No passado recente, acreditou-se que o estabelecimento de hegemonias étnicas e culturais formariam sociedades superiores às híbridas, multiétnicas, multiculturais e pluripartidárias.
Ainda hoje é possível ouvir em diferentes partes do planeta sociedades intolerantes às diferenças. Nada mais falacioso e equivocado do que a manutenção de uma visão única para a resolução dos problemas que emergem na complexidade do mundo atual.
Somado ao discurso ético de valorização das diferenças, podemos adicionar necessidades instrumentais à manutenção da diversidade em uma sociedade em busca de soluções originais para o encaminhamento de questões emergentes.
Ouvir as minorias é fundamental para que novas ideias surjam, questionando modelos estabelecidos, mantidos mais pela tradição do que pela capacidade de responder às demandas da contemporaneidade.
A reflexão, o pensamento dialético, a argumentação e a comparação de diferentes possibilidades para o encaminhamento de soluções criativas e inovadoras só é possível quando fomentamos e estimulamos a participação efetiva dos muitos participantes de uma sociedade.
As unanimidades não são só burras (como dizia o grande escritor brasileiro Nelson Rodrigues), mas também pouco funcionais para a dinâmica e a velocidade das transformações que estamos vivendo. É preciso criticar comportamentos estabelecidos e criar possibilidades originais para os novos problemas, que insistem em surgir com uma frequência cada vez maior.
Tempo de acolher as diferenças
Nos aspectos microssociais, empresas, escolas ou outras instituições não podem sobreviver às transformações atuais se não se abrirem a diferentes formas de ver o mundo. O olhar feminino, a cultura negra, as reivindicações dos movimentos LGBTI ou qualquer outro movimento indentitário, ideológico ou setorial deve ser considerado como contribuinte essencial na construção da cultura institucional, seja para a elaboração de seus propósitos, seja para elaboração de bens e serviços assertivos para seus usuários.
As minorias não devem se curvar às maiorias. Devem cooperar para o aperfeiçoamento das instituições, para o estimulo à criatividade e para as possibilidades inovadoras tributárias dessa integração. Qualquer empreendimento contemporâneo será bem melhor sucedido se estiver aberto à realidade diversa e complexa de nosso mundo.
Políticas afirmativas devem ser consideradas não apenas pelo seu imperativo ético e de dívidas históricas, mas também como elementos para o enriquecimento das relações sociais, reflexões comunitárias e melhorias institucionais.
Para a sobrevivência em um mundo globalizado e globalizante, a formação desse cidadão se dá no cotidiano, no entorno do bairro, na cidade, em um exercício para a convivência com a rica multiculturalidade local e múltiplas experiências sociais.
Um dos pensadores liberais mais importantes, o inglês John Stuart Mill, acreditava que seria a partir da liberdade de diferentes vozes na sociedade que surgiriam as inovações que estimulariam o avanço das sociedades capitalistas livres.
Charles Darwin defendia que as populações, com suas pequenas diferenças (isto é, formadas a partir de variadas linhagens populacionais), eram mais resistentes às mudanças ambientais, e com mais condições de sobreviver e perpetuar sua espécie ao longo do tempo. Todos nós conhecemos a fragilidade de cães de raça pura frente aos famosos vira-latas.
Adam Smith postulava que a economia avança quanto mais empresas atuam em um mercado, com diferentes soluções para problemas similares. Sem as famosas startups, o mundo economicamente rico não teria mantido seu poderio contemporâneo.
Monopólios (cultural, econômico, ideológico) não são bons negócios para a sociedade como um todo. Liberalismo, seleção natural e mercados competitivos são alguns exemplos que corroboram com a necessidade de se estimular a diversidade em uma sociedade, discurso que, como vimos, não é exclusividade de ativistas sociais.
De forma geral, os ativistas clamam para uma diversidade que conduza à equidade e à igualdade social, o desenvolvimento humano e, consequentemente, o crescimento da riqueza de uma nação. Imaginar diferente e estimular a diferença é vital para o avanço da sociedade, seja andando pelo mundo dos socialistas, dos multiculturalistas, dos liberais, dos ativistas e dos muito pelo contrário.
Imaginar um mundo monotemático, dicotômico (azul/rosa, masculino/feminino, direita/esquerda) e arbitrário não contribuirá para o aperfeiçoamento da nossa sociedade. Viva a diferença, viva o arco-íris, viva o vira-lata!
Miguel Thompson é Diretor de Operações do Instituto Singularidades. Licenciado em Biologia pela Universidade Mackenzie, doutor e mestre em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP), Thompson também tem um MBA em Markting pela Fundação Instituto de Administração, da mesma instuição.
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