Alunos da rede pública voltarão para escolas de lata

"É muito quente. A gente fica suando lá dentro", lembra. "Quando chove, faz tanto barulho que não dá nem para fazer a lição."

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Por Agencia Estado
Atualização:

Daqui a três semanas, quando começam as aulas na rede pública de São Paulo, Andressa Moreira da Silva, de 10 anos, volta para a escola na qual estudou no ano passado com uma perspectiva não muito estimulante. Terá de suportar o calor sufocante do verão dentro de uma sala feita de lata com outros cerca de 30 colegas da 3.ª série. "É muito quente. A gente fica suando lá dentro", lembra. "Quando chove, faz tanto barulho que não dá nem para fazer a lição." Cerca de 80 mil alunos, da pré-escola ao ensino fundamental, terão de se contentar este ano em estudar em escolas ou em salas feitas de metal, uma solução provisória que começou a ser adotada há cinco anos e até agora não foi substituída plenamente, nem pelo governo do Estado, nem pela Prefeitura. Ao todo, são 58 escolas municipais (todas herdadas da gestão Celso Pitta), além de 235 salas e 88 escolas estaduais - estas últimas feitas com paredes de madeira e isopor e revestidas de metal. No ano passado, a então secretária municipal de Educação Eny Maia, anunciou um programa gradual de substituição dessas escolas. Prometeu desativar 14. Substituiu uma. A Secretaria Estadual de Educação informou que a meta anunciada pelo secretário Gabriel Chalita de desativar 14 unidades (anexadas a escolas de alvenaria) foi atingida, mas somente na capital há ainda mais 62 salas de lata. Atualmente, 48 mil, dos cerca de 900 mil alunos do Município, estudam em escolas de lata. No Estado, são 33 mil, de um universo de quase 6 milhões. As escolas e as salas surgiram como uma saída para o atendimento de emergência à demanda de matrículas. O tempo gasto na montagem de uma delas é muito menor que o da construção de uma escola convencional de alvenaria. A alternativa, porém, logo foi condenada como medida antipedagógica e mobilizou políticos, educadores e o Ministério Público. No caso das escolas municipais, apareceram ainda denúncias de superfaturamento, registrados no relatório final da CPI da Educação, de 2001, da Câmara. "Apontamos indícios de superfaturamento e denunciamos a falta de planejamento da antiga secretaria no atendimento à demanda", diz o vereador petista Carlos Giannazi, que presidiu a CPI. Sob a atual gestão, a Prefeitura não ergueu mais nenhuma escola de lata. O Estado desativou todas as que funcionavam em modelos semelhantes a contêineres e desistiu de construir os demais modelos há um ano. Leque - Mas as que restaram continuam incomodando. "Quando chove mais forte, parece que estão jogando granizo no telhado", compara João Carlos Alves de Jesus, de 10 anos, que vai para a 4.ª série este ano na Escola Estadual Jardim Santa Fé 2, no Jardim Santa Fé, zona sul. Na rede estadual, as aulas começam em 10 de fevereiro; na municipal, 6. A escola de João é uma das 88 estaduais revestidas de aço pré-moldado e cobertas por telhas metálicas. O governo considera esse modelo melhor que os anteriores e pretende substituí-las somente após 2004. João reclama. No ano passado, para lutar contra o abafamento, resolveu inovar. "Troquei um card por um leque do tipo de japonês para me abanar na classe, se não suava até morrer." "Quando esquenta, as crianças quase não agüentam. Ainda mais o meu filho, que tem bronquite", diz Ângela Salomão, mãe de Renan, que cursará a 4.ª série na mesma escola de Andressa, a Escola Municipal Jardim Eliana, na região do Grajaú, zona sul. Para tentar melhorar as condições dos filhos, Ângela, como outros pais, contribuiu mensalmente com R$ 1 para a Associação de Pais e Mestre equipar as salas com ventiladores e cortinas. Embora conheça bem o desconforto, Ângela enfrenta a dificuldade de encontrar vagas em escolas de algumas regiões mais afastadas da cidade e busca um lugar para seu filho mais novo na 1.ª série da mesma escola de Renan. "É difícil vaga para a 1.ª série por aqui. Se conseguir uma nessa escola, vai ser melhor que nada."

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