Todos Pela Educação
22 de novembro de 2017 | 10h40
Aluno fotografado em projeto “Eu sou uma obra de arte: etnias do mundo”/ Crédito: Laétte Neto
O projeto fotográfico “Eu sou uma obra de arte: etnias do mundo” realizado em 2014 por Jayse Antonio da Silva Ferreira, em Itambé (PE), foi a forma que o professor de artes encontrou para trabalhar a autoestima dos alunos e promover a diversidade. Com a proposta, o educador recebeu o Prêmio Professores do Brasil 2014.
Por Denise Crescêncio, do Todos Pela Educação
Apesar de os negros representarem 54% da população brasileira, a desigualdade entre eles e os brancos em diversas esferas da vida social ainda é grande, a começar pela trajetória escolar. Sabendo da importância da Educação para equiparar essa discrepância e promover a diversidade cultural nas salas de aula, o Blog entrevistou a especialista em Educação e relações étnico-raciais Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Na semana da Consciência Negra, ela deu algumas recomendações de como os professores podem trabalhar a diversidade cultural na sala de aula, valorizando a identidade negra – ação presente na Estratégia 7.25 do Plano Nacional de Educação (PNE). Veja:
1.Autoestima
As crianças, os adolescentes e os jovens precisam de bons exemplos. É preciso buscar na comunidade em que se situa a escola, no município, no estado, no Brasil e também no exterior exemplos de pessoas negras que empreenderam lutas de combate ao racismo e fortalecimento da população negra. Segundo Petronilha, casos de negros e negras que venceram as barreiras cruéis dos preconceitos e se formaram, por exemplo, escritores, historiadores, filósofos, engenheiros, médicos e professores, também são inspiradores. A exposição permanente do Museu Afro-Brasil, em São Paulo (SP), por exemplo, composta por instrumentos e técnicas criadas pelos escravos no século retrasado, retrata a tecnologia feita pelos negros. Outra alternativa, segundo a especialista, é mostrar, por meio da literatura e da história, a crueldade da escravidão, mas sobretudo ressaltando a capacidade de sobreviver e de se organizar que tiveram os negros escravizados. Entre muitos autores brasileiros, ela sugere abordar, por exemplo, a obra “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves; já entre oriundos de outros países a obra “Pele Negra, Máscaras Brancas”, de Frantz Fanon.
2.Protagonismo
Para mostrar o papel importante da juventude negra na história também é preciso destacar pessoas que desde a juventude lutaram, por exemplo, pela libertação de escravizados e pela afirmação da identidade dos negros, entre outros. Petronilha cita alguns exemplos nacionais e internacionais:
Brasil: Luiz Gama, Cruz e Souza, Carolina Maria de Jesus, Antonieta de Barros, Luiza Bairros, Oliveira Silveira, Ubiratan Castro, Jonatas Conceição, Nilo Feijó, Tereza Santos, Abdias do Nascimento, Ruth Souza, Conceição Evaristo, Rachel de Oliveira, Jeruse Romão, Maria de Lourdes Siqueira, Carlos Benedito Rodrigues da Silva, Kabengele Munanga, Nei Lopes, Carlos Moore e Marcelo Paixão, entre outros.
Mundo: Toussaint lÒuverture, Steve Biko, Nelson Mandela, Frantz Fanon, NKruma, Amilcar Cabral, Martin Luther King, Rainha Zinga, Rosa Parker, Graça Machel, Cristiane Taubira, Joyce Elaine King, Angela Daves, Wole Soyinka, Danny Glover e Boubacar Barry, entre outros.
3.Combater o racismo
Há muitas experiências exitosas de professoras e professores que estão sendo divulgadas nesse sentido, segundo Petronilha. Um exemplo é o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), que promove anualmente um concurso com o objetivo de destacar experiências pedagógicas exitosas na promoção da igualdade. Outros meios são contato com entidades do Movimento Negro, Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e entidades de luta de professores.
Exemplos de autores com projetos bem-sucedidos: Luiz Alberto Gonçalves Ana, Célia da Silva, Consuelo das Dores Silva, Nilma Lino Gomes,Ivan Lima, Evaldo Ribeiro, Valéria Algarve, Aparecida Italiano, Tatiane Cosentino Rodrigues, Rosana Túbero, Regina Conceição, Maria Conceição Fontoura, Patrícia Santana, Jeruse Romão, Joana Passos, Erivelto Souza, Ione Jovino, Paulo Sérgio Andrade, Paulo Vinicius Silva
4.Trabalhar a cultura africana
Antes de mais nada, de acordo com Petronilha, os professores e professoras devem conhecer em detalhes a Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica. O parecer CNE/CP 3/2004, presente na lei, aponta princípios para orientar ações pedagógicas e sugere questões que podem ser abordadas. Cabe também buscar sugestões junto a professores que vêm desenvolvendo atividades bem-sucedidas (como os citados anteriormente) e tentar um diálogo com cursos que visam a formação docente com ênfase em relações étnico-raciais. Ainda conforme o parecer, as práticas devem estar alinhadas aos seguintes princípios:
Sobre a especialista:
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva tem experiência em ensino, pesquisa e extensão em Educação e relações étnico-raciais; práticas sociais e processos educativos; políticas curriculares e direitos humanos. É Professora Emérita da Universidade Federal de São Carlos. Acesse: currículo lattes
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