PUBLICIDADE

Bolsista nunca repetiu de ano

Os pais de Dayane Dias não concluíram o ensino fundamental, mas ela se prepara para o vestibular da UnB

Por Marta Salomon
Atualização:

Na sala de aula, Dayane Dias tomou a defesa da educação no País. A professora promoveu o julgamento em duas sessões, dias atrás. “Eu defendi, mas a educação brasileira foi condenada, falta qualidade, faltam professores interessados”, contou Dayane, de 17 anos, matriculada no 3º ano do ensino médio.

 

PUBLICIDADE

A menina, moradora do bairro pobre de Itapuã, a 30 km do centro da capital federal, teve basicamente um argumento para defender a educação no País: “É para todos.”

 

Sua família é beneficiária de programas de transferência de renda desde o início de sua vida escolar. Dayane nunca repetiu de ano e se prepara para ir à universidade, embora seus pais – um pedreiro e uma empregada doméstica – não tenham concluído o ensino fundamental. Ela disputa uma das vagas de Pedagogia na Universidade de Brasília (UnB). O irmão de Dayane, William, de 12, estuda numa escola do Plano Piloto.

 

Localizada em superquadra habitada por militares de patentes mais baixas, a escola também abriga filhos de empregadas domésticas e de funcionários terceirizados. Parte (6%) é beneficiária do Bolsa-Família.

 

William repete a quinta série. “Reprovei por causa das brincadeiras, ficava conversando”, conta ele, que se diz interessado pelas aulas de ética. “Às vezes, a aula fica chata, mas gostei quando falamos do que aconteceu no Haiti”, diz, com os números de vítimas do terremoto de janeiro passado na ponta da língua. Ele ainda não sabe o que quer ser quando crescer. “Talvez flautista. Já sei tocar Asa Branca.”

 

A diretora, Ana Paula Santos, acha que William amadureceu com a reprovação. Além das aulas de ética, a escola tem televisões de plasma em todas as salas – foram doadas. Ana Paula cuida de evitar a discriminação dos alunos do Bolsa-Família. “Um deles estava tão acanhado por usar um uniforme diferente, destinado aos beneficiários do programa, que preferia vir sem uniforme e levava advertência.”

 

A família de Dayane e William recebe R$ 180 por mês pela frequência dos três irmãos às aulas e ao posto de saúde - caso de Daniel, de 5 anos. O dinheiro, conta a mãe, Antônia, compra material escolar e ajuda na alimentação.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.