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Coisas que eu queria saber aos 21: Pedro Bandeira

Escritor de livros infanto-juvenis fala da escolha da faculdade e do início da carreira

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Por Redação
Atualização:

"Vinte e um anos? Eu os completei em São Paulo, em 1963. Vindo de Santos havia apenas dois anos, eu trilhava os caminhos que escolhera para construir uma vida. O teatro me fascinava e minha intenção era cursar Psicologia, disciplina que me ajudaria a compreender as pessoas que viriam a ser as personagens das peças que eu escreveria. Mas acabei optando por fazer Ciências Sociais na USP, no velho casarão da Rua Maria Antônia, para aprender como funcionavam os conjuntos das vidas que habitariam meus textos teatrais - do psicológico, eu havia optado pelo social.

 

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Profissionalmente, fiz teatro como ator, em boas montagens protagonizadas por estrelas coruscantes. Mas, se uma peça de teatro pudesse ser comparada a um filme de caubói, meu papel seria sempre o do quarto índio a contar da esquerda. Felizmente, como sempre havia sido um rato de livros, o texto que eu conseguia produzir era aceitável e, desde cedo, o salário que me sustentava era mesmo o de jornalista.

 

Eram tempos turbulentos. Meu País experimentava um soluço de democracia desde 1945. Falava-se em um Brasil grande, em industrialização, mas a realidade que eu presenciava era diferente, não correspondia a tanta grandeza e eu não encontrava respostas para as perguntas que me assombravam. Tanto eu queria saber! Tanto eu queria atuar! Tanto eu acreditava que poderia fazer para tornar concretos os sonhos que coloriam meus horizontes...

 

Eu divisava o mais brilhante arco-íris, mas o que veio foi a escuridão. Explodiu uma ditadura que baniu do meu País meus principais professores, que proibiu a palavra livre nos palcos, que amordaçou a imprensa. Essa ditadura veio quando eu era um jovem adulto, cheio de garra, de esperanças, e somente se foi tarde demais: os melhores anos de minha vida adulta foram passados no escuro. E minhas perguntas, e meu espanto, desapareciam no limbo esponjoso da ignorância imposta.

 

Logo abandonei o teatro junto com meus sonhos de dramaturgia e segui a vida compondo textos que enfrentariam o lápis vermelho de um censor antes de serem impressos. Meus desejos de saber, de aprender, procuravam respostas nos livros, na Literatura, na História, mas o que eu escrevia era o que o editor esperava que eu produzisse - tornar-me um escritor não me passava pela cabeça.

 

Nessa profissão, acabei por criar dezenas de pequenas histórias para revistas de banca, que acabaram me provocando a ousadia de publicar um livro. Como essas histórias eram dirigidas a crianças ou a adolescentes, foi para eles que passei a escrever. E aí ocorreu o inesperado: eles gostaram!

 

Isso me assustou, é claro que me assustou, e essa nova responsabilidade me obrigava a formular novas perguntas: eu precisava conhecer o íntimo do meu pequeno leitor, do meu jovem leitor. Eu tinha de compreender o que ele sonhava, o que lhe provocava medo, o que o fazia chorar, de que modo eu poderia fornecer um lenço que lhe enxugasse as lágrimas...

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Novas perguntas... Um novo querer saber. Agora, já aos 70 anos, o que eu realmente aprendi foi aquilo que eu não sabia aos 21: não adianta esperar pela resposta quando não se tem a pergunta certa. Vivendo, aprendi a perguntar."

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