O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) está em busca de especialistas que possam contribuir para um software de tradução automática do português para outras 14 línguas mais faladas no mundo. O programa, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Avançadas da Universidade das Nações Unidas, em Tóquio, está praticamente pronto para ser usado. Só falta cada país, ou povo, inserir seu idioma. As 15 línguas incluídas no projeto representam 85% da população mundial. A iniciativa de preencher o vazio do português foi assumida pelo ministro Roberto Amaral com o diretor geral da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Koichiro Matsuura, com quem esteve reunido esta semana em Paris. "A linguagem do computador já está pronta", disse Amaral ao Estado, por telefone. "Agora precisamos alimentá-lo com vocabulário." Inventário Já participam do projeto pesquisadores das Universidades de São Paulo (USP) em São Carlos e Federal de Santa Catarina (UFSC). Ainda este ano, deverá ser realizado um seminário para fazer um inventário de outros especialistas que possam contribuir para o trabalho. Só com esse levantamento, disse Amaral, será possível estabelecer um cronograma. O ministério deve buscar, inclusive, uma parceria com o Instituto Antônio Houaiss, para uso do dicionário como base da língua portuguesa no programa. Mais do que inserir palavras é preciso "ensinar" o programa a entender o português e diferenciar entre significados de uma mesma palavra, como canto ou manga. "Ele precisa saber se cachorro-quente é comida ou um cachorro com febre", brincou Amaral. O software foi doado às Nações Unidas e poderá ser utilizado para troca de informações pela internet e em bancos de dados compartilhados. Satélite Outro acordo firmado pelo ministro em Paris consiste em compartilhar o uso do satélite sino-brasileiro CBERS com países africanos de língua portuguesa, começando por Moçambique. A Unesco deverá arrecadar fundos para a instalação de sensores e torres receptoras, enquanto o Brasil se compromete a organizar um intercâmbio de pesquisadores entre os países. A idéia é usar o satélite em previsão meteorológica e monitoramento ambiental. Em paralelo, o MCT vai estabelecer uma linha de bolsas para capacitar pesquisadores de Moçambique, nas áreas que desejarem, disse Amaral. "Precisamos defender nossa língua, que já perdeu muito espaço na África. É uma questão estratégica."