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Ameaças esvaziam escolas do Rio

"Eu não posso abrir a escola sem que as famílias saibam das ameaças. E se cair uma bala por aqui? Não posso pedir a um pai que exponha seu filho a esse risco", diz diretor do colégio Andrews

Por Agencia Estado
Atualização:

A Secretaria de Segurança Pública está tentando convencer a população do Rio de que o pânico disseminado em escolas da cidade, que têm recebido supostas ameaças de traficantes por telefone desde que a Universidade Estácio de Sá foi atacada, esteja sendo motivado por uma onda de boataria. Segundo o secretário Anthony Garotinho, alguns dos autores das ligações pediram dinheiro e até indicaram números de contas bancárias inexistentes para que as quantias fossem depositadas. Nesta sexta-feira, diversas escolas da capital fecharam as portas por conta de telefonemas. Trote Para Garotinho, depois que a estudante Luciana Gonçalves de Novaes foi baleada na Estácio, criou-se um clima de pânico generalizado e há pessoas estão se aproveitando disso para extorquir os donos das escolas. Ele disse que a polícia está investigando a onda de boataria. "Em 99% dos casos, é trote", disse o secretário. O chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, condenou a atitude das escolas que deixaram de funcionar. "A cidade não pode se curvar." No caso do Colégio Andrews, em Botafogo, o delegado disse que havia garantido o funcionamento com a presença de policiais. Mas, mesmo assim, a direção preferiu cancelar as aulas de ontem. O Andrews tem 85 anos e é um dos mais tradicionais da zona sul do Rio. Deixou de funcionar ontem pela primeira vez desde que foi fundado por causa de dois telefonemas ameaçadores. Lins acha que alunos e funcionários também podem estar por trás dos trotes. Além do Andrews, outra escola tracidicional, o Anglo-Americano, também em Botafogo, deixou de funcionar, na parte da tarde. Em Copacabana, quatro creches fecharam. Há 40 anos na direção do Andrews, Edgar Flexa Ribeiro está apreensivo com a violência e acredita que a escola não recebeu um trote. "Pelo o que o vice-diretor (que recebeu o primeiro telefonema) ouviu, não foi aluno." Ele contou que, depois da segunda ligação, mais ameaçadora, a escola suspendeu as aulas. "Eles disseram: ?Quer dizer que vocês abriram? Então vão nos peitar? Vamos botar para quebrar.?" Ribeiro contou que os pais apoiaram a decisão da escola. "Eu não posso abrir a escola sem que as famílias saibam das ameaças. E se cair uma bala por aqui? Não posso pedir a um pai que exponha seu filho a esse risco." O diretor teme pelo que possa acontecer quando a PM sair da porta da escola. No Anglo Americano, os alunos, também dispensados por causa de uma ligação telefônica, estão apreensivos. "Estou com medo. Disseram que ligaram para a escola, mandando fechar, mas a diretora negou. Disse que a gente ia embora só por precaução", disse A., de 12 anos, chorando. A mãe de outra aluna chegou às pressas para buscar a filha. "Ela me ligou chorando." A professora de espanhol Adelaine Barroso, de 41 anos, sustenta a tese da boataria. "As pessoas estão em um estado de pânico. As informações chegaram por parte dos alunos. Não sei até que ponto são verdade." A escola manteve ontem todas as janelas de frente para a rua fechadas. No colégio Santo Inácio, também em Botafogo, as aulas ocorreram normalmente, mas um PM ficou de prontidão no portão. A escola fica próxima ao morro Dona Marta. "Tenho medo. A gente escuta tiroteio por aqui. Sempre tem assalto no ponto de ônibus", disse a estudante Ara Pecego, de 17 anos. Outra onda de boataria tomou conta da cidade em setembro do ano passado, quando comerciantes de toda a Região Metropolitana fecharam as portas depois de receberem telefonemas de supostos traficantes.

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