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ARTIGO: Os caminhos críticos do MBA

Há dúvidas sobre a qualidade de cursos e de escolas; Brasil precisa ter certificação própria

Por Paulo Resende
Atualização:

"Em 1996, ouvi o executivo de uma empresa de mineração dizer que seu sonho era poupar para fazer MBA nos Estados Unidos. Aos 30 anos, não pensava em casa ou no carro do ano, mas prioritariamente num diploma. Em 2006, outro executivo, de 26, disse que precisava fazer MBA, mesmo no Brasil, para buscar emprego em telecomunicações. Passaram-se dez anos entre os dois eventos e a questão da razão da demanda e, por conseguinte, da qualidade da oferta precisa ser discutida.

 

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Pairam dúvidas se a maioria das instituições de ensino aproveitou a mudança no perfil da demanda para oferecer cursos de baixa qualidade, usando em vão a sigla iniciada pelo M de Master, ou Mestrado. Questiona-se se não houve deterioração da expressão BA, Business Administration, pondo em xeque a qualidade da formação em gestão empresarial de quem adquire diplomas em “MBAs” espalhados pelo País. Paira a dúvida da relevância de cursos e, sobretudo, de escolas.

 

Infelizmente não temos um sistema de verificação de qualidade. As melhores escolas têm que buscar boas colocações em rankings e certificações estrangeiros que não desenharam seus quesitos baseando-se no contexto do nosso mundo corporativo. Já passa da hora de se ter uma certificação nacional.

 

Talvez um teste definitivo na busca da qualidade dos MBAs aqui oferecidos seja a abertura incondicional de mercado, forçando nossas instituições a melhorarem programas. Contrariamente, tem-se a impressão é da existência de uma proteção irresponsável de mercado que virá a prejudicar executivos, tanto os que sonham com um MBA de qualidade quanto os obrigados a ter o diploma.

 

Se qualidade é a meta, tem-se que debater outro caminho crítico dos MBAs: o currículo. Se ele se volta para entrega de conteúdo, o aluno terá visão crítica. Se entrega contexto, a sala de aula será transformada em consultoria para assuntos urgentes. As empresas tendem a gostar mais do segundo tipo, pois o indivíduo consegue entregar performance no curto prazo. Só que ele mesmo gostaria de se expor ao primeiro tipo, pois, dependendo da qualidade da instituição, formar-se-á um talento global. O equilíbrio se dará pelo tratamento dado às questões de tecnologia, currículo e metodologia de ensino.

 

O desafio tecnológico é enorme, principalmente no que tange ao acesso à informação em tempo real na sala de aula e ao equilíbrio entre ensino presencial e a distância. A conectividade do aluno poderá resultar em equilíbrio de forças entre seu acesso ao conhecimento online e o conhecimento do professor. E a atratividade em custos do ensino a distância não pode superar o valor dos módulos presenciais, onde o olho no olho ainda tem valor.

 

Pelo lado do currículo, as escolas terão de se decidir quem querem formar. A formação do especialista em gestão é fundamental, mas não devemos esquecer a necessidade de formação do indivíduo. O currículo não poderá abrir mão de assuntos relacionados à ética, sustentabilidade e inclusão social.

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Finalmente, as instituições terão de se convencer de que o papel do professor é de facilitador, mais do que profeta. A melhor metodologia de ensino do MBA do futuro reconhece que o conhecimento está presente no conjunto de indivíduos que trazem, cada um à sua maneira, uma experiência diferente que, somada às do grupo, resultará na verdadeira capacitação de executivos com talento global."

 

* Paulo Resende é diretor de Desenvolvimento da Fundação Dom Cabral, uma das top em educação executiva no País

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