SÃO PAULO - Uma professora de Campinas Sque prestou o Enem de 2011 e entregou todos os cartões de respostas em branco teve notas maiores nos exames objetivos do que as pontuações mínimas divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, braço do Ministério da Educação responsável pelo exame.
Pela Teoria da Resposta ao Item (TRI), conjunto de modelos matemáticos usados na formulação e na correção das provas objetivas do Enem, nenhum candidato ganha nota zero por seu desempenho. Todo estudante recebe pontuação dentro de uma escala preestabelecida, com notas mínima e máxima.
Mônica Nunes leciona física no cursinho Oficina do Estudante e participou do Enem somente para ter acesso ao caderno de questões. Os candidatos que ficam até os 30 minutos finais do exame podem deixar a sala com a prova. Mônica precisava do material para fazer a correção comentada dos itens de sua disciplina.
"Até resolvi as questões de física, mas não passei para o gabarito. Não tinha interesse em preencher nada", afirma Mônica. Ela assinou o nome e respondeu à frase de verificação de presença. "Depois, só dormi. Os fiscais devem até ter achado estranho, porque estava sentada na primeira cadeira de uma das fileiras."
Mônica tirou 304,2 em Linguagens e Códigos, 321,6 em Matemática, 252,9 em Ciências Humanas e 269,0 em Ciências da Natureza. Recebeu zero na redação.
As notas mínimas, segundo o Inep, são 301,2 em Linguagens e Códigos, 321,6 em Matemática, 252,6 em Ciências Humanas e 265,0 em Ciências da Natureza.
A professora diz que achou "absurdo" ter tirado nota mais alta que a mínima em todas as provas, exceto matemática. Ela entrou em contato com o Fale Conosco do Inep no dia 2 de janeiro e recebeu como resposta uma mensagem com uma série de erros de português. "Como eles não responderam ao que eu queria saber, procurei o órgão outras duas vezes."
Mônica afirma ter lido as notas técnicas divulgadas pelo Inep sobre a TRI, mas em nenhuma encontrou a informação sobre a diferença de pontuações. "Já entendi toda a teoria, mas queria saber como funciona essa correção na prática. Enquanto o Inep não deixar as coisas claras, ficará vulnerável a críticas."
Inep
Após a reclamação de Mônica ser divulgada em sites noticiosos, o Inep publicou um comunicado em seu site justificando as diferenças nas pontuações. Segundo o instituto, as maiores e menores notas levam em conta a totalidade de participantes.
O órgão diz que as notas mínimas referem-se a uma "prova especial elaborada para alunos com deficiência visual". "A menor nota para alunos convencionais é um pouco diferente. Esta diferença se explica porque algumas questões que exigem acuidade visual podem ser substituídas por outras com uma calibragem distinta", afirma o Inep.
Quando foram divulgadas as notas mínimas e máximas do Enem, em 22 de dezembro do ano passado, o instituto não fez essa especificação.
* Atualizada às 22h para incluir a imagem da reclamação feita pela professora
* Atualizada às 23h15 para acrescentar as notas da candidata