Câmpus flutuante da UFPA promove encontro interdisciplinar no Rio Amazonas - Parte 1

 

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Crédito da foto: Roberta Brandão/Agência Colaborativa Estácio Foto: Estadão

Uma bióloga se abaixa, recolhe um besouro e fala da especificidade de sua mandíbula. Uma geógrafa mira um pescador e reflete sobre a paisagem e suas transformações. Um doutor em Física Nuclear e pesquisador da área de Letras empresta a precisão dos estudos da Física para a literatura e relata, na mesa do café da manhã, como reconstruiu os percursos do orador e escritor Padre Antônio Vieira em uma expedição à vela. Essas são as cenas e cenários encontrados pelos participantes do 17.º encontro internacional Imaginário das Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense (IFNOPAP), um projeto nascido na Universidade Federal do Pará (UFPA), idealizado em 1995 pela professora Maria do Socorro Simões e que chega nesta edição ao oeste paraense a bordo do navio Catamarã Rondonia até as cidades de Almerim, Prainha e Monte Alegre, onde se encontram sítios arqueológicos ricos em inscrições rupestres.

PUBLICIDADE

Articulando ensino, pesquisa e extensão, a expedição passou pela cidade de Almerim e no dia 29 esteve no município de Prainha. Nas escolas locais, foram ministradas oficinas sobre múltiplas áreas de conhecimento, que vão de "aspectos geológicos e históricos como atrativos geoturísticos" à "produção de pufes por meio do reaproveitamento de garrafas pets". No auditório do Catamarã aconteceram seminários sobre a dança do carimbó e seus rastros na ritualística afro-religiosa, sobre diversidade de quelônios no baixo-Amazonas e sobre representações de felinos feitas por índios Parakanã do Tocatins, chamadas de Xawarete, entre centenas de outras pesquisas que compõem a programação do evento.

O Ifnopap proporciona aos seus participantes, por meio da experiência de uma viagem de oito dias a bordo de um navio pelos rios da região norte do País, refletirem sobre a realidade ribeirinha. A duração extensa da viagem, a impossibilidade de estar conectado à internet, o cotidiano de dormir em redes e dividir o espaço social com 148 pessoas, de 26 instituições de ensino e de seis nacionalidades distintas, têm aproximado pesquisadores e estudantes das realidades vivenciadas pelos ribeirinhos amazônicos.

O congresso tem se tornado um espaço internacional de encontro, educação e intercâmbio de pessoas, ideias, narrativas e conhecimentos tradicionais e científicos na Amazônia. É o caso do professor paulista que atualmente ministra um curso de cinema na Universidade Federal do Pará (UFPA) Luiz Adriano Daminello, que, influenciado pelo livro "O turista Aprendiz", de Mário de Andrade, sentiu-se atraído para refazer alguns trechos dessa viagem. "Tenho paixão por essa obra literária e pela paisagem social e visual que o autor descreve. Quando eu soube da oportunidade, não pude deixar de vir, pois essa experiência interdisciplinar é muito interessante", explica Daminello. É também o caso do português Nuno Cassola, mestre em Artes Visuais e dono de uma produtora de vídeo, que veio para essa viagem fazer um primeiro contato com a Amazônia, já que tem a intenção de produzir um filme com esse tema.

Além das narrativas apresentadas pela comunidade científica, o encontro proporciona diálogos com povos tradicionais da floresta, como foi o caso da artesã e líder comunitária da cooperativa de pescadores de Prainha, Ivonete Furtado Queiroz, que há uma década viaja pelo mundo participando de feiras internacionais e integra uma rede de grupos sociais que lutam contra queimadas, pesca predatória e pela transformação das áreas ameaçadas em reservas extrativistas. "Desde que eu me entendo por gente lembro-me dos meus pais trabalhando na pesca do pirarucu, na igreja e lutando pela preservação da floresta e eu herdei deles essa missão de defesa do meio ambiente."

Publicidade

Na Amazônia, cultura e natureza se misturam no dia-a-dia dos ribeirinhos e o congresso leva às cidades por onde passa, além de conhecimentos científicos, danças, exposições, teatro, música e artes visuais, que misturam cultura popular e erudita. O cenário são as praças das cidades visitadas, onde aconteceu, em meio a uma revoada inesperada de pássaros, apresentações de carimbó, dança moderna, exposição de fotos, projeções de cinema, shows de canto e violão erudito. É a Amazônia mostrando que mesmo em sua face urbana a natureza ainda está muito presente.

* Este texto foi produzido e cedido ao Estado pela Agência Colaborativa Estácio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.