'A ECA não está em greve'

Por Leandro Carabet, aluno do 1º ano de Jornalismo de ECA-USP

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Por Redação
Atualização:

Ao me deparar ontem de manhã com cartazes anunciando que a ECA estava em greve, vieram na minha cabeça as imagens daquelas manifestações de alunos, com as caras pintadas, segurando faixas e proferindo palavras de ordem. De fato, tudo não passou de imagens da minha cabeça.

A realidade dos alunos está bem distante disso. Os estudantes da ECA, principalmente os do curso de Jornalismo, não estão revoltados contra a reitoria, mas contra os próprios grevistas que prejudicam o ritmo normal das aulas.

 

 Foto: Estadão

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Na verdade, há uma incorreção no cartaz. Afinal, não é a ECA que está em greve, mas apenas seus funcionários. Disso estão excluídos alunos e também professores.

A situação está sendo encarada pelos estudantes com muita indiferença: enquanto grevistas se aglomeram na porta do prédio central, os alunos simplesmente desviam a sua caminhada para não esbarrarem com nenhum deles e dirigem-se cada um para o seu departamento, já que essa é uma semana de entrega de trabalhos e realização de algumas provas.

A grande discussão entre os alunos não é sobre o aumento de salários, mas sobre o aumento do quanto será gasto para se almoçar na USP com o fechamento do Restaurante Central, o "bandejão". A pergunta mais comum no término da aula é: "E agora, onde a gente vai comer?". Entre as opções, encontram-se as barracas de "X-Gordura", os trailers de lanches naturais e tapioca ou o restaurante mais caro da USP, que fica na FEA, cujo preço do quilo é aproximadamente 15 vezes maior que o valor do bandejão.

Além dessa pergunta, outras entram na fila: "Como a gente vai andar pela USP sem o circular?", "Como a gente vai tirar xerox das aulas teóricas?". "Como a gente vai diagramar os jornais laboratório sem a assistência técnica?".

Se por parte dos alunos há indiferença, entre os professores há ironia. Quando carros de som passam pelos arredores da ECA com os manifestantes conclamando seu movimento, é comum observar expressões de saturação no olhar de vários professores. Uma delas disse: "Greve? Mas eu estou contente com meu salário". Outra, imediatamente ao ouvir o som, ordenou que todas as janelas fossem rapidamente fechadas e o ventilador ligado. A professora da disciplina que seria dada no prédio que os funcionários fecharam, enquanto procurava outra sala dizia: "Greve é um direito do indivíduo, mas não deve afetar toda a instituição".

Afetados, indiferentes e sem bandejão, circular e máquina de xerox, os estudantes da ECA não entraram em greve. Ao contrário, persistem em sua rotina diária de estudos e trabalhos, sobrando até tempo para apelar para o humor. Foi o que a estudante Mayara das Neves Teixeira fez ao criar uma charge para a empresa Júnior da ECA. Nela, havia um circular quebrado e um aglomerado de pessoas perguntando ao mecânico qual o problema, ao que ele respondeu: "Talvez seja um problema com Rodas..."

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