Artigo: É urgente retomar com vigor a internacionalização

Glaucius Oliva, professor da USP e presidente do CNPq, fala sobre o desafio da USP para aumentar a relevância das pesquisas

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Por Glaucius Oliva*

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Embora com história científica muito recente, o Brasil tem alcançado avanços importantes em Ciência e Tecnologia, com impactos sociais e econômicos significativos. O ponto de inflexão ocorre com a criação da USP em 1934 e, na segunda metade do século XX, com a criação das agências de fomento CNPq, CAPES, FAPESP e FINEP, período caracterizado inicialmente pelo intenso investimento na formação de recursos humanos no exterior. A etapa seguinte envolveu a expansão do sistema universitário e de pesquisa e a consolidação do sistema de pós-graduação, com a concentração dos recursos na construção da infraestrutura de pesquisa e no oferecimento de bolsas no país. Sistemas de avaliação de pesquisadores e programas de pós-graduação promoveram forte estímulo à produção científica e à formação de mestres e doutores.

Os resultados alcançados são evidentes, levando o Brasil à 13a. posição entre os países que mais publicam trabalhos científicos, fruto de pesquisas realizadas em mais de 30 mil grupos, estruturados em 4.500 programas de pós-graduação e que se refletem nos 43 mil mestres e 13 mil doutores formados todos os anos e nos mais de três milhões de currículos de pesquisadores e estudantes registrados na Plataforma Lattes. Um efeito colateral negativo deste esforço de crescimento interno foi a redução na intensidade da cooperação internacional, com consequências graves no impacto e visibilidade da ciência brasileira.

É portanto urgente retomar com vigor a internacionalização de nossa ciência, não por fetiche trófico pelo Norte, mas como instrumento de melhora da qualidade, impacto e relevância do conhecimento novo aqui produzido, bem como de modernização do ensino universitário de graduação e pós-graduação, frente às demandas da sociedade por egressos mais flexíveis, multidisciplinares e preparados para a liderança e a criatividade. A exposição de nossos melhores talentos a ambientes educacionais e profissionais onde o empreendorismo, a competitividade e a inovação já são o padrão, tem também o potencial de impactar nosso ambiente produtivo hoje tão carente de incorporação de novas tecnologias.

Programas como o Ciência sem Fronteiras e outras ações de estímulo à mobilidade internacional de estudantes e pesquisadores, conduzidos por universidades e agências estaduais de fomento à pesquisa, com planejamento, escala e foco em demandas sociais estratégicas, tem potencial transformador para a ciência brasileira, em atenção às demandas da sociedade por maior aproximação entre os que produzem novos conhecimentos e aqueles que os consomem.

É portanto evidente a necessidade fundamental de ter no pais paradigmas de excelência, universidades de classe mundial, caracterizadas por forte atividade de pesquisa e ensino de graduação e pós-graduação de alta qualidade. Essas instituições são essenciais para a formação de lideranças profissionais e acadêmicas e o desenvolvimento cientifico e tecnológico do país, na visão moderna de integração entre a produção, apropriação, transmissão e aplicação do conhecimento, estabelecendo assim padrões de excelência e modelos a serem seguidos por outras instituições componentes do sistema. A história tem mostrado que a USP é engrenagem central na máquina da ciência, tecnologia e inovação do país, pois como registrado em seu brasão, Scientia vinces,  a ciência vencerá!.

*É professor titular do Instituto de Física e São Carlos – USP, e Presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

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