados quaisquer pagamentos”, informou a universidade.

Educação Especial. Além da denúncia ao TCU, deputados da comissão externa da Câmara protocolaram na Câmara, nexta sexta-feira, 2, um projeto de decreto legislativo para revogar a Política Nacional de Educação Especial, lançada pelo governo nesta quinta.

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Como mostrou o Estadão, a nova política incentiva que haja salas e escolas especiais para crianças com deficiências e transtornos globais do desenvolvimento, a exemplo do autismo e da superdotação. O documento está sendo considerado um retrocesso nas políticas de inclusão no País e discriminatório, porque abriria brechas para que as escolas passassem a não aceitar alunos com essas características.

“Não pode nem chamar uma política de educação especial. Vai totalmente contra as convenções internacionais sobre educação a pessoas com deficiência. Nunca vi uma política prever capacitação de professor de escola privada e não prever para escola pública”, criticou o deputado Rigoni.

Para o MEC, a Política Nacional de Educação Especial "amplia a área da educação especial” eoferece aos sistemas educacionais “possibilidades de criar alternativas educacionais além das escolas comuns inclusivas".

Segundo o ministério, "um dos princípios fundamentais é o direito do estudante e da família na escolha da alternativa mais adequada para a educação do público-alvo desta política". "O objetivo é garantir aos estudantes com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades uma formação integral”, assinalou o MEC.