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Análise: Descompasso entre diagnóstico e propostas para ensino médio

'Não é possível pensar etapa sem considerar educação básica como um todo'

Por Anna Helena Altenfelder
Atualização:

A escolha de percursos formativos e a flexibilização do currículo a princípio não são ideias a ser combatidas, mas elas requerem uma capacidade de implementação que nos traz preocupações e desafios imensos para o País.

A primeira preocupação é que não é possível pensar o ensino médio sem considerar a educação básica como um todo. Os dados de avaliações externas como o Pisa nos mostram que os alunos chegam a essa etapa com deficiências enormes no ensino. Que condição de escolha damos a esse estudante que não teve seu direito de aprendizado respeitado no ensino fundamental? 

Texto estabelece que, a cada ano, 60% da carga horária seja destinada à Base Nacional Comum Curriculare 40% aos itinerários formativos Foto: Lucio Bernardo Junior / AGENCIA CAMARA

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Além desse ponto, há ainda o risco de os itinerários formativos serem oferecidos, sobretudo, de acordo com as capacidades das redes de ensino, e não de acordo os contextos locais e os interesses das diversas juventudes.

Outro ponto a considerar são os estudantes de municípios pequenos com poucas escolas e as periferias das grandes cidades, que são exatamente aqueles que precisam de uma atenção e política especial e podem ser ainda mais prejudicados na sua possibilidade de escolha. Eles vão ter seu futuro determinado pela sua condição e não efetivamente por uma escolha.

Aprovada a medida provisória, essas preocupações permanecem. E ainda não temos resposta sobre como garantir a escolha a esses estudantes.

A proposta quer combater a evasão e o desinteresse dos estudantes e garantir a qualidade do aprendizado. Mas existe um grande descompasso entre o diagnóstico que foi feito, a intenção e as medidas que efetivamente são propostas. 

O texto aprovado pela Câmara dos Deputados não avança em relação ao diagnóstico e ainda corremos o risco de precarizar ainda mais essa etapa de ensino. 

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É SUPERINTENDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA (CENPEC)

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