"É comprovado que o Xadrez promove uma série de habilidades, como a atenção, a concentração, o poder de análise e decisão, a capacidade de antecipação e planejamento", enumera o professor. Ele ainda poderia citar a influência positiva do jogo sobre a criatividade, a paciência, o autocontrole, a determinação em evoluir, entre outras competências fundamentais. Isso sem falar no que o Xadrez, como os esportes em geral, promove de valores, como a honestidade e o respeito ao outro: "Em minhas aulas, por exemplo, sempre insisto para que, antes de cada partida, eles cumprimentem o colega adversário".
Despertando o interesse pelo jogo
Antes de tudo, porém, é preciso apresentar o jogo aos alunos. "No 2º ano do E. Fundamental, de 80% a 90% deles não sabem absolutamente nada de Xadrez", estima o professor. Mais do que conhecer as regras, José Antonio precisa fazer com que seus primeiros alunos - crianças de 6 e 7 anos de idade, acostumadas a atividades bem mais modernas do que um jogo criado há mais de 1.500 anos - se interessem pelo Xadrez. Seu método, até hoje, tem dado certo:
"No início do ano, eu conto uma lenda sobre a origem do Xadrez", diz o professor. Ele se refere à história do sábio de um antigo reino que, tendo inventado o jogo, apresenta-o ao rei. Encantado, o monarca decide recompensá-lo com o prêmio que ele desejasse. A resposta do sábio apenas parece modesta: um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro, dois pela segunda, quatro pela terceira, e assim sucessivamente, em progressão geométrica, até a 64ª casa. "O total chega a quintilhões de grãos de trigo", diz José Antonio, que gosta de ver até onde os alunos conseguem calcular a imensa quantia. "Já tive uma aluna que calculou até 8.192!" (A propósito, o pedido exato do sábio é de 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo.)
"Essa história é uma das formas de eles se apaixonarem pelo jogo", diz o professor. "Eles comentam sobre a lenda durante o ano inteiro". Mas essa não é a única estratégia de que ele dispõe para tornar o aprendizado do Xadrez mais lúdico e interessante.
Muito além do xeque-mate
Ao longo do Fundamental I, o planejamento do professor atribui às turmas metas progressivamente mais complexas, com atividades diversificadas que ajudam a exercitar diferentes habilidades. O objetivo do projeto, como se vê, vai muito além do xeque-mate.
No 2º ano, os alunos devem terminar o ano sabendo movimentar as peças corretamente, conseguindo capturar peças adversárias e dando os primeiros xeques. No 3º ano, já devem ser capazes de ganhar um jogo por xeque-mate, por disputa de tempo (com o recurso de relógios, que impõem novos desafios à agilidade de raciocínio e ao autocontrole emocional dos alunos) ou por erro do adversário ao movimentar suas peças (três movimentos errados levam à derrota).
Já no 4º ano, eles aprimoram suas técnicas e ampliam seu vocabulário e repertório de conhecimentos sobre o jogo, aprendendo termos como "roque", "captura en passant" e "promoção (ou coroação) do peão" e a origem de cada peça do Xadrez moderno. Por fim, no 5º ano, mais do que resolver desafios, os alunos já compõem, eles próprios, novos desafios: "Por exemplo, eles inventam uma disposição de peças no tabuleiro de forma que, com um movimento apenas, as brancas possam colocar o rei preto em xeque-mate", explica o professor. "O nível de complexidade exigido para você criar um problema válido é grande, e eles são capazes disso". Prova disso é que o professor chega a aproveitar alguns desafios criados por seus alunos do 5º ano como exercícios para os mais novos.
José Antonio cita ainda os benefícios de outras atividades que fazem sucesso entre os alunos, como o Xadrez Gigante, que faz uso do tabuleiro pintado no chão da sala: "Divido as turmas em dois times, para que eles experimentem analisar o jogo e traçar estratégias coletivamente, num exercício de trabalho em grupo e de respeito à opinião do colega". Ou, ainda, o Xadrez de peças inventadas, em que os alunos dão asas à imaginação, criando peças como dragões e bruxos, cada uma com movimentos e poderes específicos: "Eles podem criar à vontade, desde que as peças façam sentido em uma estrutura de jogo, com regras e limitações" - não vale, por exemplo, criar uma peça invulnerável e de poderes ilimitados.
O resultado de tudo isso? Embora seja difícil de mensurar, José Antonio não tem dúvidas: "Talvez as famílias sejam o melhor termômetro para medir o desenvolvimento dos alunos ao longo dos anos, principalmente no que diz respeito às competências socioemocionais. E eu sempre ouço de diversos pais como o Xadrez tem ajudado seus filhos a se tornarem mais concentrados, mais aplicados e mais organizados nos hábitos de estudo".