Busca por intercâmbio após ensino médio sobe

Em dois anos, número de intercambistas entre 18 e 21 anos mais que dobrou - passando de 40,2 mil, em 2015, para mais de 90,9 mil em 2017

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Por Isabela Palhares
Atualização:

Em dúvida sobre o que estudar na faculdade, Laura Barboza, de 18 anos, saiu do cursinho pré-vestibular no ano passado para um intercâmbio de seis meses. Além de aprimorar o inglês, ela esperava que a viagem a ajudasse a ser mais independente e auxiliasse na escolha profissional. 

Assim como Laura, 3 em cada 10 brasileiros que vão estudar no exterior já são formados no ensino médio. É o que mostra uma pesquisa da Belta, associação nacional das agências de intercâmbio. Em dois anos, o número de intercambistas entre 18 e 21 mais que dobrou - de 40,2 mil, em 2015, para mais de 90,9 mil em 2017.

O Bruno Gonçalves Silva, de 21 anos, fez interc?mbio de um mês para o Canadá, quando tinha 18 anos. Intercâmbio de estudantes entre 18 e 21 anos mais que dobrou no país. Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ/ESTAD?O

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A pesquisa revela uma antecipação na procura pelo intercâmbio. Em 2015, a faixa etária com a maior procura era entre adultos de 30 a 39 anos (23,8%). Para Maura Leão, presidente da Belta, as famílias estão mais dispostas a adiantar o investimento e procuram as viagens para o exterior como forma de incentivar o jovem a amadurecer. + Intercâmbio ou desperdício?+ Com fim do Ciência sem Fronteiras, intercâmbio em graduação cai até 99%

“A graduação em outros países já é vista como uma realidade mais próxima para os brasileiros. Outra procura grande é a de quem quer fazer um curso de curta duração para vivenciar outra cultura, ter mais liberdade. Muitos querem fazer um gap year antes de ingressar na faculdade para amadurecer a decisão”, conta Maura. 

Laura diz que a mãe a incentivou a viajar por entender que, assim, teria mais firmeza na decisão entre cursar Medicina ou Odontologia. “Saí da escola e havia uma pressão para que eu soubesse o que queria estudar. Comecei a fazer cursinho, mas sentia que precisava de um tempo para decidir. O intercâmbio foi ótimo para me dar isso”, conta. + Oito passos para estudar no exterior+ Estudo no exterior é recurso para tentar se dar bem no Brasil+ Intercâmbio de duas semanas no Canadá que valeram por mais

Ela passou três meses estudando inglês na Nova Zelândia e depois fez um “mochilão” por mais três meses em países da Ásia. De volta ao Brasil, decidiu que faria Medicina, mas quer continuar a experiência no exterior e, por isso, vai para a Argentina em julho, onde começará a faculdade. “Amadureci demais nesses seis meses que fiquei fora. Aprendi a cozinhar, lavar roupa, me comunicar melhor, ser independente. Fui na época certa da vida porque conseguia dar valor a tudo o que a viagem me acrescentava”, diz.

Idioma

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Segundo a pesquisa, 46,4% dos intercambistas brasileiros que viajaram em 2017 foram fazer curso de idiomas e 12,1%, a graduação. A maior procura (30,5% dos que viajaram) é por cursos de curta duração (de até um mês). É o caso de Bruno Pontes que passou 30 dias no Canadá, país com maior procura para intercâmbio, para melhorar sua fluência em inglês. + Intercâmbio em Montreal: aprendendo francês e gastronomia “Sempre quis conhecer outros países, mas fazer intercâmbio nunca fez parte da minha realidade financeira. No primeiro ano da faculdade, percebi que, economizando um pouco por mês, conseguiria viajar e fazer um curso”, conta. Ele foi quando tinha 19 anos, durante as férias do trabalho. 

Para Pontes, o intercâmbio trouxe retornos profissionais. “Voltei com um perfil de independência e liderança que não tinha. Foi nítida a mudança, porque lá tive de me virar e resolver tudo sozinho. Isso com certeza é valorizado pelo mercado e me destacou no meu emprego”, diz. + Bolsas para estudar na Nova Zelândia

Andrea Tissenbaum, consultora e especialista em educação internacional, diz que o intercâmbio após o ensino médio é muito valorizado pelo mercado pelos benefícios que traz ao jovem. “No início da vida adulta, ele faz a viagem muito mais focado e aberto aos aprendizados e à cultura do país. Já o adolescente tende a ficar agrupado com outros brasileiros, não tem liberdade para viajar e conhecer o lugar e, por isso, não aproveita tanto.”

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