Cinco dicas para exercitar o pensamento crítico

"A ênfase não está no que você pensa, mas em como você pensa", diz especialista

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Por Redação
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Uma discussão doméstica sobre lavar ou não a embalagem reciclável antes de depositá-la na lixeira do condomínio pode ser convertida em exercício prático de pensamento crítico ou, em outras palavras, a capacidade de baixar a guarda das próprias certezas, escutar o outro e analisar uma mesma questão sob pontos de vista diferentes.

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O marido acredita que é melhor não lavar as embalagens, por causa do desperdício de água. Sua mulher, por outro lado, defende que lavar facilitaria a vida do pessoal da limpeza, que ao recolher as embalagens nos apartamentos e acomodá-las na coleta seletiva não precisaria lidar com o aroma desagradável de latas de atum e garrafas de leite esvaziadas, mas ainda sujas. A solução do conflito passa por muitas variáveis. A situação, porém, sugere que o dia a dia é uma verdadeira academia para que o pensamento crítico das pessoas ganhe músculos e, no trabalho, seja um importante aliado em termos de clima, relacionamento e produtividade.

Pensar criticamente é uma qualidade importante e de forma resumida significa que antes de tomar uma decisão o indivíduo pense bastante e questione certezas (próprias e dos outros), desconfie do que parece óbvio, se abra para novas perspectivas e consiga apresentar suas ideias e argumentos, verbalmente ou por escrito, de maneira lógica e clara. Aulas de pensamento crítico e argumentação racional, lógica e persuasiva podem ser encontradas em cursos online com o da plataforma Iversity, que começou no dia 18 de maio, mas continua acessível, e até no currículo acadêmico. É o caso do mestrado em negócios da Universidade de Rotterdam, na Holanda, que absorveu o pensamento crítico como disciplina ministrada em sala de aula.

Doutora em Filosofia pela Universidade de Rotterdam, Giedre Vasiliauskaite é professora do Master in Consultancy and Entrepreneurship de Rotterdam, um programa de mestrado em negócios parceiro do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad). Pesquisadora e especialista em pensamento crítico, análise de argumentos e gestão intercultural, Giedre conversou com o Estado e deu algumas dicas para quem quer fazer do pensamento crítico o aliado fundamental da tomada de decisão no trabalho e na vida pessoal.

A professora Giedre Vasiliauskaiteé, doutora em Filosofia pela Universidade de Rotterdam Foto: Divulgação

O que é o pensamento crítico em termos de habilidade profissional?Atualmente somos bombardeados com uma quantidade incrível de informações e precisamos de orientações básicas a fim de distinguir o que é confiável. Isso se faz necessário, por exemplo, no trabalho de um gerente que tenta resolver opiniões divergentes e tomar uma decisão objetiva e justa; na análise de dados em relatórios organizacionais; ao aceitar ou questionar um ponto de vista ou sugestão e, em nosso trabalho diário, até ao escrever e-mails e relatórios e apresentar nossas ideias de uma maneira lógica e compreensível. Aulas de pensamento crítico fornecem algumas ferramentas que ajudam as pessoas a comunicar melhor suas ideias.

Muitas iniciativas erradas surgem da nuvem de preconceitos que podem envolver uma tomada de decisão, a exemplo de quando estou tão convencida de que minha iniciativa vai trazer uma série de benefícios que simplesmente negligencio outras ideias diferentes da minha ou não tão favoráveis a ela. Uma boa prática de tomada de decisão requer um olhar mais profundo na questão, a partir de várias perspectivas.

Como o pensamento crítico é abordado na sala de aula, no currículo de um curso?

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As aulas e os treinamentos de pensamento crítico são orientados de forma prática. Os alunos adquirem conhecimentos teóricos por meio da leitura de textos e então nós discutimos a teoria e entendemos como ela se manifesta em situações da vida real. Os alunos também fazem exercícios, trabalhos em grupo e analisam textos e vídeos. Além disso, acredito que na sala de aula as histórias que eu conto não são suficientes para o aprendizado. É por isso que eu convido os alunos a compartilhar as próprias histórias.

Como um profissional, em qualquer carreira, desperta e desenvolve o próprio pensamento crítico? 

Antes de tudo é preciso ser curioso e ter a mente aberta para diferentes pontos de vista. Não avance e não se precipite na direção de soluções rápidas antes de analisar o problema. Seja observador, ouça e escute cuidadosamente. Pergunte “por que?”. Questione seu próprio ponto de vista e o de outras pessoas. Tente enxergar se os pressupostos básicos que parecem tão óbvios para você são realmente corretos. Seja um pouquinho desconfiado, mas não exagere.

É possível obter material para exercitar pensamento crítico em situações do dia a dia, como ao trocar impressões sobre um filme?

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O cotidiano no trabalho e na vida fornece um rico material para o desenvolvimento do pensamento crítico e esse exercício pode estar realmente em uma conversa sobre cinema, um livro, algo que você viu na internet ou na televisão. Mesmo o mais simples e singelo diálogo ou conflito doméstico, entre marido e mulher, serve de material para refletir criticamente. Em outras palavras: a ênfase não está no que você pensa, mas em como pensa. O truque é manter a mente aberta, ser curioso. Você pode aprender muito ao desafiar a si mesmo.

Um bom começo para se informar a respeito e praticar pensamento crítico é ler sobre o assunto, sua teoria básica, e então trazer esse conhecimento para o dia a dia. Livros de ficção, romances e outros produtos de literatura, fornecem um bom conteúdo para refletir. Ainda melhor é encontrar um bom curso e juntar-se a um grupo de estudo. 

Na sua opinião, qual é o melhor exercício de pensamento crítico?

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Se comprometer em ser um pensador crítico e não voltar atrás nessa decisão. É preciso ser consistente e firme, porque muitas vezes será tentador fechar os olhos para os próprios preconceitos.

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