
24 de setembro de 2012 | 22h52
"Muitas pessoas me perguntam se houve alguma coisa em particular que fez eu me apaixonar pela matemática, mas a verdade é que não ocorreu nada em especial. Meu gosto foi desenvolvido ao longo dos anos em que tive bons professores e achei os exercícios propostos interessantes. Posso dizer que o mais importante foi a relação com professores.
Entrei para a Escola Normal Superior aos 18 anos. Em 1994, aos 21, fui eleito presidente da associação de estudantes.
No complicado sistema francês, a escola é tão forte quanto as universidades, pois conta com parte do quadro docente delas. Tanto é que dez egressos de lá já ganharam a Medalha Fields (maior prêmio internacional de matemática, vencido por Villani em 2010), recorde mundial.
Fiz o doutorado, no qual entrei aos 25, na Universidade de Paris Dauphine, porque queria trabalhar com um professor específico de lá. Escolhi uma carreira acadêmica porque foi o mais natural a fazer ao sair da Escola Normal Superior, onde o sistema é direcionado para isso. Trabalhar no mundo econômico teria sido uma decisão muito revolucionária.
Meu sonho de infância era ser paleontólogo. Considero uma grande aventura, na qual se pode reconstruir o passado e mesmo tempo projetar o futuro. Assim como matemáticos, paleontólogos devem ter muita imaginação e tenacidade.
Aos 21, acho que meu sonho era entender o funcionamento dos ecossistemas. Um dos grandes desafios do mundo atual, principalmente no Brasil, é entender como funciona e como se pode preservar o ambiente, principalmente a relação do homem com outros seres vivos e recursos naturais. Quando escolhi minha especialização ainda tinha em mente essa ideia de trabalhar com a matemática biológica, mas acabei seguindo o caminho da física.
Quando se tem 21 anos, você tem que tomar decisões baseadas na paixão e nos seus interesses. Não se preocupe com dinheiro e outras coisas que acabam vindo depois. Você não vai ser feliz se tiver um ótimo salário em um emprego entediante. Deve-se procurar algo com certa dose de aventura.
A ciência é uma das melhores opções. No sistema atual, podemos dizer que os cientistas são os últimos aventureiros, já que podem encarar várias situações desafiadoras: lutar contra doenças, descobrir novas formas de energia, ajudar a controlar efeitos do aquecimento global, entender o mundo microscópico e galáxias a bilhões de anos-luz.
Em 2009, um jornal americano publicou um ranking com os melhores empregos do mundo e na primeira posição estavam os matemáticos. Os critérios levavam em conta quem estava feliz, fazia coisas interessantes e tinha salário razoável. Muitas das primeiras posições eram ocupadas por cientistas. Se você é cientista, sempre tem trabalho. Nenhum país pode sobreviver sem cientistas e engenheiros."
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