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Carreira executiva: o caminho da trilha para chegar ao topo

Para ser bem-sucedido, profissional precisa de aperfeiçoamento constante e persistência, dizem especialistas; leia depoimentos

Por Luciana Alvarez
Atualização:

A porta de entrada costuma ser a mesma para todos: os programas de estágios ou trainees de empresas. De lá até chegar a cargos de direção e até mesmo à presidência de grandes companhias, os caminhos podem variar bastante, mas todas as rotas passam necessariamente pelo domínio de idiomas, pela dedicação ao trabalho e pelo desejo de aprender constantemente. 

Desde a faculdade, Patrícia Coelho, de 45 anos, hoje presidente da empresa de navegação e logística MLog, não seguiu o caminho usual: ela graduou-se em Direito, uma carreira pouco comum entre os executivos. Embora o mercado esteja mais receptivo a formações iniciais diversas, Administração, Economia, Ciências Contábeis e Engenharias ainda são dominantes. “Fiz o curso e não gostei de nada. Então fui trabalhar no mercado financeiro, atuei em vários bancos. Nessa caminhada descobri que sou uma dealmaker (negociadora), uma coisa que nem sabia que existia.”

Tatiane Moraes Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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Com um gosto para organizar acordos, fusões, compras e reestruturações, Patrícia decidiu que, em vez de crescer dentro de grandes empresas, abriria sua própria consultoria. Depois de mais de uma década ajudando a fechar negócios para os outros, ela sentiu desejo de empreender. “Peguei o dinheiro de toda a minha vida, mais o dinheiro de sócios, comprei o projeto de um navio e contratei dois engenheiros navais para construir.” Mais recentemente, sua empresa de navegação se uniu com outra de mineração, ferrovia e porto, dando origem à MLog, que tem quase mil empregados diretos.

Assim como Patrícia fez, conhecer seus próprios talentos e saber o que gosta de fazer é o melhor jeito para se ter sucesso em uma carreira executiva, diz Maria Cristina Ortiz, docente da Business School São Paulo (BSP). “Não existe um passo a passo, um caminho único para chegar a um alto cargo. O dito sucesso reflete um encontro pessoal de cada um com seus talentos e habilidades dentro da vida profissional”, afirma.

Esse encontro nem sempre se dá logo de cara. Segundo Maria Cristina, a geração mais nova tem de aprender a controlar sua ânsia de subir na hierarquia das empresa e olhar de forma crítica para cada porta que se abre. “Infelizmente é bem comum a pessoa ficar dez anos numa carreira que não era o que ela desejava. Aí, é preciso estar aberto a mudar, dar um passo para trás.” 

Para que isso não aconteça, explica Maria Cristina, todo profissional deve fazer um exercício de autoconhecimento, refletir sobre qual é o ponto a que deseja chegar e se os passos estão levando à direção certa. O autoconhecimento também serve para identificar as deficiências na formação e nas habilidades, para poder saná-las de forma que elas não se tornem um empecilho.

Marcelo Caminho Foto: Wilton Junior/Estadão

Evolução. Ainda no primeiro ano da graduação em Ciências Contábeis, Tatiane Moraes da Silva, de 32 anos, começou a fazer estágio na secretaria da própria faculdade. Logo conseguiu uma oportunidade em uma multinacional, que a efetivou antes mesmo de ela se formar. Embora estivesse feliz com o trabalho, decidiu pedir demissão para passar um período nos Estados Unidos e aprimorar o inglês. “Percebi que a parte técnica estava bem, mas me faltava um bom inglês. Como não tinha dinheiro para ir só estudar, entrei num programa de au-pair.” Assim, ela pôde estudar inglês enquanto era babá e morava com uma família americana. O plano inicial era passar um ano no exterior, mas acabou ficando lá por dois.

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A pausa na carreira não afetou suas oportunidades. Tatiane voltou ao Brasil mais preparada e participou de processos seletivos para ser trainee. Passou em dois e escolheu uma empresa na área agroindustrial, pois tinha mais afinidade com esse setor. Quando o prazo do trainee acabou, foi contratada como analista em outra empresa. Na nova companhia, ela foi indicada para participar de um curso de pós-graduação in company, um certificate em Finanças da Escola de Negócios Saint Paul. 

“Gostei muito da qualidade da formação e, quando me procuraram para oferecer outros cursos e continuar minha formação, não tive dúvidas em aceitar.” Dessa vez, já se preparando para um próximo passo na carreira, Tatiane optou por um MBA. Nem terminou o curso e já subiu de cargo: ela virou supervisora.

Na ordem mais comum das carreiras, Tatiane acaba de chegar ao terceiro degrau. O primeiro passo é entrar como estagiário ou trainee, uma parte da trilha considerada importantíssima pelo mundo dos negócios. “Um estágio é fundamental, sobretudo porque no Brasil acontece um fenômeno de as graduações se distanciarem do mercado e, portanto, da prática”, explica Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul. 

Em seguida, o caminho é ser efetivado em cargos como analista ou assistente, que podem oferecer oportunidades de crescimento como júnior, pleno, sênior ou outras nomenclaturas. “Nessa etapa, o melhor que o profissional tem a fazer é um curso de extensão, uma especialização, que dê ferramentas técnicas.”

