Classe D supera A e B em ingresso na USP

No curso de Medicina, o índice de alunos egressos de escola pública pulou de 9,7% para 37,7%

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Por Fábio Mazzittelli
Atualização:

O número de estudantes que entraram na Universidade de São Paulo (USP) provenientes da classe D da população, com renda familiar mensal entre dois e três salários mínimos, superou neste ano a quantidade de calouros originários das classes A e B, com ganhos familiares acima de dez salários mínimos por mês.   Dos 10.557 estudantes aprovados no último vestibular da Fuvest, 1.850 são classe D, ou 17,52% do total. Das classes sociais mais altas, vieram 1.427 alunos, ou 13,52% do total. No ano anterior, o porcentual de famílias de ingressantes com mais de dez mínimos foi de 15,66%, contra 15,25% da classe D. O valor atual do salário mínimo é R$ 465.   As informações constam no relatório divulgado ontem pela pró-reitora de Graduação da USP, Selma Garrido Pimenta, no qual é feita uma análise dos resultados do Programa de Inclusão Social da universidade (Inclusp), criado há três anos para reduzir a desigualdade social no perfil dos alunos.   No total, o número de alunos com renda familiar mensal até cinco salários mínimos (R$ 2.325) cresceu de 55,74% para 59,1% dos aprovados em primeira chamada no vestibular de 2009. Foram 355 novos alunos com esse perfil.   O sucesso do Inclusp, na visão da Pró-Reitoria de Graduação da USP, justifica essa mudança de perfil. O programa concede até 12% de bônus na nota para alunos de escolas públicas (veja as escolas estaduais da capital que mais aprovaram em quadro abaixo).   De 2008 para 2009, o número de egressos da rede pública aprovados subiu de 2.706 para 3.146, ou 30,1% do total, sendo que 953 deles só foram aprovados em razão da bonificação. É a maior participação de egressos da rede pública desde a criação do Inclusp – nos anos anteriores, o porcentual de aprovados ficou na casa dos 26%.   "Esses resultados são importantes para que as escolas (públicas) possam trabalhar com seus estudantes e para que os professores possam trabalhar com esses alunos para que se dimensione a importância de se fazer um ensino superior numa universidade. Os estudantes, de modo geral, estão precisando de mais informações para abrir perspectivas de como podem se colocar melhor na sociedade", diz Selma Pimenta.   A pró-reitora de graduação defende a inclusão social e se apoia em estudos da própria USP para demonstrar que o nível do estudante da universidade se mantém com o programa. "É importante lembrar que os estudantes (egressos de escolas públicas) apresentam desempenho igual ou superior aos demais", afirma.   Neste ano, o impacto do Inclusp atingiu também alguns dos cursos mais concorridos do vestibular da Fuvest. Entre os que tiveram maiores aumentos porcentuais de alunos oriundos de escolas públicas, de 2008 para 2009, está o curso de Medicina, que pulou de 9,7% para 37,7% de vagas preenchidas por estudantes egressos do sistema público.    Para o professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Munhoz, a mudança no perfil socioeconômico dos ingressantes na USP promovida pelo Inclusp é positiva. "Aponta que esse pode ser um caminho para que se faça um processo mais justo de ingresso na universidade. As classes A e B são muito menores do que as que aqui estão. No Estado, apenas 15% fazem o ensino médio na rede privada", diz Ocimar Munhoz.   O Inclusp foi criado como uma maneira de se fazer um modelo mais justo de entrada na universidade sem precisar aderir ao sistema de cotas, adotado por algumas universidades federais.

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