Alunos criticam distância do local de prova do Enade

Exame é obrigatório para o ensino superior; Inep não prevê mudanças

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Por Paulo Saldaña
Atualização:

Depois que centenas de candidatos foram escalados para prestar o Enem em locais distantes de suas casas – em alguns casos até em outras cidades –, agora é a vez de universitários reclamarem do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Alguns estudantes de São Paulo terão de enfrentar viagens de até três horas para fazer a prova, no dia 8 de novembro.   Um trajeto de quase 60 quilômetros separa a casa de Gustavo Denis Centeno Biglia, de 19 anos, da escola onde vai prestar o Enade. Aluno do 1º ano de Direito do Mackenzie, Biglia mora na Aldeia da Serra, região oeste da Grande São Paulo, e fará a prova na escola estadual Professor João Camargo, em São Mateus, extremo leste da capital.   "Achei um absurdo. Deviam ter mais consideração pelos alunos, ainda mais porque a prova é obrigatória", diz. Ao contrário do que ocorre no Enem, no Enade o aluno não se inscreve: é convocado a prestar o exame pelo Ministério da Educação.   Apesar de ter carro, Biglia usará transporte coletivo. Terá de recorrer a trem, metrô e dois ônibus e gastar, no mínimo, 3 horas e 11 minutos, pela rota sugerida pelo Google Maps. "Estou indignado, não conheço o lugar e não acho aconselhável ir de carro."   No caso do Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza o exame, admitiu que houve um erro do consórcio encarregado de aplicar o exame. Por isso, alterou o local de prova de alunos que fizeram pedidos formais de mudança. Isso não vai ocorrer no Enade. O Inep disse que os locais de prova foram definidos por ordem alfabética. Na internet, a página do Inep para a consulta de lugares onde o exame será realizado já tem a informação: "Não há possibilidade de alteração do local de prova."   Aluno de administração da Anhembi Morumbi no câmpus da Avenida Paulista, Danilo Castro Tomaz, de 22, acha absurdo o fato de o exame não ser aplicado na universidade onde estuda. "Vou ter que ir a lugar aonde nunca fui. Eles podiam facilitar", diz o estudante, que mora em Santana, zona norte, e fará o Enade na Vila Madalena, zona oeste.   Segundo nota divulgadada pelo Inep, a hipótese mencionada por Danilo não pode ser adotada para preservar a "segurança" da prova e a " igualdade de condições" entre os participantes. Nenhum representante do instituto quis dar entrevista sobre o caso.   Erika Izabeli dos Santos, de 22 anos, está conhecendo um pouco mais da cidade graças ao Enade. A aluna do 4º ano de Ciências Contábeis mora em Guaianases, zona leste, e fará o exame pela segunda vez em locais bem distantes de casa. Em 2006, Erika prestou o Enade na Praça da Árvore, zona sul. Dessa vez, foi mandada para a zona norte, a 30 km de casa. "Devia ser perto para não ter o risco de chegar atrasada e perder a prova", diz a universitária, Erika, que planeja sair de casa com três horas de antecedência.   A preocupação de Erika não é gratuita. Quem é selecionado para o Enade e deixa de fazer a prova paga um preço: não consegue pegar o diploma. Mas o desempenho é indiferente para o aluno. Guilherme Araujo Daolio, de 21 anos, aluno do último ano de Rádio e TV da Faculdade Cásper Libero, diz não estar estimulado a se esforçar para ter uma boa nota. "Não vale a pena. Vou chegar lá cansado e fazer de qualquer jeito. E é pior para a faculdade", diz Daolio, que mora no Paraíso, zona sul, e fará o Enade na Penha, zona leste.   Seu colega de turma Rafael Guimarães Luiz, de 22, também critica a organização do exame. "Se é obrigatório, poderia ser mais confortável para o estudante", diz Luiz, morador da Parada Inglesa, zona norte, que fará o Enade no Parque São Lucas, zona leste.   Instituições A nota do Enade não vai para o histórico escolar dos alunos, mas serve como parâmetro de avaliação das instituições de ensino. O presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, afirma que o transtorno enfrentado pelos alunos vai influenciar no desempenho deles, o que acaba "prejudicando as instituições". "Entendemos que falta empenho e sobra insensibilidade por parte do Inep e do MEC. Eles têm recursos financeiros e tecnológicos para uma classificcação pelas residências."   O Semesp pediu o cancelamento do Enade depois que, no dia 20, policiais disseram ter encontrado em Três Rios (RJ) caixas com provas do Enade sem o lacre de segurança durante uma inspeção de rotina n um caminhão da Consulplan, vencedora da licitação para realizar a prova, foi parado pela polícia em Três Rios (RJ). O MEC negou que provas estivessem sem o lacre e manteve a prova.   Cerca de 1,1 milhão de estudantes fará o Enade no próximo fim de semana em cerca de 3 mil locais de prova, espalhados por 997 municípios. Apenas na cidade de São Paulo são 126.629 inscritos.   O Enade, antigo Provão, é aplicado aos estudantes que estão no início do curso superior ou em fase de conclusão. Com base nos resultados é possível saber quanto a instituição agregou de conhecimento ao aluno. Também compõem a nota da universidade fatores como infraestrutura e corpo docente. Instituições que tiverem nota baixa são avaliadas in loco por especialistas e podem até ser fechadas.   Este ano, serão avaliados alunos de 24 cursos de graduação: Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, Estatística, Música, Psicologia, Relações Internacionais, Secretariado Executivo, Teatro, Turismo, Estatística, Relações Internacionais, Design de Moda, Gastronomia, Gestão de Recursos Humanos, Gestão de Turismo, Gestão Financeira, Marketing e Processos Gerenciais.

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