Todos Pela Educação
18 de julho de 2016 | 17h08
Criar mecanismos para o acompanhamento individualizado dos alunos é a terceira estratégia da meta 2 do Plano Nacional de Educação (PNE) – que busca universalizar o ensino fundamental para toda a população de 6 a 14 anos e garantir que ao menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada – e constitui um desafio em si só considerando que a progressão das aprendizagens ao longo desse período nem sempre está clara para os próprios profissionais de Educação.
Uma experiência da Comunidade Educativa CEDAC com um município parceiro indica que, para além da escala da Prova Brasil, que estabelece a proficiência em leitura adequada para os 5º e 9º anos, as aprendizagens esperadas para cada um dos nove anos que compõem o Ensino Fundamental, tanto em leitura como em escrita, precisa ainda ser estabelecida por muitos sistemas de ensino. A Base Nacional Comum Curricular, ao projetar os objetivos de aprendizagem ano a ano, poderá auxiliar os professores a realizar o trabalho com maior intencionalidade didática e contribuir para a progressão dos seus alunos.
Nesse município, propusemos uma avaliação longitudinal à secretaria de Educação para observarmos a progressão das aprendizagens ao longo dos anos. A intenção desta ação era identificar como os alunos de cada ano estavam em relação à produção escrita e tabular os resultados em três grupos: alunos com dificuldades, na média e avançados.
A proposta foi lançada sem que problematizássemos com a equipe quais competências poderiam ser avaliadas e chamou-nos a atenção que o foco da avaliação tenha ficado apenas em torno dos aspectos notacionais (ortografia, pontuação, base alfabética), sem nenhum critério referente à prática discursiva. Dessa observação, veio a primeira questão: com a expectativa de aprendizagem restrita a essas marcas, quais práticas e intervenções em sala de aula estavam sendo realizadas para assegurar os outros direitos de aprendizagem em relação à linguagem escrita?
Mas o que mais surpreendeu foi a análise dos resultados: as “melhores” produções dos anos iniciais se assemelhavam às produções medianas dos anos finais do Ensino Fundamental – demonstrando que a progressão das aprendizagens esperada com o avanço na escolaridade não estava se concretizando. Alguns textos de 8º e 9º ano, inclusive, eram equivalentes aos bons de 2º ano. Dito de outra forma, alunos de 13, 14 anos demonstraram capacidade de escrita próxima da dos seus colegas de 7 e 8 anos.
Essa experiência em um município que investe sistematicamente em Educação pública e na formação dos seus profissionais nos faz pensar como as redes se articulam em aspectos como planejamento didático, formação de profissionais e uso de materiais, não só entre os segmentos Ensino Fundamental I e II, mas também ano a ano, no sentido de assegurar a continuidade e o avanço de aprendizados, com desafios progressivos para os estudantes.
A dificuldade em estabelecer os aprendizados esperados para cada ano dificulta a tomada de ações que deem conta da heterogeneidade das neces
sidades dos alunos, que passam tanto pelo acompanhamento das turmas como os mecanismos individualizados preconizados na meta 2.
Por Tereza Perez, diretora superintendente da Comunidade Educativa CEDAC
Para saber mais sobre a meta 2, que trata do Ensino Fundamental, e também sobre as metas 5 e 7, que tratam da Alfabetização e do Aprendizado adequado na idade certa, acesse o Observatório do PNE.
* A Comunidade Educativa CEDAC é uma das 21 organizações parceira do movimento Todos Pela Educação no Observatório do PNE.
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