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Andifes identifica resultados tímidos nas políticas alternativas em universidades

Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

Por enquanto, as políticas afirmativas adotadas pelas universidades obtiveram resultados "tímidos" quando analisado o panorama de todo o País, aponta pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) com estudantes de graduação. Levantamento feito no ano passado constatou que a proporção de alunos das classes C, D e E foi de 43,7% em 2010, ante os 42,8% verificados no estudo anterior, feito em 2003 e 2004.

 

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Quando observada a divisão por raça, cor e etnia, seguindo os mesmos critérios do IBGE, o porcentual de pretos, que era de 5,9%, chegou a 8,72%; o de pardos passou de 28,3% para 32,08%; o de amarelos caiu de 4,5% para 3,06%; e o de índios diminuiu de 2,0% para 0,93%.

 

"Os resultados são tímidos, mas reforçam a necessidade de aprofundar e ampliar as políticas afirmativas para diminuir as injustiças sociais. Também é preciso atingir esses estudantes com políticas de permanência estudantil", diz o presidente da Andifes e reitor da Universidade Federal de Ouro Preto, João Luiz Martins.

 

A avaliação é de que o número global dilui o impacto das políticas afirmativas, já que inclui também universidades onde não há ações nesse sentido. Além disso, a expansão da rede federal provocou não só o aumento do número de estudantes identificados como "pretos" (mais 29.524) e "pardos" (77.664), como também o de "brancos" (75.060), entre 2004 e 2010. O relatório, observa Martins, ainda não constata o impacto com a adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelas federais, impulsionada em 2009.

 

Pretos e pardos constituem 40,8% da comunidade universitária no nível de graduação - no último Censo, de 2010, a população brasileira que se classificou dessas duas formas foi de 50,74%. Sem as cotas, a Andifes acredita que as instituições federais seriam ainda mais elitistas. "Quando você percebe que a pesquisa aponta discrepância em relação à população, isso reforça a necessidade de ampliar as cotas", afirma João Luiz Martins. O maior aumento no número de estudantes classificados como "pretos" ocorreu nas regiões Norte (13,4%, contra 6,8% de 2004) e Nordeste (12,5%, ante 8,6%).

 

A pesquisa foi realizada entre outubro e dezembro de 2010, mediante aplicação de questionário para um grupo de 19.691 pessoas. O objetivo é aprofundar o conhecimento sobre a população estudantil para orientar a elaboração de políticas de equidade, acesso e assistência.

 

"A universidade tem de ser para todos", afirma a reitora da Universidade Federal do Mato Grosso, Maria Lúcia Cavalli, observando que a política afirmativa deve buscar resultados em todos os cursos, inclusive os de medicina, direito e engenharia, onde ainda há dificuldades.

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A pesquisa divulgada ontem pela Andifes revela algumas curiosidades. A maioria dos universitários (56,6%) usa transporte coletivo para chegar ao câmpus; 21,62% se desloca com transporte próprio e 18,6% vai a pé, de carona ou bicicleta. Mais de um terço trabalha (37,63%), índice que na região Sul chega a 46,34%, a maior do País. A faixa de até 24 anos concentra a maior parte dos alunos (74,5%).

 

Quando é feito a avaliação por situação de moradia, 55,28% dos estudantes vivem com pai, mãe ou ambos; 9,87% com o cônjuge; 9,67% em república; 6,33% mora sozinho. Apenas 2,52% dos universitários vivem em residências universitárias, o que evidencia o déficit de moradias estudantis, na avaliação da Andifes.

 

"É um número muito baixo, esse diagnóstico mostra com muita precisão a necessidade de ampliar a construção de novas moradias. As verbas destinadas à assistência estudantil precisam atender essa demanda", diz João Luiz Martins. Do período noturno, 52,5% dos estudantes são das classes C, D e E, enquanto que as classes A e B são predominantes nos períodos matutino (57,9%) e integral (65,3%)

 

Procurado pelo Estado, o Ministério da Educação (MEC) afirma que recebeu o estudo da Andifes apenas no final da tarde de ontem, sem tempo para analisá-lo. "No entanto, não se compreende a suposta afirmação de que os avanços na inclusão de pessoas de baixa renda tenham sido tímidos, simultaneamente ao pedido de mais verbas de assistência estudantil, que saltaram de R$ 125 milhões em 2008, para R$ 413 milhões em 2011", disse a pasta.

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