Do Colégio
25 de novembro de 2015 | 17h36
As informações sobre o problema dos refugiados, que tanto ganhou destaque em 2015, estão disponíveis para qualquer pessoa que esteja disposta a ler, ouvir ou assistir. No entanto, o fato da informação ser acessível não significa que seja de fácil compreensão, em especial para crianças e adolescentes, que formam o público mais sensível ao excesso de informação divulgada sem filtro ou mediação.
A questão que assola o planeta atualmente serve de exemplo da complexidade observada no excesso de informação que circula ao redor do mundo. A banalização da violência pelo Estado Islâmico, e a fuga desesperada de um número de pessoas cada vez maior, passou a suscitar discussões em todos os ambientes, incluindo a sala de aula. A morte de Alan Kurdi, o menino refugiado sírio de três anos que se afogou, mostrou-se um fato chocante demais para o entendimento de jovens que não eram capazes nem de compreender o que seriam esses “refugiados”.
Neste contexto é que o Liceu Santa Cruz, por meio de trabalho da professora Cátia Rodrigues, de Língua Portuguesa, iniciou o projeto “Refugiados pelo Mundo”, com a participação de 94 alunos dos 5º, 6º, 7º e 8º anos. Para trabalhar, o tema foi estabelecido que o projeto seria dividido em quatro etapas:
Como relata a professora Cátia Rodrigues, “o trabalho de pesquisa permitiu aos alunos grandes descobertas. Com a ajuda de material obtido junto ao SINPRO, sindicato que reúne professores das escolas particulares de São Paulo, foi possível para eles localizarem, por mapa, a rota dos refugiados. Outro momento rico foi a entrevista com os próprios familiares (avós e avôs, principalmente), que relataram suas histórias de fugitivos de guerra e a chegada em um novo país. Ou seja, a história dos refugiados era também a história de muitas famílias de alunos”.
Pesquisas, conversas entre familiares e discussões em sala de aula mostraram que a abordagem do tema levou a algo muito importante: os alunos começaram a perceber que as mortes que ocorrem na Europa não são um fato isolado, mas um problema que assola o mundo há muito tempo. E ao descobrir, por exemplo, que campos de refugiados na África e na Turquia têm a mesma essência – a fuga pela situação de conflito em seu país de origem e a busca por um novo país, maior segurança e, quem sabe, um futuro melhor.
Troca de experiências
Do ponto de vista educacional, o projeto “Refugiados pelo Mundo” foi construído utilizando diferentes gêneros textuais, já que os alunos precisaram elaborar relatórios, entrevistas, sínteses e relatos para expressar e concretizar o conhecimento construído. Por outro lado, nessa diversidade de gêneros, a troca entre os alunos de diferentes séries foi muito rica, pois as expectativas e “leituras” variavam de acordo com a faixa etária.
Foi proposto aos alunos que produzissem diferentes textos: para o 9º ano, utilizando redes sociais, cada estudante ficou encarregado de fazer um apelo a um líder mundial de livre escolha sobre a questão dos refugiados da Síria. Para o 6º ano, foi pedido que o aluno, na posição de uma criança refugiada, explicasse quais seriam seus maiores desafios no novo país, tendo como apoio sua própria pesquisa, imagens fornecidas pela professora ou o livro adotado. Uma surpresa emocionante, como avalia a professora Cátia, foi a produção textual dos alunos do 8º ano: “Como eles já haviam lido a adaptação de Dom Quixote feita pelo autor Walcyr Carrasco, a proposta foi a construção de uma narrativa que tivesse como enredo o encontro de Dom Quixote e Sancho Pança com um grupo de refugiados – muito sensível o resgate humano narrado por eles”, concluiu a professora.
Natal solidário: Alunos iniciaram uma campanha de arrecadação de brinquedos para o natal. Foto: Divulgação
“Refugiados pelo Mundo” desdobrou-se em outra ação no Liceu Santa Cruz: a coleta de brinquedos feita anualmente para o Natal Solidário do colégio, desta vez destinada às crianças filhas de refugiados que estão no Brasil. Os presentes que estão chegando à escola, trazidos pelas famílias e pela comunidade, serão doados às instituições que apoiam refugiados até o final da primeira quinzena de dezembro.
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