Redação
09 de novembro de 2011 | 21h35
* Por Cedê Silva, especial para o Estadão.edu
Apesar de disponível somente a usuários cadastrados, e com a opção de bloquear conteúdos, dezenas de pessoas deixam no Facebook mensagens públicas, numa variedade e quantidade que lembra os jornais do efervescente século 18. Mas há quem prefira usar tecnologias mais avançadas.
O DJ Mauro Hezê, que faz questão de mostrar o rosto para se diferenciar dos ocupantes encapuzados, publicou um vídeo, já visto por mais de 14 mil pessoas, no qual, abusando dos palavrões, critica os invasores. “A USP não é o sítio ou a chácara de vocês”, reclama. “Vocês são o câncer podre de um sistema de ensino falido”. Ele diz ser a favor da legalização da maconha, mas pensa que, como a droga é ilegal, perseguir esse objetivo deve também ser na forma da lei.
Os tais “jornais do efervescente século 18” fazem parte da obra do filósofo Jürgen Habermas. Mas o que ele tem a ver com isso?
Desde a prisão de três alunos da USP encontrados fumando maconha no dia 27 de poutubro até a chegada à delegacia, na manhã de terça-feira, de outras dezenas que ocupavam a reitoria, os manifestantes brandem livros. E entre os livros brandidos estão As Palavras e as Coisas, de Michel Foucault, O Golpe na Alma, de Marcius Cortez, Lutando na Espanha, de George Orwell, Idea – a Evolução do Conceito de Belo, de Erwin Panofsky, e um volume de obras escolhidas de Walter Benjamin (1892-1940). Este último, apesar da diferença de idade, é considerado colega, na chamada Escola de Frankfurt, do acadêmico Jürgen Habermas (vivo aos 82 anos), que escreveu que a ‘esfera pública’, onde ocorrem os debates, ficou mais rica com a difusão de livros e jornais possibilitada pela tecnologia da prensa.
Foto: Tiago Queiroz/AE
Foto: Paulo Liebert/AE
Habermas pode não entender muito de internet, mas a esfera pública entende, e a usa intensamente para discutir as ações dos manifestantes que brandem livros do seu colega Walter Benjamin.
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