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Bolsonaro aceita pedido de demissão de Decotelli

Ministro da Educação listava no currículo pós-graduações e experiência como professor questionadas por instituições

Foto do author Renata Cafardo
Foto do author Julia Lindner
Por Jussara Soares , Renata Cafardo e Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro aceitou nesta terça-feira, 30, a carta de demissão de Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação na semana passada. Depois de seu currículo ter sido questionado por universidades estrangeiras e pela Fundação Getulio Vargas, o governo pediu que o economista deixasse o cargo para o qual nem chegou a ser empossado. Ele ficou cinco dias como ministro da Educação, o terceiro de Bolsonaro em um ano e meio de governo. 

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O secretário-executivo do MEC, Antonio Vogel, também foi à sede do Executivo, mas negou que estivesse indo falar com o presidente. O governo não anunciou ainda o substituto de Decotelli e analisa vários nomes para um provável anúncio ainda nesta terça-feira. Um dos mais cotados é o atual reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correa. Ele foi presidente da Capes já no governo Bolsonaro, é formado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre pelo ITA. 

Em entrevista à CNN, Decotelli confirmou que a razão do pedido de demissão foi a nota da FGV desmentindo que ele seria professor da instituição, como o Estadão adiantou. Segundo ele, a fundação mentiu. Procurada, a FGV disse que reitera as informações dadas anteriormente e que ele “foi professor colaborador dos cursos de formação executiva”.

Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro como novo ministro da Educação,o professor Carlos Alberto Decotelli, de 67anos, éevangélico, oficial da reserva da Marinha e o primeiro negro a ocupar um cargo na Esplanada. Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

Na nota, a FGV informava que Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição. O presidente Jair Bolsonaro ficou irritado ao saber de mais uma incoerência no currículo do indicado, que já teve doutorado e pós-doutorado questionados por universidades estrangeiras e é acusado de plágio no mestrado. O governo então passou a pressioná-lo para que apresentasse uma carta de demissão. 

Decotelli perdeu o apoio do grupo militar que o indicou ao governo. O texto da FGV dizia que Decotelli cursou mestrado na instituição, concluído em 2008. "Prof. Decotelli atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer uma das escolas da Fundação", completa a nota.

A situação é comum na instituição em cursos latu sensu, como MBAs. Neles, professores são chamados como pessoa jurídica e atuam apenas em momentos específicos. Isso quer dizer que ele não fez parte do corpo docente da instituição, e sim foi apenas professor colaborador. "O presidente disse que se até a a FGV estava negando que fui professor era inviável continuar", disse Decotelli à CNN. Segundo o Estadão apurou, a nota da fundação abalou muito o economista. Para Decotelli, houve uma "construção fake da FGV" já que ele atuava na instituição, segundo ele, "há 40 anos".

Nomes

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Outro cotado para substituir Decotelli é o ex-pró-reitor da FGV Antonio Freitas, defendido pelo mesmo grupo militar e pelo dono da Unisa, Antonio Veronezi, que tem exercido grande influência no governo. Ele é professor titular de Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE). Na profusão de nomes sendo indicados, surgiu também o de Gilberto Gonçalves Garcia, que tem formação em Filosofia e foi reitor de várias universidades privadas.

Outro nome que surgiu foi o de Marcus Vinícius Rodrigues, que foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) na gestão de Ricardo Vélez. Ele é engenheiro e ligado ao mesmo grupo militar de Decotelli. Rodrigues deixou o Inep depois de desentendimento com o grupo ligado a Olavo de Carvalho. 

Além dele, o evangélico Benedito Guimarães Aguiar Neto, que foi reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e hoje é presidente da Capes, no MEC, também é defendido por Veronezi. O secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, também esteve com o presidente na semana passada e voltou a ter chances. 

A preocupação dos militares e de educadores é que integrantes ligados a Olavo de Carvalho agora tenham argumentos para indicar um nome que prevaleça. O deputado Eduardo Bolsonaro teria sugerido Sérgio Sant'ana, ex-assessor especial de Abraham Weintraub e ligado a olavistas do governo. O nome de Ilona Becskehazy, que é a atual secretária de Educação Básica no MEC, também está sendo defendido por grupos considerados ideológicos.

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Na segunda-feira, o presidente chamou Decotelli para uma conversa e postou nas redes sociais que o economista estava sendo vítima de críticas para desmoralizá-lo. Mas deu um recado: "O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como está ciente de seu equívoco." E não indicou que haveria posse, anteriormente marcada para esta terça. Decotelli saiu da reunião dizendo que era o ministro da Educação.

Segundo fontes, no entanto, o fato de Decotelli ser contestado agora por uma instituição do País o fragilizou. Na semana passada, ele foi questionado por Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de Rosário, que disse que ele não conclui o doutorado. Nesta segunda, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também afirmou que ele não fez pós-doutorado na instituição. Decotelli mudou seu currículo na plataforma Lattes depois dos questionamentos.

Apesar de a nomeação ter sido publicada no Diário Oficial da União na quinta-feira, 25, Decotelli ainda não tinha poder para despachar. Ele já frequantava o MEC e preparava mudanças na pasta mas, oficialmente, os atos só teriam validade após a assinatura do termo de posse.  A cerimônia estava prevista para esta terça-feira, mas foi cancelada na segunda após a revelação de inconsistências no currículo do ministro. COLABOROU SANDY OLIVEIRA

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