elvira
03 de julho de 2015 | 17h35
A adolescência vai chegando, a vivência das relações sociais na escola vão se intensificando e tornando-se mais complexas, os sentidos da aprendizagem são canalizados ao “futuro”, as incertezas aparecem. Nada mais angustiante para um jovem em constante transformação. E para piorar… ainda tem aula de teatro?
O olhar para um horizonte concreto por meio de referências e experiências de sucesso, as análises sociais e políticas, as informações sobre as carreiras e as profissões são referenciais importantes e necessários. Mas como lidar com o inusitado? Com o incidental ou transitório? Com o inesperado? Por meio de representações.
Dizem no meio teatral que a representação é a transformação do ator em personagens. Mas e se a peça a ser encenada fosse parte de sua própria vida? Essa é a aventura de um grupo de alunos dos ensinos fundamental e médio que, derrubando as quatro paredes da “sala de teatro”, ganharam espaço na realidade e a consciência da importância do teatro escolar para sua formação.
Na escola Villare o teatro é parte da grade curricular dos oitavos e nonos anos do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. Não basta. Os alunos que desejam, independente da dimensão de seu talento, mantêm um grupo de teatro. Apesar de “opcional” muitos alunos participam do grupo, que é aberto também a ex-alunos. Jovens e adolescentes procuram sentidos em suas práticas…
A obra de Viola Spolin tem se mantido atual desde os anos 60. A presença dos “jogos teatrais” nas salas de aula, segundo a autora, permite o desenvolvimento da engenhosidade e da inventividade. O jogo permite o uso da liberdade da intuição, promovendo transformações. Ao longo do processo interagem os aspectos físico, intelectual para a definição de um foco, ponto objetivo de chegada atingível durante a transformação!
Embora possa parecer tecnicamente complicado, é exatamente o que se espera do processo de aquisição do conhecimento! Informação, desconforto, ação. A transposição desses pressupostos para as práticas cotidianas escolares favorecem a aprendizagem nas demais áreas do conhecimento, pois promovem o auto-desafio como prática. Mas não apenas isso.
Além de estar à serviço do projeto pedagógico de uma escola o Teatro é uma via para leitura da realidade, um momento de encontro. A construção dos textos a partir dos jogos não se baseia numa pedagogia hierárquica, mas sim na pedagogia do encontro. E nesse encontro entre as aulas, o grupo e a realidade que o texto é construído. Manifestações, protestos, liberdade, ditadura… Como posicionar-se em relação a esses temas que invadiram os meios de comunicação, as famílias e as escolas nesse último ano? Com teatro!
A construção do espetáculo “Você de novo? Poética sobre um tempo de resistência” atualizou a percepção dos alunos sobre a dinâmica da sociedade brasileira durante a ditadura, revisitando músicas, personagens e fatos. A interação com as demais disciplinas do currículo escolar foi natural. Inevitável. A potência do olhar dos estudantes foi responsável pela ponte entre a escola e a realidade.
Realidade que para os alunos da Escola Villare representou a participação do festival estudantil da cidade de Quadra-SP e ofereceu, através da arte, a interferência em um contexto diferente do seu, solidificando a aplicabilidade dos saberes e fazeres escolares.
Assim, o processo vivido por esses meninos e meninas deu-lhes condições de serem pessoas com um estado maior de presença, com a possibilidade de posicionar-se e saber serem críticos, mas também, melhores ouvintes e, acima de tudo, tornarem-se plateia de si mesmos e de espetáculos futuros, com a experiência para guiarem suas escolhas e opções estéticas.
O teatro é uma possibilidade de promoção do sensível dentro do contexto desgastante, empoeirado e às vezes mecânico da Educação escolar e que o distancia do adolescente. O desejo é que, como dizem esses jovens, a escola seja o local do prazer pelo conhecimento porque “ainda tem aula de teatro”!
Júlio Augusto Farias
Coordenador Pedagógico do Ensino Médio
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