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Alunos do ITA recebem diploma após 40 anos

Considerados subversivos pelo regime militar, 21 alunos prestes a se formar foram expulsos da instituição entre 1965 e 1975

Por Agencia Estado
Atualização:

Quase 40 anos depois de serem expulsos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), seis ex-alunos da faculdade considerada referência no País terão direito a colação de grau e diploma. Entre 1965 e 1975, época da ditadura, 21 alunos prestes a se formar foram expulsos da instituição. Eram considerados subversivos pelo regime militar. A concessão dos seis primeiros diplomas foi aprovada por unanimidade na semana passada pela Congregação do ITA. Os outros casos estão sendo analisados. "Ainda depende da autorização do reitor e da direção do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), mas acreditamos que todos serão a favor", afirmou um ex-reitor da instituição, o professor aposentado Marco Antonio Cecchini. Ele faz parte do chamado Grupo dos Sábados, formado por ex-alunos do ITA. Profissão passou Aos 61 anos, Luiz Maria Guimarães Esmanhoto está feliz em receber o diploma, mas sabe que o exercício da profissão de engenheiro aeronáutico ficou no passado. "Fiz o quinto ano duas vezes. Na primeira, fui suspenso e na segunda vez fui expulso. Depois disso foi muito difícil conseguir entrar em qualquer outra faculdade." Esmonhoto foi para o Rio e durante três anos trabalhou em informática de dia e no teatro à noite. "Mas, naquela época, quem trabalhava em teatro também era perseguido." O ex-aluno chegou a montar peças com os atores Paulo Goulart e Nicette Bruno. Depois foi para São Paulo e Curitiba e hoje é consultor em informática na capital paulista. Para ele, a concessão do diploma o remete à lembrança de seus pais, que sofreram muito "pela injustiça do delito de opinião". "Tenho o maior respeito pelo ITA e acredito que para a instituição este é o momento de passar aquela história a limpo." Tortura A mesma opinião têm os engenheiros mecânicos Sérgio Salazar, de 54 anos, e Osvair Trevisan, de 52. Ambos se formaram pela Unicamp em 1977, dois anos após serem desligados do ITA, três semanas antes da formatura. Levados para o DOI-Codi, em São Paulo, foram torturados. "Se não fosse Vladimir Herzog, não sei o que seria da nossa vida. Passamos pelo inferno", relembram. A repressão veio porque eles integravam o Centro Acadêmico do ITA, que um ano antes havia conseguido derrubar uma medida que visava a tornar o ITA uma escola exclusiva de militares. Resgate moral Trevisan e Salazar foram presos em 1975, com base na Lei de Segurança Nacional e, em dezembro de 1976, condenados pelo Superior Tribunal Militar. Tiveram de cumprir mais nove meses no presídio do Hipódromo, em São Paulo. Só depois puderam recomeçar a carreira. Hoje, Trevisan é professor e diretor do Departamento de Petróleo da Unicamp e Salazar, consultor em qualidade total, após ter sido professor da Unicamp e engenheiro da CPFL. O diploma não vai mudar a vida deles. "É um resgate moral para o ITA. Significa que a escola cometeu erros e quer repará-los", acredita Trevisan.

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