APRENDIZAGEM

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A maioria dos professores parece ter uma formação adequada em sua matéria específica, mas pouco ou nenhum treinamento prático em didática. Os professores simplesmente não sabem ensinar de maneira eficiente. As aulas são como palestras. É raro haver planejamento de aulas, com a introdução de um tópico e discussão em classe, seguidas por atividades em pequenos grupos ou pesquisa individual e, depois, por um debate final para fixar os principais pontos. A maioria dos professores não checa o progresso dos alunos, tampouco passa atividades de escrita. Dentre as aulas de ensino médio que observamos, menos da metade dos alunos estava de fato acompanhando a aula. O ensino da leitura na 1.ª série é crítico, como prova o analfabetismo funcional documentado entre alunos que completam a 4.ª série. Nas aulas de alfabetização, vimos o ensino das letras e sílabas, de caligrafia e soletração sendo feito com confiança e eficiência, mas a compreensão do texto pelo aluno fica muito atrás da sua habilidade para decodificar sons. As escolas não possuem livros organizados por nível de leitura na sala ou na biblioteca. Estudantes do magistério e professores acham impossível trabalhar com alunos individualmente, numa sala com mais de 30 deles. Em muitos casos, os próprios professores não dão o devido valor aos livros e outros materiais impressos, como mapas, gráficos ou meios de comunicação. Quando professores de qualquer série escrevem as perguntas na lousa, os alunos copiam e acham que a tarefa está completa. A falta de foco individual no aluno pode ser culpa da carga horária dos professores. Em São Paulo, onde o custo de vida é alto, eles costumam ter um terceiro turno, geralmente à noite, em uma outra escola, para suplementar seus baixos salários. Isso significa um dia de trabalho que pode ir das 7 às 23 horas. Professores na rede estadual ganham quatro horas semanais para participar de reuniões de planejamento curricular. O resto do tempo é na sala de aula. Um professor, trabalhando três turnos, pode ter mais de 600 alunos por semana. Mesmo assim, os professores podem fazer mais para melhorar suas aulas. A estrutura de emprego de professores permite um nível de tolerância de ausências que impossibilita uma boa administração escolar. Os professores têm direito a até 42 faltas, sem incluir nesse número as que são motivadas por doença e problemas familiares, além de 30 dias de férias pagas. Em uma das escolas, poucos dias antes de nossa visita, só a metade do quadro de professores comparecera ao trabalho. Como os alunos poderão estar convencidos de que sua educação é importante, se são tratados com tanta indiferença? A necessidade mais urgente é aumentar o compromisso dos professores com seus alunos e escolas. Obter esse tipo de vínculo é difícil, dentro da gigantesca máquina estadual. Um grande passo poderia ser a autonomia da escola para contratar seu corpo docente. A municipalização do ensino fundamental também pode ajudar. As escolas municipais que vimos são, em geral, mais bem administradas, em razão da identificação mais próxima da escola com o município. Há relativamente poucos cargos elevados nas escolas. As diferenças salariais decorrentes de promoções são inferiores aos valores pagos por tempo de serviço. Até o diferencial do salário de um diretor, em relação ao de um professor, é pequeno, para padrões internacionais. A formação do professor também precisa ser melhorada. Um tema controverso é o da promoção dos alunos no fim do ano letivo, mesmo para os que não alcançaram um rendimento mínimo. O Brasil sempre teve uma das mais altas taxas de repetência, segundo estudos da Ocde. Alunos que repetem o ano perdem o contato com seus colegas e podem se sentir humilhados e sofrer com a monotonia de repetir um ano inteiro. Está documentado que os alunos que repetem o ano têm maior probabilidade de parar seus estudos. O governo do Estado, para reduzir as taxas de evasão, introduziu a progressão continuada, mencionada por alguns diretores e professores de forma pejorativa como promoção automática. Na Inglaterra, os alunos também são promovidos automaticamente, mas os professores se preparam para dar aula a um grupo heterogêneo. Professores de alunos abaixo de 11 anos podem agrupar crianças dentro da sala, por nível de habilidade, pelo menos em parte do dia. Alunos com maiores dificuldades recebem atenção especial fora da sala de aula, para que possam se reintegrar melhor. A partir da 5.ª série, as escolas são maiores e os alunos são encaminhados a grupos paralelos para matérias básicas, às vezes com três níveis de capacidade, segundo o tamanho da escola. Porém, todos os professores devem ensinar para atingir vários níveis de habilidade. Na política da Secretaria de Educação falta essa abordagem para reduzir a repetição. A avaliação de alunos é feita, em grande parte, por meio da observação informal em classe e testes, no fim do período. Ela ainda carece de análise comparativa de dados, embora já tenha sido dado um primeiro passo significativo nesse sentido. A maioria dos professores não costuma prestar contas do rendimento de seus alunos. Veja os principais pontos da análise: PRIMEIRA IMPRESSÃO APRENDIZAGEM MATERIAIS DIDÁTICOS ORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS SUPERVISÃO ESCOLAR MERENDA RECURSOS FINANCEIROS FUTURO Leia também: Itaquaquecetuba tem escola exemplar Um ensino que tem muito a aprender Especialista inglesa analisa escola pública brasileira Jane Wreford Jane Wreford dirige a inspeção das autoridades escolares locais para a Comissão de Auditoria da Inglaterra

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.