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De volta para minha escola

Escola Municipal de Campina Grande (PB) aposta na busca ativa para incluir crianças e adolescentes em vulnerabilidade social

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Por Todos Pela Educação
Atualização:

 Foto: Unsplash

Por Lázaro Campos Junior, do Todos Pela Educação

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Para milhares de meninos e meninas, o ano letivo ainda não começou - e nem vai. Eles fazem parte dos 2,5 milhões de crianças e adolescentes entre 4 a 17 que estão fora da escola, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2015. Para reverter esse cenário, o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece a estratégia de Busca Ativa Escolar em todos os níveis da Educação Pública Básica, que consiste em enviar agentes às casas dessas crianças e jovens pra encorajá-los a voltar aos estudos. No entanto, o desafio para a efetivação desse tipo de ação é que grande parte dessa população está em situação de vulnerabilidade social. De acordo com cálculo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 86% daqueles que estão fora da escola têm uma família com renda mensal per capita de no máximo 1 salário mínimo.

 

Incluir e acolher

Fruto de uma parceria entre a Unicef, o Instituto Tim, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas), um projeto de busca ativa ocorre na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria das Vitórias Pires Uchôa Queiróz, em Campina Grande, Paraíba. Para Ana Maria Pereira da Silva, diretora da instituição, reconquistar as crianças para a escola é uma questão de assegurar oportunidades de vida. "Fora da escola, a criança deixa de aprender e, infelizmente, ao se afastar, ela pode rumar para caminhos como o da criminalidade", afirma.

As histórias dos estudantes da unidade de ensino se misturam à do lixão no entorno da comunidade. A desativação do espaço, fonte de renda de muitos pais, gerou grande evasão e constante rotatividade dos alunos, como explica Adriana Batista, integrante da equipe de assistência social da escola. A política de busca ativa veio para reverter esse cenário.

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Em 2016, o município passou a testar o software Busca Ativa Escolar. Desenvolvido pela Unicef, o dispositivo recebe alertas de crianças fora da escola. Assim, agentes de assistência social visitam as famílias identificadas para realizar um trabalho de conscientização. "Nosso foco é o aluno. O trabalho é para que ele seja matriculado, permaneça e progrida nos estudos", explica Adriana.

Para Glaziela Marques, que estudou a inclusão de crianças e jovens vulneráveis em seu mestrado e hoje atua como secretária de assistência social no município de São Carlos (SP), incluir não basta, pois o aluno também deve ser compreendido. "Algo que não deve jamais acontecer é o estudante que retorna à escola ser rebaixado. Esse aluno (a) precisa ser tratado como quem está recomeçando e receber tanto suporte acadêmico para ajudá-lo a superar as defasagens de aprendizagem, quanto das ações voltadas a cultura e esporte, que vão ajudar na permanência", diz.

A diretora Ana Maria explica que depois de ser integrada à Escola Maria das Vitórias, a criança é incluída no programa Mais Educação (programa de Educação Integral que oferta atividades extracurriculares) e tem o aprendizado acompanhado de perto. Ela conta que um dos casos enfrentados pela unidade foi o de um aluno com paralisia cerebral. "O Busca Ativa foi importante para trazê-lo de volta. Hoje, junto de um profissional especializado, ele consegue acompanhar as aulas e fazer suas atividades. Essa foi uma feliz surpresa para toda a escola", afirma.

 

Laços fortes

Apesar dos casos positivos, o sucesso de medidas como essa não é garantido. "Entre a população que evade há casos de entrada precoce na criminalidade. Diante disso, a relação com a escola é frágil e manter o interesse deles é o maior desafio, ainda que haja neles um desejo de estar no ambiente escolar. É necessário construir um relacionamento forte entre a escola e a comunidade para que a Educação vença", explica Glaziela.

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Na realidade da escola de Ana Maria, a vulnerabilidade também é um obstáculo aos resultados a longo prazo. Ela cita o caso de uma criança que perdeu o pai, único responsável, e que, por isso, não foi matriculada em 2018. Em casos como esses, que fogem da capacidade da atuação escolar, o Conselho Tutelar deve ser acionado.

Todas as profissionais insistem na importância de acompanhamento contínuo da situação. Ana Maria destaca alguns pontos essenciais: acompanhamento da frequência nas aulas e visitas às famílias pelos profissionais especializados quando a ausência constante é identificada. Já Adriana explica que a Educação sozinha não consegue dar conta do gigante que arrasta as crianças e jovens para longe da sala de aula. Ela ressalta a importância da integração com o sistema de saúde, que pode utilizar seus dados para monitorar os alunos mais de perto. Para ela, o Busca Ativa tem sido positivo e deve ser expandido. "A situação da Escola Maria das Vitórias não é diferente de muitas outras no Brasil. É um dever nosso assistir às crianças, pois a Educação é um direito delas", afirma.

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