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4 em cada 10 professores já ajudaram alunos com problemas na internet

Dados são de pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet; é mais comum escola agir diante de problemas do que desenvolver ação preventiva, diz coordenadora do estudo; 2/3 dos docentes estimulam alunos a debater problemas na rede

Por Julia Marques e Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Adolescentes estão na internet o tempo inteiro, mas em um colégio de São Paulo escolheram um dia só para debater o mundo virtual. Formado no Dante Alighieri, na região central da cidade, um comitê de alunos do ensino médio e uma professora se reúnem semanalmente para discutir temas complicados da rede, como privacidade de dados e cyberbullying. “Eles trazem o olhar deles e me atualizam sobre o que está acontecendo”, diz a professora Valdenice Minatel, diretora de tecnologia da escola. 

A atividade no Dante não é o único exemplo. Dados da pesquisa TIC Educação, divulgada nesta quarta-feira, 22, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostram a preocupação de escolas e professores com o tema. O estudo aponta que 40% dos professores brasileiros já ajudaram alunos a enfrentar situações problemáticas ocorridas na internet como bullying, discriminação, assédio e disseminação de imagens sem consentimento. E, segundo a pesquisa, a maioria dos professores (56%) já promoveu debates com os alunos sobre como usar a internet de forma segura; e 66% estimularam os alunos a debater os problemas na internet.

Vida virtual é debatida semanalmente entre alunos e professores do Dante Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Segundo Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, as escolas particulares desenvolvem mais atividades para lidar com essas situações, mas, tanto na rede particular quanto na pública, as ações são mais ligadas a atuar diante de problemas do que em iniciativas preventivas.

“Perguntamos se, no último ano, a escola tinha realizado algum debate e os porcentuais foram menores do que se a escola tinha realizado esse tipo de atividade em algum momento. Pode ser que essas ações ainda sejam pontuais, não estejam integradas e ocorram quando algo acontece na escola”, afirma ela. 

No caso do Dante, o comitê com alunos ajuda o próprio colégio a pensar sobre o tema. “O Parlamento francês foi favorável a tirar o celular das escolas (em julho deste ano) e aqui nós debatemos sobre isso”, exemplifica Eduardo Candeias, de 15 anos. “Tentamos conscientizar as pessoas de que o celular pode ser, sim, uma ferramenta com bom uso.” Outra discussão é sobre as pegadas deixadas na rede. “Falamos sobre rastro digital. Eles estão construindo a própria biografia agora. E o que se faz hoje nunca será apagado da internet”, diz a professora Valdenice. 

No Colégio Bandeirantes, na zona sul, as informações sobre ciberbullying e demais problemas do ambiente virtual são discutidos dentro da disciplina Convivência em Processo de Grupo (CPG) e os profissionais da escola são capacitados para acolher alunos que viverem esse tipo de situação. 

“A gente tem um trabalho preventivo e de intervenção. Na disciplina, falamos sobre valores e ajudamos o aluno a reconhecer caso isso aconteça com um colega”, diz Beatriz Kohlbach, professora e integrante do CPG. Beatriz afirma que a proposta também inclui não punir a vítima. “Tentamos trazer respeito, valores e o lado humano. Não podemos culpar a vítima. De maneira nenhuma, a gente deixa a situação acontecer.” 

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Comportamento em sala de aula

A conectividade dos estudantes também tem alterado o comportamento em sala de aula. De acordo com a pesquisa, 29% dos professores já receberam trabalhos ou lições pela internet, 42% tiraram dúvidas dos alunos online e quase metade (48%) colocou o conteúdo das disciplinas na internet.

A variedade de plataformas de acesso, no entanto, ainda é um desafio. O levantamento mostrou que um quinto dos estudantes tem acesso à internet apenas por meio de celulares, o que pode ser prejudicial para a formação. “Justamente nas classes mais pobres ocorre esse uso. As atividades digitais mais complexas não podem ser realizadas só pelo celular. Existe a necessidade de oferecer o acesso a múltiplos dispositivos, que permitem a realização de atividades mais complexas”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br). 

Disparidades de conexão entre escola urbana e rural

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A conexão de estudantes e professores é desigual quando são comparadas as áreas rurais e urbanas. A pesquisa TIC Educação, que passou a entrevistar no ano passado as instituições rurais, aponta que, entre elas, só 36% tinham acesso à internet. Quase metade dessas escolas (48%) apontou a infraestrutura de acesso como motivo para não usar a internet e 28% destacaram o alto custo da conexão.

“Vimos uma incorporação crescente da internet nas escolas urbanas e é preciso desenvolver medidas para dar as mesmas oportunidades a estudantes que vivem em áreas rurais. A pesquisa mostra que os dispositivos estão presentes e estão sendo usados. O papel do governo talvez seja o de desenvolver outras habilidades, que não são cobertas pelas mídias móveis, como aprender a lidar com programação”, diz Fábio Senne, coordenador-geral de pesquisas do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br).

O estudo TIC Educação coletou dados de 957 escolas localizadas em áreas urbanas e realizou 1.481 entrevistas com diretores ou responsáveis pelas instituições de ensino localizadas em áreas rurais.

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