Carlos Alberto Decotelli: As incoerências do quase ministro da Educação

Alegações de plágio e incorreções no currículo dele inviabilizaram sua permanência na pasta

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Por Redação
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Carlos Alberto Decotelli pediu demissão do cargo de ministro da Educação cinco dias após ser anunciado. O pedido veio do próprio governo, após o currículo dele ter sido questionado por universidades estrangeiras e pela Fundação Getúlio Vargas. Ele nem sequer foi empossado.

Carlos Alberto Decotelli não foi empossado no cargo de ministro Foto: Andre Sousa/MEC

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A chegada de Decotelli ao cargo significou a derrota da ala ideológica e uma vitória do grupo moderado militar. Ele foi responsável por contratações do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que, posteriormente, passaram a ser alvo de órgãos de controle. Ele esteve à frente do fundo de fevereiro a agosto do ano passado, no início da gestão de Jair Bolsonaro.

UNIVERSIDADE NACIONAL DE ROSÁRIO

Em seu currículo, constava o título de doutor pela Universidade Nacional de Rosário. Porém, o reitor da instituição, Franco Bartolacci, revelou que Decotelli não obteve o título. "Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar". Em entrevista à TV Globo, Decotelli disse que completou todos os créditos do curso, mas assumiu que não fez a defesa de tese. Segundo ele, porque não tinha mais interesse em permanecer na Argentina, onde afirma ter ficado de 2007 a 2009. Ele reeditou o currículo na plataforma Lattes.

PLÁGIO NA DISSERTAÇÃO DA FGV

O economista Thomas Conti apontou, no Twitter, possíveis indícios de cópia da dissertação de mestrado de Decotelli apresentada à Fundação Getulio Vargas (FGV). Conti citou trechos na dissertação idênticos a um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Após uma série de questionamentos sobre a sua formação e produção acadêmica, Decotelli disse em nota que iria mudar o currículo para "dirimir quaisquer dúvidas". Ele comunicou que as acusações de suposto plágio na dissertação de mestrado não envolvem "dolo" de sua parte e que "quaisquer omissões" devem-se a "falhas técnicas ou metodológicas", mas que está disposto a fazer uma revisão no trabalho. A FGV afirmou que investigará o caso.

AGORA NA ALEMANHA

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O pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também passou a ser debatido após a instituição fornecer informações diferentes das que constam no currículo do agora ex-ministro, informando que ele não obteve título de pós-doutorado. Após admitir que não concluiu doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Decotelli deixou de afirmar que realizou pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. O ministro alegou ter submetido à universidade um "projeto de pesquisa" sobre sustentabilidade e produtividade na automação de máquinas agrícolas, com apoio da empresa Krone.

MAIS PROBLEMAS NA FGV

A FGV também informou que Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição. "Prof. Decotelli atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da Fundação", afirma texto divulgado pela FGV. A situação é comum na instituição em cursos com esse perfil. Professores são chamados como pessoa jurídica e lecionam apenas em cursos específicos. Segundo a FGV, isso quer dizer que ele não faz parte do corpo docente da instituição e, sim, atuou como professor colaborador. O presidente Jair Bolsonaro ficou irritado ao saber de mais uma incoerência no currículo do indicado.

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