A apreensão é compreensível. Trata-se de alunos do 5º ano, última série do Ensino Fundamental I, que, às vésperas de mudarem de ciclo, têm a chance de encontrar os responsáveis pela Coordenação que os acompanhará nos quatro anos seguintes. Na vida de qualquer aluno, a chegada ao 6º ano representa mudança significativa, carregada de dúvidas e aflições - mas que pode ser facilitada com um conjunto de medidas que o Vital toma para tornar a transição de todos mais tranquila. Medidas como o encontro com o coordenador do Fundamental II, Roberto Leal.
Batizado de Travessia, o projeto visa, por um lado, preparar os alunos para mudanças concretas que o novo ciclo traz para a rotina escolar e, por outro, desfazer alguns medos injustificados que acompanham essas mudanças. "A transição para o Fundamental II tem impacto, isso é fato; mas o impacto pode ser bem menor se o aluno se sentir preparado e acolhido pela escola", diz Roberto, acrescentando que, paralelamente ao trabalho com os adolescentes, também é importante que o Colégio ajude os pais a se adaptarem ao novo ciclo.
Foco e organização
A primeira e mais evidente mudança do Fundamental II é o fim da professora regente. Mesmo tendo aulas, desde a pré-escola, com alguns professores especialistas (em disciplinas como Educação Física, Psicomotricidade ou Artes, por exemplo), é inevitável que os alunos estabeleçam uma relação mais intensa e pessoal com as professoras regentes, com as quais passam a maior parte do tempo. Sentir insegurança ao perder a figura-âncora do processo educacional até então é nada mais que natural.
Mas, além do fator emocional, há questões práticas envolvidas nessa mudança. A partir do 6º ano, o tempo em sala de aula do professor passa a ser estritamente voltado para a sua disciplina. O aluno não tem mais a chance de, eventualmente, tirar dúvidas sobre o conteúdo de uma aula dada horas antes; o professor não pode mais readequar seu plano de trabalho se sentir que deve avançar um pouco com o conteúdo de Matemática dentro do horário de Português. A agenda é muito mais complexa e rígida - e os alunos têm de se adaptar a ela.
"Há muito mais momentos distintos num só dia de aula. Cada aula é um assunto novo. Por isso a necessidade de foco é bem maior", diz Cristina Campos, coordenadora assistente do Fundamental II. Foco e organização, para dar conta de uma quantidade de materiais didáticos também maior, com cadernos e livros específicos para cada disciplina - de preferência, sem a ajuda dos pais na hora de arrumar a mochila do dia seguinte, um dos pontos-chave na aquisição da autonomia do adolescente.
"É normal, portanto, que eles apresentem algumas dificuldades no começo; uma leve queda na média, por exemplo, pode ser notada em alguns alunos nessa fase. Quem tirava notas 9 ou 10 passa a tirar 8 ou 9", diz Cristina. "Mas isso é coisa de um ou dois meses, logo depois se recupera".
Porque, no fundo, afirmam Roberto e Cristina, o Fundamental II não exige dos alunos mais do que eles são capazes de dar. Até porque, como nota o coordenador, o Vital Brazil já existe há tempo suficiente para que pelo menos 80% dos alunos do 6º ano sejam egressos do Fundamental I do Colégio, acostumados com uma rotina intensa de estudos e um alto nível de exigência de autonomia e responsabilidade.
A questão crítica do Projeto Travessia, assim, é desmistificar algumas questões e tranquilizá-los quanto ao que está por vir. A começar pela dúvida sobre o novo coordenador: ele é muito bravo?
Sem medo e sem mistério
Sentados no chão do pátio interno do Vital Brazil, os alunos do 5º ano são apresentados por Teresa Santos, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e do Fundamental I, aos seus novos coordenadores: Roberto Leal e Cristina Campos. Roberto repete as palavras que usa todo ano: "Eu faço uma explanação das principais diferenças e expectativas. Digo que eles vão precisar de mais organização, que vão precisar 'andar mais sozinhos', que a rotina de estudos, se já era importante, vai ser mais ainda". E que não há motivos para ter medo.
"É verdade, eles perguntam se eu vou ser mais bravo que a Teresa", diz Roberto, sorrindo. "Eu costumo dizer que, se eles se comprometerem com os estudos, se tiverem esse foco e essa organização, não terão dificuldades. E que, mesmo assim, se tiverem dificuldade, eu e a Cristina estamos aqui para ajudá-los". Para Roberto, a mensagem é tranquila porque "os alunos do Vital entendem desde cedo a diferença entre autoridade e autoritarismo". O caráter gentil e afável do coordenador não passa despercebido. "Vai ser bacana, a gente vai conversar sobre outras coisas além dos estudos, sobre projetos, sonhos... Vai ser muito legal!
O encontro com os coordenadores não é o único momento de alívio. O Projeto Travessia inclui, ainda, um encontro da turma do 5º ano com alguns alunos do 6º, para uma conversa entre semelhantes. "A ideia é tirar o peso, mostrar com testemunhos reais que não tem mistério", diz Cristina. "É muito interessante ver os mais velhos dando dicas bem práticas, como: 'Quando o professor falar algo importante, anotem e passem o marca-texto' ou 'Revisem o assunto da aula no dia da aula mesmo'".
E, se ainda houver dúvidas sobre o ritmo e a dinâmica que os novos professores imprimirão ao dia a dia escolar, o Projeto Travessia também conta com uma aula experimental que algum professor do Fundamental II dá aos alunos do 5º ano. "Pode ser de qualquer disciplina; a ideia é seguir o plano normal de uma aula típica do 6º ano, para eles sentirem como é", diz Roberto. Em 2016, foi a vez da professora de Ciências Priscilla Issuani dar essa prévia do que serão os próximos quatro anos de vida da turma. Sem grandes dificuldades, sem mistério, sem medo.