Protesto de estudantes tem confronto com a PM no centro de SP

Manifestação tinha como alvo a desocupação de unidades de ensino sem mandado judicial; fotógrafa do 'Estado' foi agredida

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Confronto aconteceu na região central de São Paulo Foto: Gabriela Biló

SÃO PAULO - Estudantes que participavam de uma manifestação na região central de São Paulo na noite desta quarta-feira, 18, envolveram-se em um confronto com policiais militares, que chegaram a deter ao menos seis alunos alunos após uso de spray de pimenta e cassetetes - dois jornalistas foram agredidos em meio à repressão. 

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O movimento tinha como foco protestar contra à decisão do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em retirar, sem mandado judicial, alunos de ocupações em escolas técnicas na capital e cobrar pela instalação da CPI da Merenda, na Assembleia Legislativa do Estado. Às 18 horas, o grupo de cerca de 2 mil pessoas deu início à concentração no vão do Masp, na Avenida Paulista, e seguia em direção à sede da Secretaria Estadual da Educação, na Praça da República, quando houve o confronto por volta das 20 horas.

A fotógrafa Gabriela Biló, do Estado, impediu que um policial tomasse sua câmera e em seguida recebeu um jato de spray de pimenta no rosto. O fotógrafo André Lucas Almeida, da agência Futura Press também recebeu spray de pimenta e golpes de cassetete e teve seu notebook quebrado por PMs.Gabriela conta que foi agredida quando o ato chegou à esquina da Rua da Consolação com a Avenida Ipiranga. Ali, um estudante foi preso e a PM fez um cordão em volta dele, enquanto os manifestantes gritavam "sem violência".

"Corri para fotografar e, quando me aproximei o cordão se dispersou para afastar os manifestantes. A polícia bateu em todo mundo que estava em volta. Fiquei encurralada em uma esquina. Foi quando um policial gritou 'vaza, vaza', e tentou agarrar minha câmera. Continuei fotografando e ele disse 'conheço você' e espirrou o spray diretamente no meu rosto", disse a fotógrafa.

Almeida foi agredido no mesmo momento. "Os policiais começaram a agredir todo mundo a esmo, incluindo a imprensa. Jogaram spray de pimenta no meu rosto e eu corri. O mesmo PM que lançou o spray correu atrás de mim e bateu com o cassetete na mochila, trincando a tela do meu notebook. Muitos estudantes foram espancados".

O fotógrafo conta que mostrou o computador quebrado ao comandante da operação e recebeu como resposta: "Estava na hora errada, no lugar errado".

Procurada, a assessoria de comunicação da Polícia Militar não forneceu detalhes da ocorrência na noite desta quarta. 

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Reintegração. Sem decisão judicial, a Polícia Militar havia desocupado na sexta-feira, 13, três diretorias de ensino e a Escola Técnica de São Paulo (Etesp), no centro da capital. Ao menos 89 estudantes foram levados a delegacias para “prestar esclarecimentos”, segundo a Secretaria da Segurança Pública, na oportunidade.

Eles foram citados em boletins de ocorrência por dano ao patrimônio público, furto, ameaça e ato infracional de esbulho possessório (invasão). Já os alunos acusam policiais de agressão e ameaças e especialistas em Direito fazem críticas e ressalvas à ação.

A última Escola Técnica Estadual (Etec) ocupada por estudantes em protesto contra a falta de merendas foi liberada na noite desta terça-feira, 17. Segundo o Centro Paula Souza, a Etec Abdias do Nascimento, em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, os alunos desocuparam o local voluntariamente. 

Logo nos primeiros dias o prédio recebeu até visita do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que foi ao local discutir as demandas dos estudantes. As melhorias de infraestrutura prometidas pelo governador só seriam implementadas, no entanto, se houvesse desocupação do prédio escolar.

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O último ato dos alunos antes de deixar o prédio foi solidário. Reuniram todos os objetos recebidos em doações, a maioria de associações de pais e moradores, e levaram às vítimas do incêndio que atingiu cerca de 100 casas na favela no último sábado. 

Pelo menos 15 Etecs chegaram a ser ocupadas por alunos da rede estadual de ensino em ato por melhoria da merenda, pela instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa, para apurar a chamada Máfia da Merenda, e por outras reivindicações específicas de cada escola, como problemas de infraestrutura e falta de professores.

Reação. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) emitiu nota condenando a ação da polícia contra jornalistas nesta quarta-feira, 18. Veja a nota na íntegra:

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"A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) considera incompreensível e inaceitável que jornalistas dos diversos veículos de comunicação continuem sendo vítimas de violência por parte de policiais militares durante as coberturas jornalísticas das manifestações que acontecem pelo Brasil.   Na noite de quarta-feira (18), mais dois fotógrafos e um repórter cinematográfico foram agredidos por PMs enquanto faziam matéria sobre o protesto de estudantes no centro de São Paulo.   A jornalista Gabriela Biló, do jornal O Estado de São Paulo, fotografava o momento em que um estudante era preso, quando um policial tentou tirar sua câmera à força.Biló resistiu e continuou fotografando. Em seguida, o PM a atingiu com um spray de pimenta em seu rosto.   Marcelo Campos, repórter cinematográfico da TV Globo, foi agredido por um golpe de cassetete quando filmava a ação dos policiais, que batiam em estudantes que participavam do protesto.   O fotógrafo André Lucas Almeida, da agência Futura Press, também foi agredido com spray de pimenta. Um policial ainda bateu com o cassetete em sua mochila, trincando a tela do computador.   A ABERT continuará a se manifestar contra este tipo de ação, na firme expectativa do repúdio da sociedade e da apuração pelas autoridades competentes.   Vale lembrar que os agentes públicos têm como missão zelar pela segurança dos cidadãos e não a de impedir o livre trabalho da imprensa.

Daniel Pimentel Slaviero, presidente."