Impossível responder a essa questão sem a reflexão dos objetivos da Educação Básica. Chega a ser senso comum dizer que a Educação não se encerra no acesso à universidade e que as escolas devem preparar os alunos para a vida. Entretanto, qualquer atividade diretiva nesse sentido incorre no risco de "formatar" os alunos, direcionar seus olhares.
Cultura. A proteção social aos jovens em virtude da segurança ou as possibilidades de interação imediata e à distância, por meio das múltiplas tecnologias, o mundo multimídia, media também sua formação cultural. A multiplicidade de conceituações para "cultura" tempera, ainda, as estratégias para sua abordagem na escola.
Desde a dimensão clássica do florescer das mentes, de cultivar os pequenos para que crescessem como grandes, passando pela necessidade de superação da relação entre a aquisição e a concentração do capital cultural, chega-se a uma percepção da cultura como um emaranhado de práticas que se acessa naturalmente no cotidiano, uma nuance do que Gilles Deleuze apontou como "não ter saber de reserva".
Para isso, a naturalização da abordagem cultural, combinada à realização de eventos que estreitem a relação dos alunos com a diversidade dos "lugares de cultura", acena como vereda a ser trilhada, promovendo ações internas e externas ao espaço escolar.
É pautada nessas estratégias e concepções que a Escola Villare consolida sua "Agenda Cultural", buscando a pluralidade e a diversidade de temas e abordagens, oportunizando a construção de um repertório dinâmico e plural e que envolve mais que os professores das "humanidades".
A participação em eventos do grande circuito cultural, a realização de debates sobre filmes e de encontros para discutir temas sob o ponto de vista da Filosofia, assim como palestras, são eventos estruturados por grupos de professores a partir dos interesses dos alunos. Foi o que se viu no mês de fevereiro. Acompanhados pelos professores de Linguagem, Literatura, Filosofia e também de Matemática e Geografia, cerca de 80 alunos assistiram ao espetáculo "Um bonde chamado desejo" no Tucarena.
O texto e as atuações marcantes do elenco carregaram para as salas de aula e, certamente, para o imaginário dos jovens participantes, as múltiplas leituras, as associações contextuais e a atualidade que o texto bombástico de Tennessee Willians provocaram nos espectadores da metade do século XX, expondo continuidades e rupturas nas concepções sociais, nos valores e tendências da atualidade.
"A Caverna dos sonhos esquecidos", de Werner Herzog, foi a escolha para exibição no Cine Villare, ação que, além da apresentação do filme, pluraliza o debate com uma discussão entre diferentes áreas. Nesse caso, os professores de Filosofia, Biologia e Matemática aproveitaram-se da arte rupestre e de sua aproximação aos sonhos para debater, como metáfora da ação transformadora dos homens, a interação e a apropriação do meio de forma essencial, percebendo que as representações são singulares, mas que sua existência concretiza a observação de Eliane Brum sobre a obra, para quem o autor das pinturas, em sua imperfeição, tornando-se todos, torna-se um.
A naturalização da convivência cultural deve ser fomentada até o ponto em que seja indissociável do cotidiano dos jovens e que não seja possível abandoná-la ao fim da Educação Básica, fazendo parte da liberdade e da essência dos alunos em sua convivência universitária e profissional, enfim, no meio social em que dialogicamente são formados e formadores, seres e não seres, protagonistas e coadjuvantes.
Júlio Augusto Farias Coordenador Pedagógico do Ensino Médio