SÃO PAULO - Escolas privadas começam a aderir a serviços de bufês para substituir alimentos pouco saudáveis servidos nas cantinas. Café da manhã, da tarde, almoço e jantar são oferecidos em pacotes fechados, e os alunos e professores têm suporte de nutricionistas. Tudo para deixar a alimentação das crianças mais saudável. É o caso do colégio Oswald de Andrade, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. A partir deste ano, a escola vai aposentar de vez a cantina e adotar o sistema de bufê, que permite que o aluno escolha, entre várias opções, o que vai consumir. Pães integrais e frutas devem substituir o salgado e o refrigerante, por exemplo. "A alimentação é parte de um projeto maior de conhecimento para essas crianças. Quando a escola escolhe um lanche mais saudável, mostra seus valores", explica o coordenador de comunicação do colégio, André Meller.
O serviço já é prestado na educação infantil do Oswald há pelo menos quatro anos. A ideia é que o aluno experimente pratos diferentes dos disponíveis em casa e diversifique o paladar.
O lanche (mensal) sai por R$ 183. Se incluído almoço, o preço é de R$ 293,90. Diferentemente do lanche, o almoço pode ser comprado à parte, por R$ 16,20. Pais que não aderirem ao serviço poderão continuar enviando o lanche dos filhos à escola.
O formato provocou a reclamação de um pai, que pediu para não ser identificado. "Ou o aluno leva o lanche todos os dias ou é obrigado a aderir ao novo sistema. Eles não dão a opção de comprar lanche avulso, numa emergência", diz.
Cantina light.
O Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, em Moema, na zona sul, também deve adotar outras estratégias para incentivar os alunos a mudar os hábitos alimentares. Em vez de extinguir a cantina, porém, a escola passou a servir opções de salgados integrais e sucos naturais.
Os pais podem aderir ao "kit lanche" por R$ 140, pacote fechado com suco, salgado e sobremesa que é entregue ao aluno todos os dias. As opções vão de esfiha integral a bisnaguinha com peito de peru.
Refeições para alunos do período integral e semi-integral são servidas no esquema de bufê, com supervisão de nutricionistas e funcionários do colégio. Outra inovação foi a criação de almoços temáticos, para que os alunos conheçam pratos diferentes. Os custos já estão incorporados na mensalidade.
Além disso, os estudantes têm aulas de culinária e de educação alimentar em sala. "Há alunos que não comiam nada e hoje a família fica até impressionada", afirma a orientadora educacional da instituição, Cristiane Moura.
Uma das experiências positivas ocorreu com o estudante Rafael Soldano, de 5 anos. Ele tinha resistência em comer verduras e legumes, mas conseguiu mudar os hábitos quando a família optou pelo período semi-integral, das 8h30 às 17h15, com o serviço de bufê.
"Ele começou a pedir em casa o que experimentava na escola", conta o pai do menino, Marcelo Pinheiro de Almeida. O "problema" é que o alimento precisa vir exatamente como no colégio. "Minha mulher tem de entrar em contato com a escola para saber como preparam. Se não for a cenoura cortadinha, ele fala que não é cenoura."
Diferencial.
A Building Escola, que atende crianças de até 6 anos, foi uma das pioneiras no uso de bufê. Há quatro anos, os pais deixaram de enviar lancheira para os filhos e também não há cantina. Um diferencial, segundo a diretora pedagógica da instituição, Regina Célia Tolentino, é que os estudantes podem ver o alimento sendo preparado. "O prato é montado na frente da criança. Não perguntamos o que ela quer comer, mas colocamos no prato e incentivamos a comer. Isso faz com que ela experimente mais", diz. O colégio cobra cerca de R$ 400 pelo serviço para alunos do período integral, com quatro refeições diárias.
Educação alimentar. A instituição é atendida pela Nutrical, empresa especializada em alimentação para educação infantil e ensino fundamental. “A educação nutricional é um negócio relativamente novo nas escolas. Antes estavam acostumadas a lanchonetes. Com as restrições alimentares, não é saudável oferecer isso para os alunos”, disse um dos sócios da empresa, Rodrigo Ventura. Além dos cardápios, a empresa disponibiliza nutricionistas, cozinheiros e auxiliares para fazer a gestão da alimentação nas escolas, inclusive a administração dos refeitórios.
Apesar de não haver um limite no consumo, Ventura explica que a ideia é que o aluno entenda que não é saudável exagerar nas repetições, o que é trabalhado junto ao colégio. “Mostramos que boa alimentação não é quantidade, é qualidade. Não adianta trabalhar com a saúde e o aluno comer dez pães”, disse. Outra empresa de olho no mercado dos alimentos saudáveis nas escolas é a multinacional Sodexo. A empresa implementou o kit lanche em algumas escolas, que contêm sucos naturais, salgados assados e, como sobremesa, frutas. Além disso, foi implementado um programa de orientação alimentar para desenvolver os conhecimentos sobre alimentação de forma lúdica, chamado Fun. Durante as refeições, por exemplo são montados pratos em forma de desenhos, para incentivar os alunos a conhecerem novos alimentos. Segundo Isa Maria de Gouveia Jorge, doutora em Ciências na Área de Nutrição e Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), é importante que as opções dadas às crianças sejam as mais saudáveis. "A criança forma o padrão de alimentação que terá quando adulta até os 5 anos", explica.