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A reinvenção do ensino superior para formar gestores éticos e responsáveis

Como vão ser os próximos anos?’ e ‘O que as novas gerações querem?’ são alguns dos questionamentos necessários e básicos

Por Vanessa Fajardo
Atualização:

A governança é a forma como uma organização é gerenciada e dirigida. À medida que o termo ganhou visibilidade – o “G” do tripé ESG –, as instituições de ensino ampliaram as ofertas de cursos na graduação ou na pós-graduação para formar esses profissionais que passaram a ser muito demandados pelo mundo do trabalho.

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No dia a dia, é o profissional especialista em governança corporativa que gerencia as práticas que uma empresa adota para fortalecer a organização – alinhar os interesses do negócio, dos sócios, dos diretores, acionistas e outros stakeholders (termo que reúne todos em uma empresa que devem atuar de acordo com as práticas de governança corporativa) – e conciliar esses interesses com os órgãos de fiscalização e regulamentação. Sempre com um olhar que deve considerar atuação ética e responsável social e ambientalmente.

“Quando vejo um indicador de lucro, de participação no mercado, esses dados dizem respeito ao que aconteceu no passado, na última década. Mas como vão ser os próximos anos? O que as novas gerações querem? Como nos preparar? O futuro é construído por todos nós, e essas construções têm de passar pelos aspectos do ESG”, afirma Fernando Leme Franco, que é coordenador da especialização em Governança, Gestão de Risco e Compliance na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB).

Franco lembra que os temas acerca do ESG – meio ambiente, social e governança – são uma exigência da sociedade e uma companhia que deixa de estar em conformidade com esses aspectos corre grandes riscos. “O risco é transversal, perpassa a organização toda. O gestor de ESG tem a missão de enxergar esse risco sistêmico, trabalhar com auditoria, assessoria.”

FPMB ensina que gerenciar agora exige também olhar os parceiros Foto: Mackenzie

Além da gestão interna, a prática da governança também envolve o olhar para fora da organização, para fornecedores e terceirizados. “Como está a instalação elétrica do seu apartamento? Pode estar boa, mas e a do seu vizinho? Se não estiver, você também pode ter problemas. É o exemplo que eu dou em sala de aula. Não dá para gerenciar só o seu, tem de olhar os parceiros.”

Quando a empresa define um planejamento estratégico sem levar em consideração a governança, pode correr o risco de usar indicadores ultrapassados e torná-lo inexequível, na visão do coordenador. “Com a governança, ele fica executável.”

No Brasil, a Resolução 4.945 do Conselho Monetário Nacional, de setembro de 2021, dispõe que todas as instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central terão de respeitar uma política de ações de ESG. “Acho que em mais uns dez anos isso vai ser difundido em todas as organizações. Uma empresa que contrai um financiamento, por exemplo, pode estar gerando um problema ambiental e precisa ser responsabilizada”, diz o coordenador. 

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Da teoria à prática

Leonardo Tadeu Soares, de 41 anos, formado em Processamento de Dados e Direito, fez MBA em Gestão de Projetos e Negócios. Mas foi com o mestrado profissional em Administração do Desenvolvimento de Negócios (UPM) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, que está prestes a concluir, que conseguiu aprender mais sobre governança e reunir todas as suas habilidades em prol de sua experiência profissional atual. 

Soares é gerente executivo responsável pela área de governança e de integridade de uma empresa de telefonia brasileira e criou para um projeto do mestrado uma calculadora de risco de integridade, que o ajuda na tomada de decisões em relação a terceiros. A partir de critérios objetivos, com pesos e variáreis pré-programadas, o sistema consegue classificar o risco reputacional desses terceiros em baixo, médio e alto.

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A calculadora está dentro de uma solução sistêmica, chamada de artefato, e atua como projeto piloto, mas os resultados serão incorporados no mestrado. “Baseado em regras, metodologia e teoria que aprendi no mestrado, criei essa calculadora que me ajuda em decisões em relação aos meus terceiros. Devo rever o contrato? Rescindi-lo? Afinal, se meus fornecedores cometem atos ilícitos, como corrupção, fraude, suborno, escravidão, também tenho responsabilidade.” 

Soares lembra que as empresas de capital aberto têm obrigação perante os órgãos reguladores de demonstrar essa governança para fazer com que o ecossistema empresarial seja seguro. Além disso, um investidor, quando quer comprar uma ação, não avalia só os balanços e receitas, analisa os relatórios de governança que dizem como essa empresa está sendo gerida, quais as suas políticas divulgadas, além da participação e remuneração dos conselhos.

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