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Alunos da FGV e do Mackenzie protestam contra adiamento de volta presencial

Há dois anos no ensino remoto, estudantes reclamam de mudança de última hora. Nas universidades federais, volta só deve ser em abril porque o semestre letivo de 2021 ainda nem acabou

Foto do author Renata Cafardo
Foto do author Leon Ferrari
Por Renata Cafardo e Leon Ferrari
Atualização:

Depois de dois anos com aulas online, alunos do ensino superior protestam contra instituições que adiaram mais uma vez a volta presencial este mês. Nesta segunda-feira, 7, estudantes da Fundação Getulio Vargas (FGV) fizeram uma manifestação na frente do prédio, na Bela Vista, na região central da cidade, pedindo o retorno ao câmpus. Estudantes também reclamam do ensino remoto no Mackenzie, Cásper Líbero e em universidades federais.

Alunos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que não querem mais aula online protestaramna capital paulista, na manhã do dia 7 de fevereiro. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 07/02/2022

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Neste momento, não há nenhum impedimento na capital ou no Estado para o funcionamento do ensino superior presencial. As escolas públicas e particulares de ensino básico já retornaram este mês. Em 27 de janeiro, o Conselho Nacional de Educação (CNE) divulgou nota sobre o ano letivo de 2022 no básico e superior dizendo que o retorno presencial às aulas “deve ser a prioridade do País (...) considerando os déficits de aprendizado constatados desde o ano de 2020”. Diz ainda que onde “a intensidade do contágio da covid-19 for classificada em nível elevado pelas autoridades sanitárias competentes”, a volta pode ser adiada. 

“Está tudo funcionando, mas as nossas aulas não podem?” , questiona Anna Helena Antoniolli Martins, de 19 anos, aluna de Administração de Empresas da FGV. Os mais afetados são os que ingressaram na faculdade no meio da pandemia e não conseguiram ainda participar do ambiente universitário. “Meu pai tinha dito que seria a melhor época da minha vida e só fui duas semanas para a FGV, muito triste ver que já perdi metade da minha faculdade”, diz ela, que foi aprovada no começo de 2020 e estava no protesto nesta segunda-feira.

'Já perdi metade da minha faculdade', diz Anna Helena Antoniolli Martins, que foi aprovada no começo de 2020 e estava no protesto de alunos da FGV na segunda-feira, 7. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 07/02/2022

Os estudantes seguravam cartazes que questionavam a alta mensalidade da instituição - cerca de R$ 6 mil - e a não possibilidade sequer de ensino híbrido. “EAD (ensino a distância) mais caro do Brasil”, dizia um deles. Para Anna, o ensino online não tem a qualidade do que receberia no presencial. 

O carioca Pedro Rufino, de 20 anos, também aluno da FGV, chegou a alugar um apartamento na cidade no começo do ano porque a instituição havia anunciado aulas presenciais em fevereiro. Desde que ingressou na faculdade há um ano e meio não tinha vindo morar em São Paulo porque só teve aulas remotas. “Estava animado, mas um dia antes de eu chegar, mudou tudo de novo. É muita frustração, que gera ansiedade.” Depois do protesto, ele foi um dos estudantes recebidos por um representante da FGV, mas disse que não viu “flexibilidade” na conversa e sente “que os estudantes não são ouvidos”. 

Procurada, a FGV informou que as aulas presenciais voltam em 14 de março e que a medida “visa garantir a segurança dos seus estudantes, professores, colaboradores e de seus familiares, bem como da sociedade como um todo”. O adiamento, segundo a instituição, foi decidido  seguindo o "comitê científico" contratado pela FGV.

O Mackenzie também adiou a volta para 12 de março e começou hoje as aulas da graduação de forma online novamente. “O grande medo é que depois do carnaval podem adiar novamente e deixar o semestre todo online”, diz Victor Duarte, de 20 anos, que cursa Direito desde 2021 na instituição. Ele também havia alugado o apartamento na cidade após o anúncio em dezembro da volta presencial, mas o local agora está vazio. Victor voltou para a casa dos pais, em Santos. 

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“Está todo mundo desanimado com o curso porque tudo é pela internet, não convivemos com o professor, com o câmpus”, diz ele, que organizou também um pequeno protesto na porta da universidade. Há ainda outro grupo de alunos que reinvidica a volta com ensino híbrido, mas ambos dizem não ter resposta do Mackenzie. Victor conta que, por outro lado, as festas da faculdade já estão acontecendo e reúnem milhares de estudantes. Não há nenhuma restrição a eventos no Estado atualmente.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) informou na noite desta segunda-feira que a previsão é manter as aulas onlines por quatro semanas. A instituição justificou a decisão de manter esse modelo no início deste ano letivo de 2022 como forma de proteger a saúde do corpo docente, de alunos e funcionários que mantém relação com a universidade. "[A decisão] visou evitar que um eventual fluxo de contágios dentro da instituição e, em especial, entre seu corpo docente pudesse resultar numa possível suspensão das aulas, uma vez que é determinado o afastamento obrigatório dos infectados pelo período mínimo de 10 dias", disse em nota.

Apesar da decisão de manter as aulas online, também afirmou que "compreende e se solidariza com a frustração da parcela de seus alunos que desejava um retorno imediado a modelos híbridos ou presenciais". "A universidade reconhece que nada é capaz de superar, em termos cognitivos e relacionais, a oportunidade da interação presencial", declarou.

Pesquisas de entidades de ensino superior privado mostram alta evasão no ano passado e tendência de adiar a entrada na universidade por causa da pandemia entre os jovens. Mais de 70% dos estudantes de graduação ouvidos em pesquisa do Instituto Semesp, que reúne instituições de todo o País, disseram estar com a saúde mental afetada durante o período de ensino remoto.

