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Estudantes da USP param debate de cota e enfrentam a PM

Alunos reivindicam reserva maior de vagas em todos os cursos; confronto foi na frente da residência universitária

Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Contra a proposta da Universidade de São Paulo (USP) de adotar cotas raciais e sociais apenas para a parcela de vagas reservadas ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), alunos da universidadeinterromperam, na tarde desta quinta-feira, 16, uma reunião do Conselho de Graduação que iria analisar e referendar o uso do sistema, que utiliza a nota do Enem e reserva uma parte das vagas para candidatos de escola pública e autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI). Mais à noite houve confronto com a Polícia Militar.

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De acordo com a Reitoria, os alunos entraram no prédio e interromperam a reunião, que foi finalizada sem deliberação. Segundo os estudantes, a Polícia Militar comunitária usou spray de pimenta para retirá-los. 

Marina Nunes Dias, de 20 anos, estudante de Filosofia e integrante do movimento Quilombo Raça e Classe, disse que os alunos interromperam a reunião para demonstrar insatisfação com a decisão da USP de apenas adotar cotas via Sisu. “A gente reivindica que as cotas raciais sejam proporcionais à população negra e indígena do Estado, que é de 30%. Se só colocam cotas via Sisu, a USP aumenta ainda mais a elitização.”

De acordo com a Reitoria, os alunos entraram no prédio e interromperam a reunião, que foi finalizada sem nenhuma deliberação Foto: Alex Silva/Estadão

Em assembleia posterior, com a presença de policiais militares, que fizeram um cerco à Reitoria, os alunos votaram por desocupar o estacionamento e optaram por não invadir outros prédios. Mesmo assim, um grupo se deslocou até a antiga reitoria e tentou entrar no prédio. Um carro da guarda universitária e uma porta do prédio tiveram o vidro quebrado com pedras jogadas por estudantes.

A PM interveio, com bombas de gás de efeito moral e os estudantes revidaram com pedras. Houve correria e a confusão se estendeu até os vizinhos prédios de residência universitária do Crusp, onde parte dos alunos se escondeu da polícia.

A polícia seguiu os manifestantes até o residencial. Das janelas, moradores jogaram objetos contra os PMs, que responderam com bombas de gás. Residentes gritavam que havia mulheres e crianças e pediam o fim da ação policial. A confusão persistia à meia-noite.

Outros cursos. Nesta quinta, o Estado mostrou que a Escola de Comunicação e Artes (ECA) vai adotar o Sisu. Para o próximo vestibular, todos os cursos de Comunicação – Educomunicação, Biblioteconomia, Jornalismo, Editoração, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Turismo – vão separar 81 vagas pelo sistema. Dessas, 34 serão reservadas para PPI.

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A adoção do Enem como forma de seleção, em conjunto com o vestibular da Fuvest, começou na USP no ano passado, como aposta para aumentar a inclusão de alunos de escola pública – a meta é de 50% até 2018. No entanto, a medida afastou ainda mais a USP de alcançar sua meta, já que o índice de inclusão caiu de 35,1%, em 2014, para 34,6% no ano passado.

A adoção de cotas sociais e raciais na instituição é pauta antiga do movimento estudantil e já ocorre nas universidades federais desde 2012. No mês passado, alunos ocuparam diversas unidades, incluindo a ECA, reivindicando a adoção da medida e mais políticas de permanência estudantil.

Alunos fizeram assembleia na frente da Reitoria Foto: Alex Silva/Estadão

A adoção de cotas pelo Sisu também está sendo discutida no Departamento de Matemática, do Instituto de Matemática e Estatística (IME), e na Esalq de Piracicaba. A intenção é reservar um porcentual de vagas para alunos de escolas públicas e para pretos, pardos e negros.

Já na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o Sisu já havia sido adotado no ano passado. Para este ano, a Congregação defende aumentar a reserva das vagas.