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A partir do momento em que as habilidades técnicas estão bem consolidadas e o profissional deseja seguir no rumo de chefiar outros funcionários, é a hora de pensar em cursar um MBA. No mercado, cargos desse nível hierárquico podem receber nomenclaturas como supervisor, coordenador ou gerente. “O profissional não precisa mais de um saber fazer tão técnico, mas, sim, saber avaliar, perceber os nós, ter visão estratégica para a tomada de decisão”, diz Mussa sobre a etapa em que se lidera colaboradores individuais.

Líder de líderes. Engenheiro Químico por formação, Marcelo Campinho, de 44 anos, trabalha há 22 anos na mesma empresa, a White Martins, que comercializa gases atmosféricos (oxigênio, nitrogênio e argônio), gases de processo (gás carbônico, acetileno, hidrogênio, misturas para soldagem), gases especiais e medicinais. Ele entrou como estagiário e agora tem o cargo de diretor executivo de Negócios, que é o maior setor da companhia. Se ao entrar era responsável apenas pela entrega do próprio trabalho, hoje tem de comandar gerentes de times espalhados por todo o Brasil. Para fazer a transição, conciliou um grande conhecimento da empresa e aprimoramentos constantes em diversas modalidades de cursos. 

“A Engenharia Química é muito técnica, tive pouca Matemática Financeira. Assim que fui transferido para o setor de planejamento, tive de estudar Finanças, porque não tinha base sólida para tomar decisões.” Desde então, já fez MBA em Finanças e em Negócios, cursos curtos de técnicas e apresentação, liderança e negociação, entre outros, vários deles fora do País. 

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Além do aprendizado formal, há muitos conhecimentos que adquiriu na prática, em trocas profissionais com seus colegas. Para Campinho, no patamar de carreira em que se encontra, as aulas no exterior têm sido as mais proveitosas. “Aqui temos escolas de negócios excelentes. Mas, lá fora, você tem pessoas de todas as nacionalidades e a diversidade é enriquecedora.” 

Após se tornar um líder de outros colaboradores, o próximo passo na carreira executiva é passar a liderar outros líderes. Essa atribuição costuma ser de diretores, presidentes e dos profissionais do chamado C-Level, os chiefs das nomenclaruras em inglês como CEO, CIO, CFO, COO. “Nessa etapa não são mais requeridas tantas habilidades relacionais ou operacionais. Vai trabalhar com a formulação das grandes estratégias e conceitos, ter de influenciar os demais líderes”, explica Anderson Sant’Anna, coordenador do Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas e Liderança da Fundação Dom Cabral. 

O grande desafio, diz Sant’Anna, costuma ser o executivo aprender a olhar para fora da organização para poder posicionar bem a companhia no mercado. “Ele tem de ver coisas novas, liderar a empresa para outros desafios.”

Para ajudar nessa fase, há programas de estudos focados em liderança, gestão avançada, coachings ou mentorias. Os cursos para esse público, de forma geral, são mais rápidos, porque a agenda de executivos em cargos mais altos costuma incluir muitas viagens. Outra opção são os mestrados profissionais. “Você vai aprender a formular modelos e analisar os furos nos modelos, para poder atuar neles”, explica o coordenador da Dom Cabral. 

Aperfeiçoamento. De família pobre, Laércio Albuquerque começou a trabalhar aos 12 anos, como gandula em um clube paulistano e hoje, aos 45 anos, é presidente da Cisco Brasil. Dessa trajetória impressionante não há uma lição única, mas várias. Segundo ele, é importante nunca se acomodar e fazer sempre mais do que lhe é pedido sem desprezar a experiência dos mais velhos.  Depois de ser gandula, ao 14 anos tornou-se office-boy e com seu salário pôde pagar um colégio técnico particular porque queria trabalhar com computador. “Sempre sonhei em crescer, mas claro que, no comecinho, não imaginava que chegaria a presidente de uma grande empresa.”

Durante a faculdade foi efetivado na área de informática e aproveitava os fins de semana para fazer o curso de inglês. Para passar a diretor de vendas, diretor em outra empresa na América Latina e presidente da Cisco Brasil, sua boa capacidade de comunicação fez a diferença. “Se a pessoa se comunicar bem, se for autêntica e sincera, todos os mercados lhe serão abertos.”

Para quem ainda não chegou tão longe na caminhada pelo mundo executivo, uma dica prática para avançar é usar a comunicação para demonstrar uma inquietação positiva. “Tem de chegar para o chefe direto e perguntar: onde posso ser mais produtivo, como posso contribuir mais para a empresa? Sem ambição desmedida, mas uma ambição por mostrar resultados positivos”, aconselha Miriam Adassi, fundadora da MSA Recrutamento e Seleção. 

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Outra atitude essencial é nunca parar de estudar. “Se o jovem entende estar em um ambiente empresarial adequado a seus princípios, deve demonstrar sua capacidade de aprender e se adaptar à cultura da empresa, focando nos resultados e no trabalho em equipe”, afirma Jesuíno Irineu Argentino Júnior, diretor de lato sensu da Universidade Paulista (Unip). A cada etapa há novos desafios e muito mais a se aprender. 