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Retorno nas universidades federais

Entre as 69 universidades federais, nenhuma ainda está funcionando plenamente presencial atualmente. “É o momento de as universidades olharem para esse grupo dos alunos que entrou durante a pandemia, que não conhece o ambiente acadêmico. O mais importante é voltar para o presencial”, diz a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho. “Esse rito de passagem é importante, os alunos vão para um ambiente novo, com pessoas de diferentes lugares do País, com liberdade acadêmica, procura por conhecimento e discussão. Esses meninos e meninas não puderam experimentar”, completa.

Ela coordena um relatório da Andifes, associação dos reitores das federais, sobre ações das universidades na pandemia. Segundo ela, no fim do ano passado 47 das 53 instituições que responderam ao questionário tinham atividades práticas funcionando presencialmente. Na UFRJ, 52% das disciplinas funcionam presenciais.

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Além da disseminação rápida da variante Ômicron, o que impede a volta presencial agora, segundo ela, é que muitas federais ainda estão finalizando o segundo semestre letivo de 2021 por atrasos no calendário que se acumulam desde o início da pandemia. Denise acredita que a partir de abril, a maioria já vai estar começando o primeiro semestre de 2022 e pode voltar às atividades presenciais.

“Eu achei que ia ser melhor, mas realmente não consegui prestar atenção nas aulas remotas”, diz Georgia Rovaris, de 22 anos, que estuda Jornalismo na Federal de Santa Catarina (UFSC). “Tranquei basicamente todas as matérias. De 2020 para 2021, fiz umas cinco matérias no máximo. Então atrasei o curso”, conta. Além da dificuldade em prestar atenção, a saúde física também foi um obstáculo. "Não estou acostumada a ficar sentada o dia inteiro na frente do computador. Tive bastante problema de dor na coluna pela primeira vez na vida.”

A UFSC planeja que o primeiro semestre de 2022 seja de aulas integralmente presenciais na graduação. O retorno está previsto para 18 de abril.  Atualmente, a instituição finaliza o segundo semestre letivo de 2021. A partir do segundo semestre do ano passado, passou a oferecer 68 disciplinas práticas e teórico-práticas de forma presencial.

Estudar Jornalismo no UFSC era o sonho de Yasmin Mior, de 20 anos, que agora está dois semestres atrasada na graduação. Para isso, saiu de Chapecó e foi para a capital. “Vim do outro lado do Estado, eu queria muito conhecer Florianópolis, ter uma relação de amizade presencial com os meus colegas, queria muito conhecer o curso”, conta. “Foi bem frustrante.”  Ela diz que se esse semestre não voltar presencial, pretende trancar a faculdade.

Jefferson Fróes Martins, de 21 anos, cursa Teatro na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) desde 2019. Com o remoto, ele reclama que atrasou a formação e teve problemas em casa.  “Cansei de ter que apresentar seminários ou outra atividade ao vivo com gritarias de crianças, rádio, TV. Teve até um professor que me perguntou se eu morava numa feira devido ao barulho da minha casa", conta. A UFMA não respondeu ao questionamento da reportagem sobre a volta presencial.

Volta na USP, Unesp e Unicamp será em março, presencial

A Universidade de São Paulo (USP) anunciou o início das aulas em 14 de março, de forma presencial e com obrigatoriedade da vacina contra a covid. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp) será em 7 de março, também presencial, mesmo dia e forma da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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No final de dezembro do ano passado, a Fundação Cásper Líbero planejava a retomada das aulas presenciais a partir do dia 7 de fevereiro. Mas em 31 de janeiro, anunciou que, este mês, ocorreriam apenas semanas de integração presenciais. As atividades regulares presenciais ficaram para 7 de março. 

O presidente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da Cásper, Thiago Hideki Baba, de 20 anos, que estuda Jornalismo, conta que a maior parte dos estudantes espera ansiosamente pelo retorno presencial das atividades. “Por conta das aulas práticas e do próprio convívio”, explica. Baba diz que os alunos não foram consultados sobre o adiamento e que o aviso sobre a mudança de planos ocorreu de forma repentina, sete dias antes do retorno previsto.

Baba diz que ainda não foi divulgado protocolo sanitário para o retorno integralmente presencial. “Só sabemos do básico, que é o uso de máscara e o distanciamento.” A Cásper funciona em um prédio da Avenida Paulista. O estudante começou seu curso em 2020 e acredita que perdeu do que deveria aprender. “A gente não pegou em nenhuma câmera. Quando a gente conversa com a diretoria, eles consideram essas aulas como dadas, então, não podemos pedir reposição.” 

Camilla Militino Leite de Oliveira, de 22 anos, ingressou no curso de Jornalismo em 2021, e sente “prejudicada” por ter tido a prática de fotojornalismo de forma remota. “Não tínhamos equipamento. Os professores fizeram o que puderam, foram atrás de programas on-line que simulassem a câmera. No final, ficou muito básico.”  Ela acredita que a Cásper não tem condições estruturais de retomar as aulas de forma presencial por ter salas pequenas, mas acha que essa opção deveria ser dada aos estudantes.

Camilla também não gostou do adiamento do  início letivo apenas em março. “Se eu já achei que 2021 foi corrido, não sei nem o que esperar de 2022. Dava para ter voltado agora no remoto”.  Procurada, a Cásper Líbero informou que “devido ao aumento das taxas de transmissão e casos de óbitos” optou pelas aulas presenciais apenas em março.

O Centro Universitário FMU informou que também vai retonar em formato híbrido, só com as atividades práticas presenciais, "levando em conta as condições sanitárias locais atuais que possam trazer risco à saúde da comunidade acadêmica".