A USP que ajuda a entrar na USP

A cada ano surgem mais cursinhos comunitários na instituição, que dão aulas gratuitas ou a preço irrisório para estudantes do ensino médio público e alunos carentes. A intenção é aumentar o acesso à universidade, hoje considerada elitista e excludente

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Eles já estão virando parte da Universidade de São Paulo (USP). Além da graduação, da pós e da especialização, agora se ensina também como chegar mais perto de conseguir uma vaga na instituição. Cursinhos pré-vestibulares comunitários, aqueles direcionados para estudantes carentes, já estão presentes em várias unidades e as aulas são dadas principalmente por alunos da universidade. Neste semestre surgiu mais um, bancado pela Fundação Instituto de Administração (FIA) - (11) 37336262 - , que é formada por professores da USP e realiza trabalhos em convênio com a Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA). A fundação selecionou os alunos entre as escolas públicas próximas da USP e tem a meta ambiciosa de aprovar todos os 36 vestibulandos na Fuvest. ?Estamos tentando reduzir o problema do acesso das pessoas de baixa renda à universidade pública, mas sabemos que isso não é a única solução?, diz o professor da FEA e responsável pelo cursinho da FIA, Roy Martelanc. Para isso, foram investidos R$ 130 mil no projeto, cujas aulas são dadas por graduandos da USP. Diferentemente de outros cursinhos comunitários, os professores são remunerados pelo trabalho. Além da preparação gratuita, os alunos recebem refeições, vale-transporte e tiveram sua inscrição na Fuvest (R$ 55) paga pela FIA. ?Minha auto-estima melhorou muito. Acho agora que tenho mais condições de disputar de verdade uma vaga?, diz o aluno Fernando Borges Fiuza da Silva, de 18 anos, que estuda em uma escola estadual na Vila Sônia. ?Sempre sonhei com a USP e me sinto mais segura?, completa sua colega Julia Henning, que pretende prestar Pedagogia. Segundo Martelanc, a seleção ? que inclui provas, entrevistas e testes psicológicos ? escolheu alunos com boa capacidade de aprendizado. O cursinho, que usa apostilas do Objetivo, prepara apenas para carreiras nas áreas de ciências sociais aplicadas, que incluem Direito, Administração, Jornalismo e Economia, entre outras. Muitos dos cursinhos comunitários dentro da USP surgem por iniciativa dos próprios alunos da universidade. É o caso do curso da FEA (http://www.cavc.com.br), que existe desde 2000 e atende duas turmas de 140 vestibulandos. As aulas são dadas na própria unidade, em uma sala emprestada, pela manhã e à noite. Os estudantes precisam pagar mensalidades de R$ 60 ou R$ 70, dependendo do período, que são usadas para pagar os professores. Segundo a coordenadora do curso, Adriana Moriki, 16% dos alunos são aprovados na USP. Uma opção totalmente gratuita e mantida apenas por trabalho voluntário é o Projeto Redigir, que funciona na Escola de Comunicações de Artes (ECA-USP). A idéia é ensinar técnicas de redação, gramática e tudo o que se relaciona ao domínio do texto. ?Damos fundamentos tanto para o vestibular como para pessoas que estão procurando emprego ou que querem reivindicar melhor seus direitos?, explica o coordenador do curso e professor da ECA, Leonardo Sakamoto. Na seleção socioeconômica, a preferência é para população mais pobre e não há limite de idade. A única exigência é que o aluno já tenha concluído ou esteja cursando o 3.º ano do ensino médio. ?Muitos deles são analfabetos funcionais ou incapazes de compreender um texto?, conta Sakamoto. Durante o curso de seis meses, os 300 estudantes participam ainda de excursões culturais e palestras. Além das aulas na ECA, o grupo trabalha nas comunidades de Paraisópolis e Real Parque. O Projeto Redigir http://www.projetoredigir.hpg.com.br recebe apoio financeiro da pró-reitoria de Cultura e Extensão da USP, que também está aberta a inscrição de outras iniciativas. A pró-reitoria não sabe ao certo quantos são os cursinhos comunitários que funcionam atualmente na instituição. Um dos mais antigos é o Cursinho da Poli, que começou com um grupo de alunos de Engenharia e se expandiu muito nos últimos anos, chegando a ter 15 mil vagas. Centros Acadêmicos dos cursos de Psicologia e Direito também oferecem cursos pré-vestibulares comunitários. Recentemente, as universidades públicas de São Paulo elaboraram um projeto que pede ao Estado verba de R$ 14 milhões para criar 12 mil vagas em cursinhos pré-vestibulares gratuitos. A intenção é ajudar os programas já existentes e criar novos. O projeto deve ser votado na Assembléia Legislativa, com o orçamento de 2003.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.