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Colégio São Luís troca Paulista por Ibirapuera

Avenida é endereço de escola católica há um século; mudança será em 2020

Por Julia Marques
Atualização:

O centenário Colégio São Luís está de mudança. Desde 1918 na Avenida Paulista, a escola, uma das mais antigas e tradicionais de São Paulo, anuncia para 5 mil pais, professores e funcionários que vai transferir sua sede para a região do Ibirapuera, na zona sul da capital, em 2020. A alteração faz parte de uma renovação na proposta pedagógica do colégio e ocorre na esteira do surgimento de escolas de elite com  projetos inovadores na capital paulista.

Mudança. Transferência promete acabar com estrutura vertical da sede atual, na Paulista. Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO 

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A nova sede vai ocupar terreno de 15,4 mil metros quadrados na Avenida Dr. Dante Pazzanese, vizinho ao Museu de Arte Contemporânea e ao Instituto Biológico. As obras devem começar em outubro. A Companhia de Jesus não divulgou por quanto o terreno foi comprado nem o novo uso do prédio atual. 

O colégio diz esperar que a transferência signifique só uma mudança de sede – e não de público. Segundo Sônia Magalhães, diretora-geral do São Luís, hoje cerca de 70% das famílias matriculadas moram em um raio de até 5 quilômetros da escola. Com a mudança, o porcentual cairia para 54%. “A ideia nunca foi criar um colégio novo, senão uma sede para o São Luís. Esse terreno foi escolhido em detrimento de outros mais baratos que levavam a escola para 20 quilômetros daqui”, diz. 

“Estamos fazendo (desde 2015) a capacitação dos professores (para a nova proposta). E aumentaremos o tempo de formação para 5 horas semanais remuneradas em 2020", completa Sônia. No final deste semestre, a escola deve divulgar o aumento de mensalidade para 2020 – hoje, a de um aluno do ensino fundamental custa R$ 2,4 mil. 

Terreno onde será a nova sede do Colégio São Luís, naregião do Ibirapuera, na zona sul da capital 

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A transferência é a aposta para colocar em prática a nova proposta pedagógica da escola, que tem como características a internacionalização e o currículo em tempo integral. “A sede é uma resposta arquitetônica ao projeto pedagógico que está sendo revisto. Nesta sede atual haveria muitos limites”, reconhece Sônia, primeira mulher à frente do Colégio São Luís após uma sucessão de 32 padres. 

A mudança só foi comunicada com antecedência a um pequeno grupo de funcionários. Ex-aluno do colégio e atual diretor de ensino médio, Rafael Araújo, de 40 anos, foi um deles. Por dois anos, teve de esconder o segredo da mãe, Nilza, de 66 anos, antiga funcionária, e do filho Miguel, de 9, aluno novato – três gerações que se despedirão do prédio na Paulista. 

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Gerações. Nilza, Miguel e Rafael têm história ligada à escola. Foto:FELIPE RAU/ESTADÃO 

Araújo vê com otimismo a mudança, embora guarde boas histórias da região atual. “Teve o impeachment do (ex-presidente Fernando) Collor (em 1992) e fomos para as ruas, estávamos no meio dos caras-pintadas. Até o reitor foi com a gente.”

Pai de uma aluna do 8º ano, o engenheiro João Souza, de 45 anos, não gostou da notícia. "Moro em Higienópolis (região central) e a escola fica a 15 minutos de casa. Na Vila Mariana (zona sul), devo levar 40", diz ele. A filha é levada de carro e costuma voltar de ônibus. "Na nova sede, os alunos ficarão 'encastelados'", acrescentou.

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Nova proposta. Em 2020, a escola deverá ter currículo de tempo integral e preparar alunos para universidades no exterior. Neste ano, o colégio deu o pontapé na adoção de métodos diferentes de ensino, como aulas invertidas – em que o aluno é responsável pelo próprio aprendizado e o professor atua como um orientador de estudos – e aprendizagem por projetos.

Essas são formas também propostas por novos colégios, como Avenues e Concept. De portas abertas este ano em São Paulo, estas escolas prometem renovar o ensino na cidade e já “chacoalham” antigos colégios (leia mais abaixo). 

Croqui do novo projeto doColégio São Luís, quer será na região do Ibirapuera 

Os novos modelos de ensino devem ganhar mais força no espaço do Ibirapuera. Mas, segundo o padre Carlos Alberto Contieri, reitor do colégio, o processo de inovação no São Luís “não é algo extraordinário”. “É parte do modo de ser da Companhia de Jesus, que em cada tempo buscou adaptar-se”, diz. 

No novo espaço, as salas serão maiores – 80 m² contra os 50 m² atuais. “E serão organizadas fisicamente por área de conhecimento. Os alunos é que vão trocar de sala”, diz Sônia. O colégio terá espaços multiúso, que poderão servir como laboratórios, salas de robótica ou para atividades de mão na massa. 

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Se, por um lado, a escola perde proximidade com a Paulista, por outro, ganha em espaços mais verdes e planos. O novo projeto, que prevê apenas três pavimentos, pretende acabar com o sobe e desce de escadas – a sede atual tem sete andares. 

Na proposta, assinada pelo escritório de arquitetura Athié Wohnrath, haverá espaço para hortas e composteiras. E a ideia é aproveitar a arborização natural do terreno – são 130 árvores. “Vamos manter o máximo possível do que está lá”, diz Sônia.

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Novas escolas de elite mobilizam as tradicionais

Com a chegada recente de escolas de propostas inovadoras em São Paulo, a diretoria do Colégio Rio Branco, há mais de 70 anos na cidade, se movimentou. “Quando começou esse alvoroço, fizemos um exercício de olhar para nossos projetos e os dessas instituições e identificar atributos que chamavam atenção”, conta a diretora, Esther Carvalho. “Peguei professores brilhantes e discutimos um currículo flexível”, diz. 

Movimentações como a do Rio Branco ocorrem após a instalação de colégios como Avenues e Concept em São Paulo. Voltados para a elite paulistana e com mensalidades que podem chegar a R$ 8 mil, eles defendem o protagonismo do aluno, flexibilidade no currículo e internacionalização. 

Para colocar o aluno na linha de frente do aprendizado, o Colégio Dante Alighieri, há 107 anos em São Paulo, abriu disciplinas eletivas no ensino médio. Também criou o Middle School, em que estudantes do 7.º e do 8.º ano seguem currículo internacional - o High School, para os maiores, já é oferecido há 9 anos. “Sempre olhamos para fora, para o que está acontecendo no mundo”, diz Silvana Leporace, diretora geral pedagógica.

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Para o presidente da Associação Brasileira de Escolas Particulares, Mauro de Salles Aguiar, já é possível sentir os efeitos da novidade em colégios tradicionais. “Se as escolas não repensarem a maneira de trabalhar, seguramente perderão espaço”, diz ele, que também é diretor do Colégio Bandeirantes. 

Para Aguiar, são dois os principais desafios: mudança na estrutura física e formação de professores. O risco, diz, é o surgimento de projetos mais preocupados com a forma do prédio do que com o que acontece dentro dele. “Não adianta fazer reforma física sem professores preparados”.

Diretora da Escola da Vila, de proposta construtivista, Sônia Barreira defende que o tipo de formação proposta pelos novos players já é praticada pelo colégio. "São escolas que vão precisar vencer desafios importantes, como transformar em prática pedagógica coletiva um discurso que entrou na moda", diz. 

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