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Saiba o que a Educação Básica Pública tem a ver com sua vida

Atraso escolar: como garantir a aprendizagem de todos?

Conhecimento adequado na idade certa é um dos grandes desafios da Educação Básica no Brasil

Por Todos Pela Educação
Atualização:

 

Foto Jõao Bittar/ MEC  

Por Denise Crescêncio, do Todos Pela Educação

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Marta Loffi é professora há 30 anos, sendo 18 deles na rede municipal de Sorriso (MT). Atuando em classes de aceleração de aprendizagem entre 2015 e 2016, no Ensino Fundamental I, ela enfrentou novos desafios ao ter, pela primeira vez, a experiência de trabalhar com correção de fluxo escolar, cujo um dos objetivos é mudar a ideia de que todos aprendem ao mesmo tempo e da mesma maneira. "Acreditar nessa proposta representa um grande desafio e o maior deles é deparar-se com crianças em níveis de aprendizagem diferentes, ainda no início do processo de alfabetização", afirma ela.

A defasagem idade-série, ou distorção do fluxo escolar, é a situação de estudantes matriculados que apresentam dois anos ou mais de atraso escolar. Um levantamento realizado pelo Todos Pela Educação mostra que, em 2015, o índice de alunos do Ensino Médio público em situação de defasagem era de 30,4 %, enquanto no Ensino Fundamental, a taxa era de 21,9%.

É importante observar, aponta Loffi, que os alunos que frequentam as classes de correção da defasagem idade-série apresentam distintos contextos familiares, e motivá-los é uma das metas de programas voltados à aceleração de aprendizagem.

"É preciso acreditar que os alunos são capazes de aprender, esquecendo os rótulos que trazem arraigadosa um histórico de repetências e fracassos", frisa a professora.

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Ela acredita que a direção escolar e a família devem estar envolvidos no processo da aprendizagem. "É preciso recuperar a autoestima desse estudante que já repetiu o ano letivo e fazer com que ele se sinta parte integrante e atuante do seu crescimento escolar. Além disso, o professor deve estar atento, poisnão é possível usar a mesma metodologia para todos os estudantes: a dinâmica ou a técnica de hoje pode não dar certo amanhã", completa.

Para solucionar esse déficit no quadro do ensino brasileiro, o atual Plano Nacional de Educação (PNE) tem como 7ª meta garantir o aprendizado adequado na idade certa. A tarefa, no entanto, não será fácil. Embora existam programas educacionais com o intuito de equiparar essa parcela de alunos a outros de mesma idade em termos de aprendizagem, o tema ainda representa um grande desafio para a Educação Básica no País.

Por trás dos dados escondem-se entraves diversos que levam os estudantes às situações que culminam na distorção do fluxo escolar. Os principais são:

 

 

Aceleração de aprendizagem

Em 1995, o Brasil tinha cerca de 44% de alunos da rede pública no Ensino Fundamental com dois anos de atraso na escolaridade. Para dar conta desse quadro, foi instituído pelo Ministério da Educação (MEC), à época, o Programa Aceleração de Aprendizagem, que existe até hoje.O projeto foi inspirado no "Programa Escolas Aceleradas", criado na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Quando o MEC implementou o programa no Brasil, ele oferecia recursos para estados e municípios mas, no final da década de 1990, os recursos federais foram cancelados pela pasta. Hoje, a iniciativa passou a ser financiada pelos próprios entes federados, ocasionando a diminuição do programa em algumas redes, já que muitas não têm como arcar com os custos.

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Conveniado ao programa, o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) desenvolve ações para a correção da defasagem idade-série de alunos multirrepetentes do 2º ao 4º ano do Ensino Fundamental, disponibilizando material didático-pedagógico a professores e alunos, com o objetivo de barrar ciclos de reprovação e exclusão escolar. Dados do Censo Escolar apontam que, em 2015, as maiores concentrações de distorção do fluxo escolar foram no 6º ano do Ensino Fundamental, com 32,5%; no 7º ano, com 32,8%, e no 1º ano do Ensino Médio, com 34,4%.

Maria Amábile Mansutti, coordenadora técnica do Cenpec, explica que o programa de correção do fluxo escolar, realizado pela entidade, segue o modelo de classes de aceleração.

"O objetivo é o êxito do estudante na aprendizagem e um novo papel do professor como mentor da ação pedagógica", aponta ela.

"A metodologia aplicada é muito dinâmica, diferente da habitual das classes regulares, pois o cerne do projeto não é apenas corrigir o fluxo, mas garantir a aprendizagem", completa.

Formação docente

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Em parceria com o Cenpec, a Secretaria Municipal de Sorriso (MT) desenvolveu o projeto nas escolas do município em2015. A técnica da Secretaria Municipal de Educação de Sorriso (MT), Clarice Vieira Dantas, aprimorou na cidade a experiênciada correção do fluxo trazida do Estado do Paraná, onde desempenhou o projeto por mais de dez anos. Neste ano, não foi possível dar continuidade ao programa devido ao encerramento do termo de cooperação com a fundação apoiadorae a troca de equipe da Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

Ela pondera a necessidade de se abordar mais amplamente o assunto durante a formação inicial docente. Para ela, a questão é tratada de modo superficial e o resultado é que os professores só se deparam com o assunto ao entrar na sala de aula, frente a alunos cujas trajetórias de reprovação se acumulam. "Encarar e combater o fracasso escolar dos alunos da rede pública passa por equipar o professor, durante os anos de formação, para as possibilidades de aprendizagem e de progressão dos alunos, bem como propor a articulação de políticas públicas que os reintegre no ensino regular"afirma Clarice.

A abordagem do tema durante a formação inicial dá ao educador a oportunidade de refletir teoricamente sobre a realidade da sala de aula e de identificar a metodologia adequada a ser aplicada para cada aluno. "A correção do fluxo precisa ser diferenciada e planejada, pautada em práticas de ensino adequadas às condições de aprendizagem de cada aluno com distorção idade-ano", afirma Dantas.

 

Confira na íntegra as entrevistas das especialistas sobre aceleração da aprendizagem:

Maria Amábile Mansutti

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Clarice Vieira Dantas

Marta Loffi

 

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