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Cidade de barro, ferro e aço

A arquitetura de prédios reconta os 456 anos de São Paulo

Por Elida Oliveira
Atualização:

Saindo do Pátio do Colégio, no centro de São Paulo, até a ponte estaiada, na zona sul, são cerca de 15 quilômetros. Nesse trajeto, atravessa-se os 456 anos da cidade, cuja história está impressa na arquitetura de diversos prédios.   Construída em 1554 pelos jesuítas, a parede de taipa de pilão (feita com barro, capim e sangue de animais) do Pátio do Colégio marca o período colonial. Foi tudo que sobrou do prédio original, que ruiu em 1896 com uma chuva. "Mas a reconstrução manteve o traçado original", diz o professor de Teoria e História da Arquitetura Ademir Pereira dos Santos.   Ele e o coordenador do curso de Arquitetura do Centro Universitário Belas Artes , Turguenev Roberto de Oliveira, desenvolvem vários estudos sobre a história da cidade a partir da arquitetura. A pedido do Estadão.edu, eles criaram um roteiro arquitetônico que engloba os 456 anos de São Paulo. "É uma seleção e, como todas, pode haver omissões", alerta Santos.   Dos primeiros séculos, o professor destaca também a Casa do Bandeirante, no Butantã. "É uma planta quadrada, de paredes de taipa de pilão e pau-a-pique, com várias reentrâncias no alpendre."   O roteiro segue então para o Brasil Império, com prédios oficiais em estilo neoclássico. Caso do Solar da Marquesa de Santos, também no centro. "Embora a construção seja do período colonial, a importância histórica é do Império, por ser a casa da amante de D. Pedro I", diz Santos.   A Faculdade de Direito do Largo São Francisco, de 1827, também simboliza esse período. "A edificação foi adaptada em estilo neocolonial no início do século 20. A importância arquitetônica é o conjunto, de características franciscanas, ali desde o século 17", explica.   Saiba mais:   Roteiro arquitetônico completo, preparado pela Belas Artes     Trem e imigrantes Com a proclamação da República, São Paulo cresce e junto com o ferro, o trem e os imigrantes, chegam novas influências. A Estação da Luz (1867) foi feita com ferro fundido importado. "Sua construção mudou a história da cidade", diz Santos. "O espetáculo ferroviário é coberto por arcos treliçados e um lanternim (abertura no telhado), típicos da arquitetura industrial."   Nessa mesma época, os barões de café enriqueceram e construíram casas em São Paulo. O local escolhido por eles? Campos Elíseos, o primeiro bairro planejado da cidade. "Tudo nessas casas era importado", conta Oliveira. As edificações são ecléticas: "Os teatros têm predominância neobarroca – um estilo solto, divertido. Hospitais são neogóticos. Os bancos, neoclássicos – austeros e firmes."   Em seguida, a cidade entra na era do concreto armado e do arranha-céu. São dois momentos: o ecletismo art déco e o modernismo. O edifício Altino Arantes (antigo Banespa) é um representante do primeiro e marca a verticalização da cidade. Já o Masp entra no segundo momento, simbolizando a superação de desafios: "A ocupação do terreno exigia que a vista da Avenida 9 de Julho não fosse fechada. Foi uma ousadia ter um vão livre de 74 metros quadrados."   O roteiro termina com a São Paulo contemporânea, no Brooklin. Os maiores exemplos são o edifício Terra Brasilis e a ponte estaiada. "Ela é polêmica pelo custo e o grande espaço que ocupa. Mas sua ousadia marcou a arquitetura e a engenharia", explica Oliveira.

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