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Bolsas para esportistas nos EUA atraem brasileiros

Nas universidades americanas, brasileiros aliam formação acadêmica de primeira linha à chance de usar estrutura de treinamento digna dos jogos olímpicos

Por Ana Bizzotto , Carolina Stanisci e Elida Oliveira
Atualização:

Talento e dedicação são características comuns a Cesar Cielo, Thiago Pereira, Michael Jordan e ao agora polêmico Tiger Woods. Mas não as únicas. Todos eles, em algum momento de suas carreira, treinaram e estudaram em universidades dos Estados Unidos. A boa estrutura acadêmica e o alto nível técnico do esporte universitário americano atraem gente do mundo inteiro.   Não há estatísticas atualizadas para alunos-esportistas. Mas estudo publicado em novembro pelo Institute of International Education, ONG americana que trabalha com programas de educação e treinamento, mostrou que, de 2008 para 2009, houve aumento de 8% nas matrículas de estrangeiros em universidades dos Estados Unidos. O Brasil é o 13º país que mais envia alunos.   Para quem quiser seguir a mesma trajetória do Dream Team citado no início do texto, é necessário passar por algumas etapas. A primeira delas é entrar em contato com as universidades para conhecer as exigências de seleção, variadas, e a papelada, extensa.     Leia mais:  Esporte é lucrativo para universidades  Thiago Pereira volta às salas de aula     Todos os estrangeiros devem comprovar fluência em inglês, certificada pelo Test of English as a Foreign Language (Toefl), ter boa média no Scholastic Assessment Test (SAT, espécie de Enem americano), no qual cada universidade exige uma nota mínima, apresentar histórico escolar e cartas de recomendação. Para esportistas é preciso, ainda, mostrar talento. Muitos candidatos enviam vídeos para comprovar sua performance.      ARQUIVO PESSOAL Adriana Niclotti, de 22 anos: "Quero me profissionalizar aqui. Estou entre as dez melhores do país." O esforço vale a pena. Além de cursar boas universidades, os atletas participam de competições de alto nível – vários jogos têm transmissão ao vivo por canais de TV. A liga mais importante do país, a National Collegiate Athletic Association (NCAA), organiza 88 campeonatos de 23 modalidades e tem filiados em mais de mil universidades. Para participar dos torneios, porém, o estudante não pode ser profissional nem ter patrocínios.   O campeão olímpico Cesar Cielo, de 22 anos, é um dos brasileiros com bolsa de estudo integral. Chegou ao país em 2005 para cursar Comércio Exterior com especialização em espanhol na Universidade Auburn, no Alabama. Pela Auburn, ganhou dez ouros na 1ª divisão da NCAA.   Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Pequim, Cielo trancou matrícula, em maio de 2008, para se preparar. Depois, não pôde mais competir pela universidade, porque passou a ser considerado profissional. "Tenho até dezembro de 2011 para voltar às aulas."   "A NCAA investiga se o estudante é profissional", diz Felipe Fonseca, de 32 anos, diretor da Daquiprafora. A empresa já enviou, desde 2001, mais de 800 estudantes para os EUA. "Traçamos um perfil do atleta para saber qual é a universidade ideal. A partir daí, entramos em contato." Quando o esportista é desconhecido, a agência costuma enviar um vídeo e o currículo escolar para o técnico do time da faculdade – lá a figura do "coach" é mais poderosa que no Brasil. Cabe a ele decidir quem ganhará a bolsa, que cobre custos de aulas, moradia e alimentação, e definir se o auxílio será integral ou parcial.   As universidades não cobrem o custo da passagem aérea. Mas é possível conseguir ajuda para isso no Brasil mesmo. A Fundação Lemann, parceira da Daquiprafora, paga a passagem de candidatos com potencial esportivo (e acadêmico). "Nosso retorno é enorme. O forte do programa é a pessoa ter o mérito de passar numa universidade", diz Marta Sider, gerente do projeto na Lemann, que, só este ano, ajudou 32 brasileiros a entrar em universidades americanas.   Adriana Niclotti, de 22, é uma das beneficiadas pela Lemann. Caddy no clube de golfe de sua cidade, Gramado (RS), ela cursa o 2º ano de Negócios na Universidade Batista da Califórnia, perto de Los Angeles. Sua mãe é chefe de cozinha do clube em Gramado e o pai trabalha com transporte numa fábrica de geleias. Adriana já ganhou quatro torneios pela universidade, filiada à segunda liga mais importante do país, a National Association of Intercollegiate Athletics (Naia).   "Estava em dúvida se viria para cá. Seria caro para meus pais", diz a golfista, que não pretende voltar ao Brasil tão cedo e quer se profissionalizar nos EUA. "Estou entre as dez melhores do país."          ARQUIVO PESSOAL  João Paulo de Abreu Rodrigues, de 22 anos, provou que não goleiro profissional: "Todos os meus ex-treinadores tiveram que enviar e-mail para demonstrar que eu não era pago." O goleiro carioca João Paulo de Abreu Rodrigues, de 22 anos, foi para os EUA este ano pela Daquiprafora. Passou sufoco para provar à NCAA que não era profissional. Só foi liberado para jogar dias antes do início do campeonato, em agosto. "Se não participasse do torneio, perderia a bolsa", diz o calouro em Finanças na Universidade Barry, em Miami.   João Paulo atraiu a desconfiança da NCAA por ter jogado nas categorias de base de clubes profissionais, como Flamengo e Botafogo. "Todos os meus ex-treinadores tiveram que enviar e-mail para provar que eu não era pago."   Além de passar nos testes e ter seu passado investigado pela NCAA, os estudantes-atletas precisam manter as notas acima da média. "Senão eles tiram a universidade das competições e mandam os nadadores estudar", diz Cielo.   Comparar o esporte universitário no Brasil e nos EUA é impossível. "O orçamento de esportes das universidades daqui é parecido com o dos clubes de futebol do Brasil", diz o tenista João Marcelo Pinho, de 26. Segundo ele, a Ohio State, uma universidade de porte, destinou à área esportiva o equivalente a R$ 182 milhões em 2007. É quase o triplo dos R$ 65 milhões do orçamento de 2010 do Vasco, time pelo qual Pinho torce. "É por isso que eles têm tantas medalhas em Olimpíadas e nós, não."   Pinho trabalha atualmente na Intercollegiate Tennis Association (ITA), em New Jersey, e organiza torneios de tênis universitário. No país desde 2002, teve bolsa como tenista na Austin Peay State University, no Tennessee, e na Utah State University. Formou-se em Marketing e Administração de Recursos Humanos. Conheceu 31 Estados e chegou a ser assistente técnico do time da Universidade de Toledo, em Ohio. "Se puder, eu não volto. No Brasil não tem muito investimento em esporte."

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