Currículo, formação docente e ensino integral devem ser prioridades para avançar no Pisa

Prova internacional avalia alunos de 15 anos; Brasil ficou atrás de Chile e Uruguai

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Por Mozart Neves Ramos
Atualização:

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou nesta terça-feira, 3, os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Trata-se de uma avaliação comparada para estudantes de 15 anos de idade, de 79 países em Leitura, Matemática e Ciências.

Dados do Pisa foram divulgados nesta semana. Foto: Helvio Romero / Estadão

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O Pisa 2018 oferece informações sobre o desempenho dos estudantes, vinculando dados sobre seus backgrounds e suas atitudes em relação à aprendizagem, e também aos principais fatores que moldam tais aprendizagens, dentro e fora da escola.

No âmbito global, o destaque fica na Ásia: o bloco Beijing, Shanghai, Jiangsu e Zhejiang (B-S-J-Z) da China ficou em 1º lugar, seguido muito de perto por Cingapura, Estônia, Canadá, Finlândia, Hong Kong (China), Irlanda, Macau (China) e Polônia. Daqui, vale o registro de dois pontos: a Finlândia, campeã do Pisa dos anos 2009 e 2012, aparece cada vez mais distante dos países asiáticos; em segundo lugar, por outro lado, é gratificante verificar os crescimentos consistentes da Estônia e da Polônia, seguidos de perto pela Irlanda.

Olhando a América do Sul, a boa novidade vem do Peru, que ainda está distante do melhor dos países avaliados no continente, como o Chile, mas que vem apresentando um crescimento consistente desde 2009. Já o Brasil está literalmente estagnado e num patamar muito baixo frente à média da OCDE, além de ter apresentado um desempenho muito aquém dos dois melhores países da América do Sul: Chile e Uruguai. É possível também verificar a enorme distância que separa os países da América do Sul da média da OCDE.

Tabela 1

Desempenho dos países da América do Sul no Pisa 2018 em leitura, matemática e ciências

  • Chile - 452 pontos (Leitura), 417 pontos (Matemática) e 444 pontos (Ciências)
  • Uruguai - 427 pontos (Leitura), 418 pontos (Matemática) e 426 pontos (Ciências)
  • Colômbia - 412 pontos (Leitura), 391 pontos (Matemática) e 413 pontos (Ciências)
  • Brasil - 413 pontos (Leitura), 384 pontos (Matemática) e 404 pontos (Ciências)
  • Peru - 401 pontos (Leitura), 400 pontos (Matemática) e 404 pontos (Ciências)
  • Argentina - 402 pontos (Leitura), 379 pontos (Matemática) e 404 pontos (Ciências)
  • Média da OCDE - 487 pontos (Leitura), 489 pontos (Matemática) e 489 pontos (Ciências)

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O Pisa traz também um cenário que já era claro nas próprias avaliações nacionais, como a Prova Brasil, do Ministério da Educação (MEC). Mostra uma grande desigualdade entre dois grandes blocos: Sul e Sudeste versus Norte e Nordeste. A média das regiões Sul e Sudeste no Pisa 2018 é de 428 pontos, similar ao desempenho do Uruguai; enquanto o desempenho das regiões Norte e Nordeste é de 390 pontos, em média, e muito próxima à performance da Argentina – o país que ficou na lanterna da América do Sul.

O Brasil tem chances de reverter esse quadro? Talvez, se tomar algumas atitudes essenciais para uma verdadeira mudança, como a adequada implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e efetivação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Base Nacional de Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, já aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em colaboração com o Ministério da Educação.

Além disso, avançar de forma mais intensa na política de escolas de tempo integral com educação integral, escalando iniciativas que já demonstram resultados eficazes. E mais: precisa aproveitar as discussões sobre o novo Fundeb, não só para colocar mais recursos, mas de distribuí-los com base nos resultados de aprendizagens. Não há tempo a perder, o Brasil precisa sair dessa estagnação educacional!

*MOZART NEVES RAMOS É DIRETOR DE ARTICULAÇÃO E INOVAÇÃO DO INSTITUTO AYRTON SENNA

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