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Cai rendimento dos alunos do Enem em matemática e redação

Tema e correção rígida podem ter influenciado em nota; 529.374 alunos zeraram em texto 

Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

Atualizada às 23h32

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BRASÍLIA - Uma semana e meia depois de o governo federal prometer uma reforma no ensino médio no prazo de dois anos, o Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta terça-feira, 13, que a média dos alunos concluintes do ensino médio que fizeram o Enem 2014 registrou uma queda de 7,3% em Matemática e de 9,7% em Redação, quando comparado o desempenho do mesmo perfil de estudantes que fizeram a prova em 2013. 

O ministro da Educação, Cid Gomes, reconheceu que o resultado não foi satisfatório e avaliou que, no cenário geral, considerando as outras áreas do exame, “não houve uma grande evolução”. No Enem 2014, a média dos alunos concluintes na prova de Matemática foi de 476,6 pontos, uma queda de 7,3% em relação ao desempenho dos alunos concluintes do ensino médio que fizeram o Enem 2013 - naquele exame, a média foi de 514,1 pontos. 

Em Redação, a queda foi ainda mais acentuada: a nota média dos estudantes concluintes de ensino médio foi de 470,8 pontos em 2014, um recuo de 9,7% em relação a 2013 (521,1 pontos).

Uma das possibilidades levantadas para o menor rendimento pode estar no tema da prova: em 2013, enfocou-se as restrições impostas pela lei seca; em 2014, as questões éticas associadas à publicidade infantil. “A lei seca foi uma questão muito debatida, discutida. O tema de agora não teve o grau de discussão que aconteceu como o de 2013”, observou Cid.

Notas individuais no Enem devem sair ainda nesta terça-feira Foto: Wilton Junior/Estadão

“O brasileiro está lendo pouco, os estudantes estão lendo pouco, o tema nesse caso não é tão popular; tudo isso dificulta. Mas, enfim, não dá para a gente fugir, camuflar ou tentar dizer que o ensino público brasileiro é bom. O ensino público está muito aquém do que seria o desejado, para isso que estamos aqui”, disse o ministro.

Pela primeira vez na história do Enem, os supervisores que atuaram no processo de correção das redações passaram por um processo de certificação, o que funciona como um “selo de qualidade”. A ideia do governo é que, futuramente, só vai corrigir o texto do Enem quem tiver sido certificado. “A gente está cada vez mais seguro de que com a nota dada não estamos prejudicando os alunos”, comentou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), José Francisco Soares. 

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Questionado pelo Estado se o aumento do rigor com os corretores de redação e o tema escolhido para a prova de 2014 poderiam ter levado à queda no desempenho dos estudantes, Soares admitiu não ter respostas. “São várias hipóteses.”

Apenas 250 de 6.193.565 participantes conseguiram obter a pontuação máxima na redação. Já a nota zero foi atribuída aos textos de 529.374 participantes (8,54%). 

Outras áreas. Em Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Linguagens e Códigos, o desempenho dos estudantes concluintes em 2014 foi melhor do que em 2013 - as variações positivas foram de 2,3%, 5,4% e 3,9%, respectivamente. Comparando o quadro geral, considerando todas as áreas, a média de 2014 dos estudantes concluintes do ensino médio no Enem foi de 499 pontos, ante 504,3 pontos em 2013 (uma queda de 1%). 

“Na média, foi estável. Ficou na margem de erro”, avaliou Cid. “(Se estou) Satisfeito? Claro que não.” 

Os participantes da Região Sudeste obtiveram o melhor desempenho nacional no Enem 2014; os da Norte, o pior.

Online. Sobre a aplicação de uma versão online da prova do Enem, nos moldes do SAT e do Toefl americanos, Cid Gomes ressaltou que o poder público tem limitações e evitou fixar prazos. O ministro até comentou a atual dimensão do Banco Nacional de Itens, informação escondida a sete chaves pelo MEC. “Deve ser muito pouco, se tiver 8 mil para tudo talvez é muito. Precisamos, no mínimo, de uns 40 mil”, revelou.

Durante coletiva de imprensa para apresentar os resultados do Enem, o ministro também disse que pretende incluir o exame como parte dos indicadores de avaliação do ensino médio. “O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é efetivamente o indicador que o MEC tem como oficial para ser o termômetro das políticas públicas. Penso em incluir o Enem como parte desses indicadores, pelo simples fato de que ele é anual; o Ideb é bianual”, comparou Cid.

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