SERVIÇO

Saint Paul Escola de Negócios Curso: Certificate em Finanças Duração: 480 horas ou 24 meses  Preço: R$ 33.850,00 Início: 15/8/2016 Site: saintpaul.com.br

FIAP Curso: MBA de Estratégia de  Negócios Duração: 360 horas ou 12 meses Preço: de R$ 21.700 a R$ 25.500 Início: 27/9/2016 Site: fiap.com.br

Fundação Dom Cabral Curso: Curso livre Liderança Transformadora Duração: 45 horas Preço: R$ 14.900 Início: 21 a 25/11/2016 Site: fdc.org.br

Business School São Paulo Curso: Curso Livre de Inteligência Emocional na Prática Duração: 3 horas Preço: R$ 225,00 Início: 27/6/2016 Site: bsp.edu.br

DEPOIMENTOS

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"Estudar me traz mais segurança"

Milene França, gerente de Implementação da Petrobrás

Milene França Foto: Arquivo pessoal

“Minha mãe me incentivava a estudar. Ela sempre dizia que era importante fazer um curso técnico para sair da escola com uma profissão. Aos 15 anos, comecei a cursar Técnico em Edificações no Liceu de Artes e Ofícios. A minha escolha foi inspirada em um tio e uma prima que já atuavam no campo.

Quando cheguei lá, botei a mão na massa e confirmei a minha vocação. O curso era bem prático, e logo consegui um estágio na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Lembro muito bem da primeira vez que fui até uma estação de tratamento de esgoto, o que me despertou interesse pelo reúso da água e ambiente.

Entrei na faculdade de Engenharia Civil em 1995, na Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos. Muitos colegas pareciam perdidos naquele ambiente. Mas para mim foi mais fácil. Eu já trazia uma bagagem. Fiz iniciação científica em reciclagem de resíduos e iniciei um estágio em uma empresa de consultoria ambiental, na qual fui efetivada ao terminar a graduação.

Durante essa experiência, notei que os profissionais mais escolarizados se destacavam. Foi então que decidir sair do emprego e investir em um mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), referência em Engenharia Ambiental. 

Durante o curso, fui indicada para uma vaga de coordenadora de projetos de pesquisa na Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), em Curitiba. Aceitei. Depois de mestre, fiz ainda uma especialização em Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades.

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Novamente minha mãe voltou a me incentivar. Ela sugeriu que eu olhasse com mais atenção os concursos. Prestei e acabei passando em um da Petrobrás para uma vaga de engenheiro de ambiente. O mestrado na área era um requisito. Trabalhei em diferentes cargos, até que senti a necessidade de voltar a estudar. Em 2009 comecei um MBA em Gestão de Projetos na Fundação Getulio Vargas (FGV). Tinha tudo a ver com meu dia a dia. Pouco tempo depois eu assumi o cargo de gerente.

Hoje percebo como minha carreira foi determinada pela educação. Estudar me traz segurança, quando eu acerto e quando eu erro. Quanto mais você busca conhecimento, mais entende que há muito a se aprender.” / DAYSE PORTO, ESPECIAL PARA O ESTADO 

"Estudar fez diferença na minha vida"

Maria Fernanda Campos, diretora Ford América do Sul

Maria Fernanda Campos Foto: Arquivo pessoal

“Cursei Direito porque gostava de ler, de matérias humanas. Trabalhava em outra área para pagar a faculdade, até que consegui um estágio no departamento jurídico de uma empresa de alimentos. Em seguida fui para a PwC e me contrataram como trainee no setor tributário, antes de me formar. 

Em 2002, graduada, entrei na Ford como supervisora de impostos. Um ano depois, fiz especialização em Direito Tributário porque queria algo para me auxiliar na prática. Assim que concluí essa pós, em 2005, comecei um MBA em Gestão de Negócios. Ao terminar, fui promovida a gerente.

Como achava importante a experiência internacional, decidi fazer um curso de dois meses na Holanda, na Universidade de Leiden. Fiquei surpresa com o grau de cobrança do ensino lá, era aprofundado. Foi ótimo conviver com colegas de vários países. 

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Quando me vi chefiando uma grande equipe, procurei um curso de gestão de pessoas que a Universidade de Pittsburgh oferecia no Brasil. Lá aprendi a valorizar o melhor de cada funcionário. A última pós-graduação que fiz foi em Direito Tributário Internacional, em 2011. Há um ano fui promovida a diretora da América do Sul e agora me dedico a aprender espanhol.

Sinto que soube trilhar o caminho necessário em cada fase. Seguir estudando é importante. É como se a graduação fosse uma base e os cursos de pós fossem as colunas e paredes para formar um castelo.

Eu cresci em uma região humilde de São Paulo, na minha família estou entre os primeiros a ter acesso a uma boa educação - minha mãe não terminou o ensino fundamental - e tenho certeza de que estudar fez a diferença no meu crescimento.” / DAYSE PORTO, ESPECIAL PARA O ESTADO 

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